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terça-feira, 28 de outubro de 2014

Coisas que não há que há


Uma coisa que me põe triste
é que não exista o que não existe.
(Se é que não existe, e isto é que existe!)
Há tantas coisas bonitas que não há:
coisas que não há, gente que não há,
bichos que já houve e já não há,
livros por ler, coisas por ver,
feitos desfeitos, outros feitos por fazer,
pessoas tão boas ainda por nascer
e outras que morreram há tanto tempo!
Tantas lembranças de que não me lembro,
lugares que não sei, invenções que não invento,
gente de vidro e de vento, países por achar,
paisagens, plantas, jardins de ar,
tudo o que eu nem posso imaginar
porque se o imaginasse já existia
embora num lugar onde só eu ia...


                                                 Manuel António Pina.











 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Plenitude


Este estado de tempo assim: chuvoso, cinzento e escuro, entristece e melancoliza o dia e a nostalgia em mim.
Em dias como este, taciturno e acabrunhado, a recordação de todos os que marcaram o nosso percurso de vida aviva-se, invade-nos num crescendo de saudade.
Partiram, mas deles ficaram muito mais que as lembranças, talvez o maior dos legados: os valores transmitidos, os ensinamentos ministrados e (por vezes) a arte do silêncio, essa sabedoria milenar!
A memória dos dias que foram impõe-se, ajuda-nos a perceber o legado da nossa existência, os pilares da nossa essência.
Em dias assim, resguardo-me na plenitude das palavras que não escrevo: matizadas de afectos (de nós); ensinamentos (de ti) e imortalizadas em mim.









 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Fragilidade


Hoje acordei cedo (por obrigação, não por escolha) e quando isso acontece o tempo dá para quase tudo. Por isso, decidi sentar-me um pouco em frente a este ecrã e escrever.
Sim, despertei para o dia com uma vontade imensa de escrever qualquer coisa, qualquer coisa, qualquer coisa, das muitas que ocorreram desde a última vez que aqui estive (ou pelo menos que me servisse de ponto de partida para a inspiração, já que as ideias são pombas brancas esvoaçando no pensamento, agrilhoadas à liberdade).
A morte é sempre desgostosa e quando surge do nada, sem se anunciar, nem dar indícios, envolve-nos numa imensa tristeza, por vezes até perplexidade. Quando isto acontece, uma força misteriosa e forte leva-nos a parar a agitação distraída em que vivemos e pensamos e reflectimos e lembramos e tantos pensamentos se precipitam…
À medida que os dias passam e distraidamente se estendem em meses e anos, apercebemo-nos de que também mudamos com eles e passamos a perspectivar o que sucede de um outro modo: diferente, talvez mais maturado, menos inflamado, mais pensado, mais crescido.
A aproximação ao divino, a procura mística surgem como um processo natural do desenvolvimento do espírito. Talvez por isso ou também por isso percebemos o quão pequeninos nós somos face à imensidão dos mistérios do universo: ínfimas partículas, muitas vezes à deriva, buscando sentidos, razões, explicações para o que não entendemos, para o que não controlamos, para o mistério que também somos e a que pertencemos.
Nesta busca pessoal, única e individual, a vida apresenta-se-nos como uma viagem de muitas etapas, alguns obstáculos e inúmeras aprendizagens num percurso de aperfeiçoamento e melhoria, de crescimento espiritual, de libertação (qual dama fugidia e indomável que nos envolve em volúpias sensações) do que éramos para o que podemos ser, do que queremos e (talvez mais importante) do que, de todo, dispensamos, onde o erro é terapêutico porque impele à mudança, quando este ganha consciência em nós.
Hoje, sem dúvida, brotou em mim uma vontade imensa de me (des?) escrever em palavras:
       afloradas de emoção,
                               perfumadas de afecto,
                                                esculpidas na recôndita fragilidade de mim.










sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Competitividade ou falta dela


A noção de que uma das causas do nosso atraso face a outros países europeus passa pela falta de competitividade das nossas empresas, é uma realidade. Se dúvidas houvesse, o caso que passo a relatar não só as comprova como as dissipa.
Aquando da minha deslocação à capital, por altura das férias, adquiri, numa das muitas farmácias lisboetas, um determinado produto que, entretanto, terminou. Mais tarde, descobri que a marca oferecia um outro produto mais apropriado à minha idade.
Porque o primeiro se revelara excelente, decidi, já em Coimbra, comprar uma outra embalagem. Dirigi-me à farmácia habitual, não havia nem conheciam. Ficaram com os dados necessários para contactarem o fornecedor e darem-me uma resposta. Até aqui nada de muito estranho. Passou-se um dia, passaram-se dois e ao terceiro, na ausência de notícias, dirigi-me ao estabelecimento, pensando que se tivessem esquecido do assunto. Pelo contrário, estavam fartos de tentar comunicar com a empresa responsável pela distribuição do produto, tarefa quase hercúlea já que começaram por não atender, depois a secção comercial fechava as 15 horas, a seguir não havia aquele específico, só estava comercializado em Espanha e noutros países da Europa, mas podiam enviar um igual ao que encontrara em Lisboa. Quando perguntei o preço, descobri que a periferia paga-se: custava mais 10 euros do que dera pelo primeiro. Como é possível? Descontente com os contornos da situação, resolvi pesquisar na Net. Qual não foi o meu espanto quando, mal entrei na página indicada, fui abordada, simpática e prontamente por um operador da farmácia online que me ajudou nos trâmites necessários para adquirir o dito cujo.
Este estabelecimento virtual encontra-se sediado em Leon, fui atendida num castelhano completamente perceptível, por um profissional dinâmico e competente, espelho da modernidade da empresa, virada para os desafios do presente e vinte e quatro horas depois – pasme-se! – o produto, que veio de Espanha, estava nas minhas mãos por menos 30 euros que o solicitado, aqui,  em terras lusas pelo tal fornecedor.
Ainda agora me custa a acreditar que isto aconteceu!
Muitas das nossas empresas continuam a funcionar subordinadas a modelos sociais ultrapassados e geridas por profissionais aprisionados no tempo, com uma mentalidade pequena, cujo objectivo único parece ser apenas o lucro.
Se as mudanças não ocorrerem, dificilmente conseguiremos competir com os outros e ocuparemos, sempre, a cauda da Europa.
(Já agora: de Espanha, afinal, pode até nem vir bom vento nem bom casamento, mas competência, celeridade, simpatia no atendimento, ai isso afianço-vos que vem!)