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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Não, não é cansaço...


Faz hoje, dia 13 de Junho, 123 anos que nascia, em Lisboa, um dos maiores poetas, escritores e intelectuais portugueses de todos os tempos: Fernando Pessoa.
A genialidade e a facilidade com que verbalizava, através da poesia, estados de alma, e maneira de ser, tornam-no imortal.
E porque não possuo a destreza e a arte de Pessoa, homenageio-o, particularmente hoje, num dos seus heterónimos, Álvaro de Campos, apropriando-me de um poema seu, fazendo minhas as palavras do poeta. 
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...