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sábado, 25 de dezembro de 2010

Espírito de Natal

Era a época natalícia. As lojas espelhavam, nas montras enfeitadas, as variadíssimas hipóteses para as prendas procuradas. Num vaivém apressado, as pessoas percorriam atarefadas os corredores daquele centro comercial de olhar distraído aos pormenores em busca do presente ideal.
Um cântico de Natal entoava pelo ar e aquecia os corações de todos os que por ali cirandavam. Os pormenores foram pensados com toda a minúcia para que o espírito do Natal preenchesse os corações e as mentes de quem por ali passasse, contagiando o ambiente envolvente num enorme abraço de paz e tranquilidade.
Por entre a gente anónima que percorria os corredores carregada de sacos e embrulhos, um rapaz, de aspecto simples e humilde, vagueava ao acaso vendendo, a um preço simbólico, os jornais que transportava. Por entre a gente distraída e despreocupada aquele gaiato, de olhar triste e melancólico, destoava do conjunto: era apenas um menino amadurecido pelas agruras da vida que contemplava avidamente as montras repletas de brinquedos que nunca tivera. O seu olhar perdia-se por entre os artefactos desejados como sonhos idealizados numa fuga à realidade dura e fria que era a vida que tinha.
E nesse momento, nesse instante fugaz, por entre a multidão apressada e distraída, houve alguém que reparou naquele petiz e na tristeza que o seu olhar denunciava ao contemplar o que sabia nunca poder ser seu.
E nesse momento, nesse preciso instante, esse alguém anónimo pensou, numa promessa interior, que um dia, se o acaso o bafejasse, compraria todos os presentes daquela loja, de muitas lojas e distribuiria por todos os meninos de olhar triste e aspecto humilde que na véspera de Natal não tinham uma família para se aconchegarem, não tinham miminhos para receberem; meninos que a vida, precocemente, fizera homens, mas que eram apenas gaiatos ávidos de amor e carinho.
O menino partiu, carregando no olhar o sonho de um brinquedo, negado-lhe pelas injustiças da vida, enquanto as pessoas, indiferentes e ausentes, continuavam apressadas à procura dos presentes ideais para oferecerem, preparando-se para celebrarem o espírito de Natal!