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quarta-feira, 10 de março de 2010

Desânimo

Nos últimos tempos temos sido assolados de notícias que informam de condutas pouco claras por parte de pessoas que, devido aos cargos que ocupam e à influência que estes lhes proporcionam, servem-se do poder para alcançar benefícios que, de outro modo, nunca conseguiriam.
Na internet, são cada vez mais os emails que circulam denunciando pretensas irregularidades, regalias de quem ocupa, por nomeação, altos cargos em empresas estatais, pagamento de pensões exorbitantes a gestores reformados ou chorudas indemnizações por demissão de cargos ocupados, entre muitos outros assuntos que servem de notícia e relacionados com casos da vida social e política do nosso país.
Nunca foi tão notório o cansaço da opinião pública que vê, por um lado os responsáveis políticos, que nos governam, a pedir sacrifícios para o bem do país e por outro, esses mesmos senhores serem alvo de supostas acções e condutas pouco clarificadoras, não se sabendo bem em quem acreditar.
Estas reflexões fizeram-me pensar que, ou a História não tem sido completamente correcta no que nos ensinou, ou os portugueses mudaram muito ao longo destes séculos de existência que Fomos.
Onde está a coragem, o espírito empreendedor que norteou a acção dos nossos primeiros reis? Que aconteceu à força de um povo que, nos momentos cruciais de ruptura, soube enfrentar, com destreza e coragem, os desafios que, à partida, pareciam perdidos? Onde pára a firmeza e a convicção dos que se lançaram ao mar, enfrentando perigos, lutando contra o poder da ignorância e o medo do desconhecido? Que aconteceu a Portugal? Morreu? Desistiu? Entregou-se às mãos dos «inimigos da mesma fé?». Tantos acrifícios, no passado, para um presente enublado, triste, duvidoso?
Só as palavras de um grande homem, que por mero acaso era português, para homenagear um grande país que parece ter-se esquecido da sua grandeza e força na determinação de um povo.

"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

Fernando Pessoa, in Mensagem