O assunto do post anterior fundamentou-se na recordação, feita saudade ,de alguém que me é muito querido e que já há alguns anos partiu para uma outra etapa da vida que nos é inacessível, enquanto simples mortais. Esse alguém é o meu pai. Apesar de já ter morrido fisicamente, continua vivo nas minhas memórias, que faço questão de transmitir a quem não o conheceu pela verbalização das emoções que me percorrem e assim alcance a imortalidade a que tem direito, pelas conquistas que fez em vida
O meu pai foi o melhor pai do mundo. Havia entre nós uma cumplicidade não falada. Não eram precisas palavras, bastavam os olhares e ambos entendíamos o que queríamos dizer um ao outro. O meu pai, o Pááá, como lhe chamava, era um ser humano simples, transmissor de valores que eu hoje faço meus. Sinceridade, veracidade, combatividade, verticalidade, amizade, honra na palavra dada, todos estes valores o meu páaa me transmitiu, através do seu exemplo de vida. Por isso o admiro muito como pai e educador que foi.
Durante toda a minha infância e já adulta, nunca ouvi nem vi o meu pai gritar, alterar-se ou bater para educar os filhos. Bastava uma entoação diferente, um olhar mais incisivo, uma postura corporal e sabía que o tinha desiludido, que o tinha magoado, que fizera asneira e que não esperara isso de mim. E talvez porque transmitisse tudo isto apenas pelo olhar magoado, pelo silêncio ensurdecedor, sem o recurso a qualquer castigo físico, eu sentia-me tão pequenina, tão envergonhada, tão triste por o ter desapontado, por ter feito o que ele não esperava.
A forma que ele adoptava, para me transmitir o seu estado de espírito, era suficiente para me arrepender da asneira que fizera e não repetir o mesmo erro.
Pelo modo como nós nos"vivemos", pelo amor que me deu, pelas vivências intensamente partilhadas, pelos valores herdados, pelo exemplo deixado, pelo carinho que me tinha, pelo seu ar meigo com que me olhava, pela vaidade que sentia na filha que tinha moldado, pelo ser humano que me ajudou a Ser, eu amava-o, eu amo-o e amá-lo-ei até ao fim das minhas memórias de vida.
Recordar o meu "páaa" , escrevendo este post, é a melhor maneira de lhe agradecer o pai que foi.
Ainda hoje, já adulta, quando me sinto triste, desanimada, desiludida com o teatro da vida e os lapsos dos seus actores, é na sua memória que me refugio, é na sua lembrança que busco a força para não desistir, para dar um pouco de cor ao que, na altura me parece tão negro, tão escuro! E volto a ser menina, e volto a refugiar-me no aperto dos seus braços, aninhando-me, como se fosse muito pequenina, com a certeza que esses braços, para me protegerem, fariam tudo o que pudessem.
Relembrar o meu "páaa" é sempre tocar no mais fundo de mim, num crescente turbilhão de emoções.
Relembrar o meu pai é saudade, é um misto de alegria e tristeza: alegria por eu ter tido a sorte de o ter como pai, tristeza por eu já não o ter junto a mim.
Relembrar o meu "páaa" é um acto de contínuo amor.
Da tua Sereia
Desafioos é já por si um desafio lançado em forma de repto: "Andas muito filosófica, tens de criar um blogue!". Porque gosto de desafios, aceitei o desafio e criei este blogue.
Translate
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Imortalidade
Desde sempre defendi a ideia de que as pessoas não morrem, porque acredito nela. O que morre é a parte física do ser.
Não tenho argumentos para apresentar e poder contestar todos os que me dizem que estou enganada, que após a morte nada mais resta, tudo desaparece. Mesmo não tendo argumentos, mesmo não podendo justificar com factos concretos a minha crença, reafirmo que acredito na imortalidade do ser.
Esta afirmação nada tem a ver com aspectos ligados à religião, apesar de esta lhe estar subjacente.
Contudo neste post não pretendo dissertar sobre fé, porque esta não se discute, não se argumenta, não se avalia: ou se tem, ou não se tem!
Todos os seres são imortais, enquanto permanecem na memória viva dos que lhes sucedem. Enquanto houver quem se lembre de nós, quem tenha saudades, quem relembre momentos, acções, quem, apesar de ausentes, nos sinta, nos veja, nos fale na linguagem mais arcaica do mundo, a do pensamento, então não morremos, permanecemos vivos num outro patamar: o da memória viva das pessoas que connosco vivenciaram. Essas pessoas são o baluarte da nossa imortalidade, porque não nos deixam cair no esquecimento, e, através do relato das suas memórias, permitem que continuemos vivos, para além do tempo vivido.
Saibamos em vida, conquistar o direito à Imortalidade.
Subscrever:
Mensagens (Atom)