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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Bela Dama e o Pássaro

A Bela Dama passava os seus dias sem nada que a entusiasmasse. Era uma Bela Dama igual a tantas outras belas damas que passavam os seus dias sempre iguais, numa cansativa monotonia.
A Bela Dama sonhava um dia conseguir fazer que os seus dias se abrissem de novo ao Dia, tão diferente dos outros dias pequenos e insignificantes.
O Pássaro passava os seus dias empoleirado no ramo de uma árvore, fazendo dela o seu Mundo.
Era um mundo pequeno, mas aconchegante, tranquilo e acolhedor. Mas o Pássaro sentia que havia outros mundos para descobrir, outros mundos que o aguardavam, tivesse ele coragem para levantar vôo.
Certo dia, desses pequeninos e insignificantes, que se repetem numa teimosa sucessão do tempo, a Bela Dama reparou na frondosa árvore que se erguia mesmo em frente a seus olhos. Olhou, num olhar atento, e reparou num pequeno pássaro que, pousado num dos seus ramos, chilreava, tristemente, melodias repletas de dor, saudade e desesperança, como se o seu chilrear fosse um grito de revolta, um grito de anseio, uma procura do que ainda não encontrara, mas sabia existir, pressentia estar tão perto.
O Pássaro, saltitando de ramo em ramo, foi pousar no mais alto da árvore e reparou na Bela Dama, no seu olhar meigo, triste, nos seus modos graciosos e sentiu uma alegria crescente, inebriante a invadi-lo, como se de repente, todas as minúsculas folhas do seu refúgio, desabrochassem, enfeitando os braços esguios e rugosos da frondosa árvore.
À Bela Dama, não foi indiferente a reacção do Pássaro. Ao Pássaro, o enlevo do olhar, com que a Bela Dama o envolveu, desde logo fez nascer nele o sonho de voar bem alto, de atingir limites nunca antes alcançados.
Desde então, a Bela Dama e o Pássaro, numa cumplicidade não falada, mas pressentida, roubavam ao Tempo minúsculos fragmentos que transformavam em momentos de partilha, deslumbramento, momentos mágicos, únicos que lhes permitiam acreditar, sonhar…
A Bela Dama mostrara ao Pássaro que podia, sem medos, aventurar-se em novos desafios feitos coragem, sem limites, sem fronteiras, bastava acreditar nas suas capacidades, no seu querer, bastava fazer acontecer e voar bem alto!
O Pássaro ensinara à Bela Dama que os seus dias se podiam abrir ao Dia.
E desde então, a Bela Dama e o Pássaro, cada qual no seu pequeno mundo, partilhavam um pouco de si, numa dádiva ao outro, que lhes permitiam viver o Dia e o Voar bem alto.