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segunda-feira, 29 de julho de 2013

O ontem e o hoje


Ainda, no último texto, escrevi, aqui, sobre a zona em que resido: erigida no espaço de uma enorme quinta, situada na zona de campo que confinava com a cidade.
Alguns desses vestígios ainda se mantêm e podem-se encontrar apesar da urbanidade se ter estendido e dominado quase toda a área envolvente.
O casario antigo, quase despercebido por entre as construções que o circundam, testemunha a simplicidade da ancestralidade das suas raízes.
Aqui e ali, pequenas raridades, que perduraram no tempo e reagiram ao avanço do progresso, continuam a sobreviver na cidade grande: a mercearia, uma resistente ao poder das grandes superfícies comerciais que a rodeiam e que, com a crise que se instalou, tem vindo a ganhar cada vez mais clientela pelas facilidades de pagamento que possibilita – o caderno, onde se apontam as despesas que serão pagas no final do mês, voltou a ter significado; a tabacaria – papelaria onde se pode ir a pé, evitando as filas intermináveis e a dificuldade de estacionamento; as três associações recreativas e culturais (Areeiro, Casa Branca e Calhabé) – mais recreativas que culturais - pontos de encontro das gerações mais velhas, nos finais de tarde, à volta de um copo de tinto e de um baralho de cartas.
Outro dia, quando decidi recuperar uma bicicleta que se enchia de pó e teias de aranha num canto da garagem, encontrei, escondida num beco, passatempo do dono de uma daquelas quase tabernas com traços de cafés, uma oficina artesanal, especializada nestes veículos de duas rodas.
Aí, descobri algumas curiosidades sobre "pedaleiras" – fiquei a saber que a minha primeira bicicleta fora uma pasteleira – numa amena conversa de quem se especializou nesta área levado pela curiosidade, pelo gosto e pela paciência.
O procedimento foi simples. A confiança na palavra bastou – vestígios de um tempo passado em que a honra da palavra era prova mais que suficiente.
Passados dois dias, a minha bicicleta estava como nova e ainda recebi, gratuitamente, umas liçõezinhas sobre a nobre arte de pedalar em todo o selim.
Estreei-a ontem, nas minhas primeiras pedaladas deste Verão: voa como um alazão, num movimento suave, levando-me à plenitude da liberdade.