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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Haja vergonha

Ao redigir este post transporto, para o papel virtual, a imensa perplexidade que sinto face a um conjunto de situações que, aparentemente, nada têm de comum, mas que me obrigam a reflectir e a concluir inevitabilidades sobre o carácter de quem detém e exerce o poder neste país. E isso entristece-me! Revolta-me!
Há já alguns anos que o poder central tem vindo, sucessivamente, a pedir aos portugueses - e com um maior enfoque à função pública - compreensão para um conjunto de medidas que, por causa da crise económica internacional, se viu obrigado a tomar: congelamento de progressão nas carreiras, aumentos abaixo do nível real da inflação, redução do número de pessoal, aumento da idade da reforma, aumento dos impostos, entre outras.
As últimas notícias sobre o estado da economia portuguesa falam do enorme montante da nossa dívida externa, da necessidade urgente de se tomarem medidas que travem a subida do deficit público, da coragem política em o fazerem e da probabilidade de intervenção do FMI para solucionar o grave problema que nos afecta.
No recente mega-agrupamento escolar a que pertenço, o número de auxiliares de acção educativa, no presente ano lectivo, sofreu uma redução significativa, apesar das exigências laborais terem aumentado.
Entretanto, a Câmara Municipal, responsável pela contratação destes funcionários, não renovou o contrato com um, o qual há alguns anos vinha a prestar um excelente serviço ao estabelecimento onde exercia a sua actividade, pois, para além de outras mais-valias, era uma pessoa multifacetada em termos da abrangência, género “chega a tudo”. Por outro lado, alguns dos restantes funcionários, com a abertura do novo Centro Educativo, foram recolocados de modo a suprirem as novas necessidades.
Nos últimos anos tem sido pedido aos portugueses uma enorme dose de compreensão para com: a grave crise económica que nos assola; as medidas que, como sempre, acabam por recair em cima dos mesmos; os despedimentos; a diminuição dos postos de trabalho (por motivos que não se prendem com a falta do mesmo); a não solução e o agravamento do problema não obstante as medidas já tomadas.
Face a este panorama calcule-se o espanto, acompanhado de revolta, ao ouvir, esta manhã, a notícia de que o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, nomeou mais um assessor de imprensa, para o seu gabinete, e que irá trabalhar em parceria com os outros dois já existentes.
Com que autoridade moral pode um ministro pedir contenção, compreensão e anunciar novas medidas, quando o exemplo que dá contraria toda a prática subjacente ao seu discurso?
Haja vergonha!