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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Os larápios roedores I

Numa destas noites de intenso calor e temperaturas elevadíssimas, o sono sobressaltado, pelo desconforto sufocante do ambiente interior, levou-me a procurar, na janela completamente aberta, um pouco de "frescura" que amenizasse o ar abafado que se instalara.
Ao mesmo tempo que saboreava a brisa suave que fluía, olhava distraidamente para o escuro da paisagem, de mente vazia, apenas deixando que o corpo fosse invadido pela sensação de frescura .
De repente, o meu olhar foi desperto por um movimento rápido e ligeiro, quase imperceptível. Focalizando o local onde detectara a acção, descobri por entre as giestas, quase secas, o recorte de uma figura escura, pequena, mas muito ligeira nos avanços e recuos com que explorava o território. De orelhas sempre espetadas, vigiava, atento aos mínimos sinais que pudessem indiciar a existência de perigo, as movimentações em seu redor. Por entre a vegetação seca e amarelada, corria e parava, à procura de alimento e sempre de orelhitas espetadas, olhando para todos os lados. Sim, era um coelhito bravo, traquina que, numa cumplicidade com a madrugada, lutava pela sua sobrevivência, com o instinto sempre alerta.
Imóvel, sustive a respiração, receando que o mais pequeno ruído provocasse a fuga do solitário roedor (pensava eu).
 Eis que, de súbito, ainda mais célere que o “batedor”, surgiu uma segunda figura, mais pequena, mais nervosa nos movimentos, mas também de orelhas espetadas num vaivém instintivo de quem busca mantimentos. Afinal eram dois coelhos que, na calada da madrugada e encobertos pelo silêncio da noite, procuravam ervas frescas para se refrescarem do calor insuportável que assolara o dia.
(continua)