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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A prosia

O mundo da blogosfera é tão vasto e tão diversificado que, dificilmente, se esgotará ou reduzirá quanto à forma e ao conteúdo possíveis.
Há blogues de “todas as cores e feitios”: temáticos, generalistas, intimistas, fruto dos gostos e das competências pessoais dos seus autores.
Nas minhas viagens pela blogosfera, descobri a emergência de uma nova forma de escrita, situada algures entre a prosa e a poesia: a "prosia".
A "prosia" resulta, assim, da mistura destas duas formas. 
O texto "prosético" combina o conteúdo da prosa dando-lhe uma forma de verso, muitas vezes enfeitado de rima – como se a poesia se obrigasse a rimar!
Os seguidores desta nova forma literária são os "prosetas": todos aqueles que buscam uma identidade literária e ainda não definiram bem o seu estilo de escrita.
Definitivamente, é na prosa - a poética - que me encontro.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Tanto por tão pouco

Existem situações tão caricatas que nem lembram ao diabo!
Ultimamente, têm-me acontecido algumas…
Arquivando as facturas, apercebi-me que havia uma da TMN, cujo prazo de pagamento já tinha passado e que, estranhamente, me escapara.
Um pouco baralhada, uma vez que sabia ter as contas em dia, peguei na folha e qual não é o meu espanto quando verifico que a mesma se referia a uma importância de 5 cêntimos. Prontamente, dirigi-me a uma caixa multibanco para efectuar o pagamento - pensava eu - . Como se tratava de uma quantia tão irrisória, o sistema não permitiu a operação. Assim, tive de me dirigir a um dos balcões existentes, onde aguardei quase uma hora até ser atendida.
Uma vez que sou cliente da TMN e o meu tarifário implica o envio de uma factura, todos os meses, para casa, não seria mais lógico e económico contabilizar os 5 cêntimos no valor da factura seguinte, como procedem outras empresas? Resolvia-se o problema, os custos para a TMN eram menores e o cliente não se via obrigado a tantas andanças por tão pouco.
É tudo uma questão de bom senso e preservação da imagem junto do público.  

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Briosa

Já há muito tempo que não assistia um jogo de futebol ao vivo.
Hoje, fui torcer pela minha outra equipa, juntar a minha voz à da Academia, num uníssono Briooooooooosaaaaaaaaaaaaa. Parece que resultou, pois os vermelhos não foram para além de um empate a 0.
Contrariamente ao que se pensaria - a Académica vinha de uma derrota franca - a equipa de Pedro Emanuel conseguiu segurar o resultado, atrapalhar o Benfica na caminhada rumo ao título e ajudar o Porto a recuperar.
Perfeito!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Em forma de sussurro

Chegar a sexta-feira e perspectivar dois dias de lazer, sabe tão bem! Principalmente, se acompanhados por este sol magnífico e temperados com este calor temporão.
Até parece que o tempo meteorológico se solidarizou com a nossa situação de crise!
O lazer e a crise - escrevia eu – e, de repente, ainda mal acabara a frase, a ideia surgia, em forma de palavra escrita, muito sussurrantemente “a continuar-se assim, ainda voltamos a trabalhar todos ao sábado.”
Na esperança de não ter sido ouvida, saúdo o fim-de-semana que hoje começa, com cheirinho estival.



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O problema

O café pastelaria da minha urbanização, recentemente, empregou uma jovem para o serviço de balcão, em contacto directo com o cliente.
Quando, hoje, lá fui comprar o pão, foi ela que me atendeu com toda a prontidão.
O problema surgiu quando lhe entreguei uma nota de dez euros para pagar a despesa de um euro e doze cêntimos.
Confusamente, mexia e remexia nas moedas da caixa registadora sem atinar com o troco a devolver: moeda para aqui, moeda para ali, num tilintar nervoso e constrangedor que a baralhava cada vez mais, enquanto o rubor envergonhado lhe tomava a face.
A certa altura, como não conseguia efectuar a simples conta de subtrair, valeu-lhe – pensava ela – a calculadora do telemóvel. Mas, também aqui, o resultado esperava por aparecer - as máquinas não funcionam sozinhas, há que saber introduzir-lhes os dados.
No meio de tanta atrapalhação, salvou-a o dono do estabelecimento que, com toda a paciência e os conhecimentos adquiridos numa antiga quarta classe, lhe explicou, moeda a moeda, o valor que ia de 1 euro e doze cêntimos a 10 euros.
Enquanto assistia a tudo isto e esperava pelo troco, pensava:” Como é possível um jovem que teve, pelo menos, 9 anos de escolaridade obrigatória, não conseguir efectuar uma simples conta de subtrair? Como foi possível ter-se chegado a este estado?”
Urge reflectir-se! 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Aquela casa

A casa espraiava-se para os lados. 
Era uma casa soberba e colonial, enorme e belíssima. Debruçada sobre uma magnífica escadaria, que partia do enorme jardim que a circundava, destacava-se pela sua grandiosidade.
Era uma casa principesca, de traçado nobre, altiva. Repleta de espaços largos, a arquitectura privilegiara-a.
O seu interior, dividido em inúmeras divisões, amplas, rasgadas por janelas colossais, por onde entrava a luz natural, mal surgiam os primeiros raios de sol, tornavam-na clara e alegre. Mas era o jardim que fazia as delícias da pequenada.
No dia em que se mudaram, ainda mal se tinham acomodado e já a criançada corria e percorria aquele espaço, explorando cada recanto, desbravando as incógnitas do terreno, libertando a imaginação aguçada pela novidade, vendo-se a viver tantas aventuras por entre o capim, as mangueiras e as papaeiras seculares, sarapintadas de apetitosos e suculentos frutos alaranjados que, tantas e tantas vezes, os saciara.
Ladeando o edifício, avistava-se um caramanchão meio escondido pelo lilás arroxeado de uma magnífica buganvília que trepava, livremente, atapetando-o. O aroma que se desprendia das suas pétalas viçosas impregnava o ar, com um perfume adocicado e estonteante.
O tempo corria célere, naquela casa povoada pela fantasia dos mais novos. Sem se aperceberem da sua passagem, chegara a hora da despedida.
A criançada partiu e com ela os sons alegres e prazenteiros dos risos, das gargalhadas, das brincadeiras próprias de uma idade de pureza. A casa ficou silenciosa e vazia.
Os anos passaram. Da casa, talvez restem apenas as ruínas, testemunho do esplendor de outrora.
Na memória intacta das crianças, agora adultos, a casa permanece radiante e acolhedora, como sempre fora.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Nas asas do vento

Hoje, decidi saborear o dia lindo e solarengo. Empoleirei-me nas asas do vento e deixei-me flutuar ao sabor da brisa suave que se libertava por entre o verde da paisagem, enfeitada de risos e cores.
Hoje, enquanto pedalava por entre os espaços verdes da minha cidade, lembrei-me da cena em que Meg Rayn, personagem principal do filme “A Cidade dos Anjos”, desliza, livremente, numa estrada ladeada de frondosas árvores, sob as carícias de um sol quente, em comunhão total com a grandiosidade da Natureza.
De encontro ao vento que me afagava, saboreando a tranquilidade e a paz de um dia soalheiro e risonho, senti o prazer da liberdade, o gostinho da plenitude, a sensação de perfeição, o esboço do divino.
Hoje, galopando no corcel do vento, reencontrei o sabor genuíno da liberdade!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Era uma vez

Quieta, absorta nos pensamentos que a tomavam, Maria recuava ao passado e relembrava a monotonia daqueles dias sempre iguais em que a sua vida se tornara.
 De memória em memória, perdia-se no silêncio lato do tempo e revia-o, outra e outra vez como se fora a primeira: devagar, aproximava-se, num movimento cadenciado, equilibrando-se no medo da verdade do momento, na surpresa da aceitação. 
Finalmente, conheciam-se sem barreiras, sem obstáculos, surpreendentemente, viam-se, ouviam-se, sentiam-se, como se saídos de um conto irreal, meros personagens que a vida manietara e, que naquele dia, sem o saberem, reescreviam o mapa traçado na palma das suas mãos, mudando, para sempre, o percurso das suas existências.
Tudo começara com uma necessidade de quebrar o isolamento e o desamor a que o seu destino os conduzira.
Hoje, ela, mulher madura e maturada, reflectia na década de uma união, irremediavelmente, falhada, nos anos passados, lado a lado, para, no fim, apenas o silêncio os unir, num monólogo indecifrável, incompreendido, intraduzível que os levara, por fim, à separação das suas vidas, há muito anunciada.
Ele, cansado da vida sempre igual, tépida de amor, rotineira, enraizada na amizade fraternal que o prendia àquela, que muitos anos atrás pensara ser a paixão que o conduziria ao amor, ousara quebrar as amarras que o prendiam e impediam de voar mais alto, descobrir-se, reinventar-se, renovar-se.
Inicialmente, nada previra o rumo que a suas histórias de vida tomariam.
Ela e ele, meros desconhecidos, separados na distância, com percursos de vida tão distintos, não sabiam que a vida põe e dispõe, livremente, sem se importar ou perguntar o que se quer, ou o que se deseja aos seus protagonistas. 
Os dois buscavam o bem-querer, cada um na procura de alguém a quem amar, amar perdidamente, amar desmesuradamente, amar plenamente, num percurso ávido de dádiva, para então receberem.
Ambos, tragados pela monotonia da existência, quase descrendo da intensidade que a vida é sempre, prestes a desistirem do acreditar, desconheciam que, naquele dia, os seus destinos cruzar-se-iam para sempre e nada seria o mesmo.

(talvez continue)


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O amor

O amor que neste dia, particularmente, se comemora – como se o amor tivesse um tempo marcado para ser, para acontecer – teria de ser o mote para o texto de hoje.
Sim, o amor, esse sentimento que ninguém consegue expressar por muitas palavras que se derramem por ele.
Perguntei aos poetas e aos artistas o que era, afinal, o amor. Responderam-me ambos com versos ou quadros, pinceladas quentes e marcantes, palavras ardentes e profundas, cantando ou pintando o amor.
Surpreendentemente, percebi que o amor é tudo no nada, é um espelho que reflecte a imagem projectada na sua superfície, é a outra parte de nós, é aquilo que damos e construímos, é a coragem e a esperança, a vontade e a determinação, a não desistência e a certeza, a paciência e a aceitação da imperfeição, elevada, perdoada, compreendida.
Perguntei-te o que era o amor. Respondeste-me em gestos e acções, determinação e vontade. Mostraste-me que o amor é mais que belas palavras desenhadas pela pena do poeta.
Sussurraste-me: O amor, somos nós!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Mais do mesmo

Sempre considerei o actual modelo de gestão das escolas muito pouco democrático.
Recordo com saudade os antigos Conselhos Executivos ou Conselhos Directivos eleitos pelos principais intervenientes na vida da escola: professores, funcionários, um representante dos encarregados de educação por turma e, no ensino secundário, um representante dos alunos, também por turma.
O modelo podia não ser perfeito, mas pelo menos resultava da vontade de uma maioria, obtida pelo método mais simples: uma pessoa, uma escolha, um voto. Era sem dúvida um modelo mais convergente e consensual que o vigente.
Tudo isto num tempo em que a política ainda não tinha invadido as escolas.
A decisão do Ministério em propor uma alteração ao decreto-lei que define o Regime de Autonomia, Administração e Gestão Escolar, de modo a retirar poderes ao director, vem de encontro ao sentir da maioria dos professores e funcionários e dar razão a todos os que preconizavam defeitos e falhas nesta forma de gestão e organização escolar. 
Agora que o Ministério acordou em fazer alterações, há que ter a coragem em mudar o que já se constatou estar menos certo.
O papel dos sindicatos, nas negociações, vai ser muito importante, pois só eles poderão evitar que, apesar das mexidas, fique tudo na mesma, perigo real se se atentar no que foi noticiado na tvi24.

 Adenda: para quem não conhece a realidade, a notícia faz crer que as mudanças resultarão mesmo numa perda de poderes, o que é ilusório, mas esse assunto ficará para um próximo post. 





domingo, 12 de fevereiro de 2012

A voz

Caiu o pano.
Calou-se uma voz, mais uma.
Whitney Houston será recordada como senhora de uma voz maravilhosa, de timbre inconfundível, de uma beleza peculiar. 
Recordemo-la neste hino ao amor.


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Retalhos

Lá bem no alto, a lua, esplendorosa, derrama a sua luminosidade no escuro do céu, enchendo-o de tons prateados que se reflectem e sobressaem.
Cá dentro, vou ouvindo o relato da meia-final entre a minha equipa por adopção, Académica de Coimbra e o Oliveirense, para a Taça de Portugal.
A voz acelerada e frenética do comentador substitui, na perfeição, as imagens que não se vêem.
Entre a beleza da lua e o som da rádio, a lembrança de outras noites, amenas e deliciosas, de outros relatos, de outros luares, de Agosto, silenciosamente belos, admiravelmente únicos, inesquecivelmente meus!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Orogénese

Vivemos um tempo de grandes incertezas, enormes indeterminações, muita turbulência.
O ritmo e a sucessão dos acontecimentos ultrapassam-nos, atarantam-nos, atordoam-nos. 
Como vivemos, o que temos, o que nos rodeia, tremem na fragilidade de um presente, aparentemente, seguro.
Entre o adormecer e o acordar, num piscar de tempo, a incógnita do amanhã.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Dicotomia

Foi com descrédito que assisti às imagens do que se passou no final de um jogo de futebol no Egipto: 73 mortos, um número maior de feridos, muita violência perante a apatia das forças policiais face à pujança da plebe enfurecida.
“Meu Deus” – pensei – “como é possível o ser humano estremar simpatias, ódios, paixões e, em nome delas, agir desregradamente, impunemente, selvaticamente?”
Invadida por uma incómoda sensação, de repente, lembrei-me da Primavera Árabe.
Entre a ditadura pro-ocidental e o fundamentalismo religioso – qual a diferença? – o receio de que a Primavera de uns se venha a tornar o Inverno de outros. Ou antes Inferno?