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segunda-feira, 26 de maio de 2014

A (des)união Europeia


O nosso país, por vezes, surpreende até o mais atento observador.
Quem diria que apenas cerca de 3,8% de votos separariam a coligação dos partidos da governação e o principal partido da oposição? Ninguém!
Todos pensávamos que o PSD e o CDS-PP sofreriam uma queda estrondosa, face às políticas económicas e sociais que têm vindo a implementar desde que tomaram o poder. Em contrapartida, supúnhamos que o PS, na segurança do caminho percorrido na oposição, renasceria e faria disparar, em flecha, a percentagem de votos obtidos, para valores há muito inalcançáveis, desde a ascensão de Sócrates.
Grande equívoco!
Os cidadãos deste país baralharam, trocaram as voltas às projecções, às quase certezas de comentadores, de líderes e de candidatos de cada partido.
Afinal quem ganhou? Expressamente, a abstenção, Marinho e Pinto e a CDU, sem qualquer dúvida!
Vitória para o PS? Não me parece.
O que aconteceu, ontem, com o PS, foi, salvo o devido paralelismo, o mesmo que se passou no final da liga Zoon Sagres do ano passado.
Não foi o PS, tal como o Porto, que ganhou o “campeonato”, mas antes o PSD/CDS-PP, tal como o Benfica, que o perdeu. A vitória não se alicerçou em mérito próprio, mas sim no desmérito do adversário.
O que dizer de uma União Europeia (?) tacitamente aceite, mas não sentida, como causa sua, por muitos dos cidadãos dos vários estados-membros? Diria que faltaram os laços de vinculação -o elo afectivo de ligação, o cimento - na construção deste mega projecto, teoricamente perfeito.
A efectiva união europeia só se concretizará quando, no sentir de cada um de nós, a importância do todo se sobrepuser à das partes.
A ascensão das forças eurocépticas, da extrema-direita à ultra-esquerda (Reino Unido, França e Grécia) e a elevadíssima abstenção na Eslováquia (87%) são um indício de que há ainda um longo caminho a trilhar na corporização conjunta do sonho europeu.








segunda-feira, 5 de maio de 2014

Final de tarde e de época


Ontem, no último jogo, da presente época, da equipa da Briosa, no seu estádio, coincidindo com o Dia da Mãe, a direcção da Académica, decidiu (e muito bem, acrescento eu) oferecer bilhetes gratuitos a todos os que pretendessem assistir ao derby contra o Vitória de Guimarães.
Aproveitando a oferta, e já que não o pude fazer com o meu Sporting, fui apoiar a minha 2ª equipa do coração, equipada a preceito: cachecol, óculos escuros, garrafinha de água e companhia (só faltou mesmo a célebre “onda” humana e o bronzeador, já que a orientação da bancada virada a Sul, recebia o Sol de frente, fazendo lembrar um autêntico dia de praia).
Não sei se do cansaço de final de época, se do calor que apertava, se da falta de pernas para aguentar, ou de tudo junto, acabámos por não conseguir soltar o grito totémico de “GOOOOOOLOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!”
Fora isso, foi um final de tarde bem passado, não faltando os treinadores de bancada com as habituais tácticas infalíveis, algumas piadas e apartes da assistência que fizeram sorrir e elevar o espírito.  
No final, o ritual repetiu-se dentro e fora de campo: o agradecimento ao público e à Mancha Negra por parte de todos os jogadores da equipa, do treinador e do presidente, acompanhado de muitas palmas e cachecóis no ar. Um quadro bonito de se ver e muito mais de se sentir. Depois, a procura do frescor apetecido num fino bem geladinho para refrescar a secura da garganta de tanto apoio dado.
Para o ano há mais.









domingo, 4 de maio de 2014

Porque


 Particularmente, hoje, quando assistia à missa dominical, lembrei-me de um tempo em que, todos os domingos à tarde (a maior parte das vezes contrafeita), acompanhava o meu pai à missa.
Naquela altura o “ir à missa” era sentido como uma obrigação não obrigada (parece um contra-senso, mas não o é) e não uma escolha consciente, fruto da vontade alicerçada na compreensão do acto que se praticava. Mas ia por causa do meu pai.
Agora, reflectindo sobre aquele tempo, entendo que não lhe passaria despercebida aquela minha “má vontade” na prática desse ritual semanal e a importância que o mesmo viria a ter no meu crescimento como pessoa, na minha educação espiritual.
Por que me lembrei de tudo isto hoje? Porque foi Domingo, porque a minha filha aceitou ir à missa comigo, porque percebi o seu olhar distraído, os seus gestos vagos, a sua postura corporal (como eu me revi nela) e, acima de tudo, porque fez dezasseis anos que o meu pai nos deixou.
Deixou, mas não morreu, porque as sementes, com que, pacientemente, nos “lavrou”, germinaram, deram frutos e permanecerão.