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domingo, 24 de janeiro de 2010

A Magia da Leitura

A leitura e o prazer de «sentir» o livro,sempre me seduziram, tornando-me prisioneira dos seus signos.
Se há recordações de vida, que ficarão para sempre gravadas nas memórias do meu percurso de vida, serão os dias calmos e palatinos das férias grandes, em que ficava suspensa da leitura de um livro, enquanto, lá fora, na calícula do dia, as horas sucediam-se, numa lentidão preguiçosa, própria da moleza gerada pelos dias quentes desta altura do ano.
Neste exercício de memória, todos os pormenores do passado vêem ao de cima com uma nitidez surpreendente: cada traço, cada gesto, cada rosto, cada situação permanecem em mim como um espelho do passado, no qual as imagens aí reflectidas não se esmoreceram com a patine do tempo.
Na casa de férias, implantada na beleza de uma Natureza generosa, nas pessoas e na paisagem, após o almoço familiar, presidido pela avó, lembro-me que, com um livro na mão, dirigia-me para um dos quartos da ala oeste e deitando-me, em cima da cama, iniciava a minha aventura literária.
No exterior, os sons do campo embalavam a preguiça dos seres. As cigarras cantavam a despique, o ar quente entrava pela fresta da janela, acariciando a face e adormecendo os sentidos para o exterior. Era eu e o livro. Cada palavra, cada frase eram lidas sofregamente. Na minha mente, conseguia imaginar os personagens, os ambientes , as paisagens.
E ali, naquele fim de mundo, de uma aldeia perdida nos confins do espaço, onde a quietude do lugar era bálsamo revigorador para o corpo e, sobretudo, para o espírito, rodeada de verde e de serras, eu vivia aventuras ímpares, conhecia lugares exóticos, tornava-me heroína, aniquilava vilões, viajava com a mente, permanecia com o corpo.
Lá fora, a água da fonte continuava o seu percurso ritmado, brotando em jorros ténues, saciando animais e pessoas que ousassem aventurar-se na tarde tórrida.
Lá dentro, eu continuava a viver o livro, cada bocadinho das folhas preenchidas de letras mágicas que me permitiam ir a locais longínquos sem sair de onde estava, hipnotizada pela magia das palavras,numa envolvência magnífica e majestosa.
Foram dias de felicidade, foram momentos únicos que ficarão para sempre guardados na arca da memória.

Bucólico




retirada de um power point recebido

Resgate

Hoje, foi um daqueles dias em que acordei com uma vontade imensa de concretizar inúmeras tarefas e quando, no final da noite, fiz o balanço do que realmente fora feito, cheguei à conclusão que a quantidade de tarefas terminadas ou mesmo iniciadas, não corresponderam à intensidade da força de vontade.
As horas correram e com elas a azáfama inerente ao trabalho, no confronto entre o compromisso e o merecido descanso do fim-de-semana.
Sempre que me sento, com a intenção de começar a trabalhar e ligo o portátil, com a certeza, pouco convicente,que vou seguir uma linha condutora, sem quaisquer devios, dou comigo a abrir variadissimas páginas, a explorar sites que, por sua vez ,levam a outros sites que se desdobram em links infindáveis, qual autoestrada repleta de vias que se cruzam e descruzam, se emaranham, numa complexa desorganização organizada, que me permitem abrir as janelas do mundo e alargar os horizontes do meu conhecimento.
Iniciada a madrugada, prometo a mim própria que da próxima vez será diferente.
E, confiante pela intenção formulada,fico imóvel, enfeitiçada pelo compasso cadenciado das mornas de Cesária Évora,que me embalam o espírito,enquanto o pensamento voa,idealizando cenários de águas cálidas, areias finas, céu azul, vegetação exuberante. Entrego-me!
E encantada, pelas sensações emanadas do pensamento, resgato o meu espírito,prenho de paz, da alma da música.
Adormeço.