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terça-feira, 23 de julho de 2013

O novo inquilino


O local onde se construiu a urbanização em que resido fora, outrora, uma enorme quinta nos arrabaldes da cidade.
Pertença de uma abastada e influente família da região sofreu, com o passar das gerações, uma desagregação do seu território.
Da quinta inicial sobrou, lá no topo, o solar antigo, hoje, habitado por um dos inúmeros descendentes que se enraizou.
Aos poucos, a quinta foi sendo vendida para construção. Entre vivendas amplas e arejadas, sobranceira ao núcleo que a viu nascer, surgiu a primeira urbanização, num espaço rodeado de uma frondosa vegetação e muita água que brotava das inúmeras fontes incrustadas no terreno.
A tocar a urbanidade, manteve a sua origem rural que se desvenda na simplicidade das relações que se estabelecem entre os residentes deste espaço. Como se a cidade acolhesse nos seus limites este último reduto de traça campesina.
Quando o silêncio impera e a noite se alteia, a vida, abrigada dos olhares rotineiros, sai do seu esconderijo, desventra-se da terra e apodera-se do seu domínio: coelhos e lebres, salteiam aqui e ali de orelhas em escuta ao mínimo ruído.
Há pouco vim lá de baixo. A noite erguia-se serena e pacata, iluminada por um luar prateado de Agosto temporão. O barulho ritmado da água da fonte que caía imperava no silêncio e fez-me recordar outra fonte, outro lugar, outro tempo.
Com a chegada do Verão, a urbanização acolheu um novo hóspede que se passou a fazer ouvir, marcando a sua presença.
Não sei determinar com rigor a altura precisa em que me apercebi da sua existência. Foi como se tivesse surgido do nada. De um momento para o outro, na sucessão das noites, aquele som impôs-se: croac, croac, croac, numa onomatopeia perfeita.
A rã-sapo - não sei distinguir – atraída pela frescura da água da piscina de uma das vivendas próximas, apropriou-se daquele jardim e, agora, todas as noites, enamora a madrugada, encantando-a com o seu cântico ritualizado e ancestral.