A ironia da vida juntara-os num acaso do momento.
Passados tantos anos, ainda recorda, com a mesma intensidade de então, o dia em que a conheceu. Naquela fracção de segundos em que as mãos se apertam e os olhares se cruzam, pela primeira vez, sentiu uma doce e suave sensação percorrendo-o, enquanto estremecia por dentro.
Eram dois seres estranhos que cobardemente ousavam viver.
E aquele acaso transformou-se em rotina repetida vezes sem fim.
Ao longo do tempo foram-se construindo no dia-a-dia, num conhecimento partilhado a dois: sedimentou-os a amizade baseada na cumplicidade e na junção dos quereres.
Juntos iam edificando um futuro adiado na esperança do presente.
Eram vidas diferentes, personalidades opostas que a paixão ligara e o amor unira.
Por entre os dias de um tempo com tempo viviam convulsões, emoções, sentires bem despertos.
Os anos voaram e de novo a ironia da vida delineou-lhes o rumo da sua história: Ele, intenso no amor que lhe dedicara, sufocava-a de tanto querer, ela, sentindo-se aprisionada, perdia-se na tristeza da clausura, adormecendo o amor por que tanto lutara!
Partiram, flagelados pela dor que ambos sentiam.
E no momento da despedida ficaram retalhos despedaçados de vidas vividas: intensamente vividas, sofridas, amadas, ousadas, reinventadas em emoções despertas.