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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Aquela casa

A casa espraiava-se para os lados. 
Era uma casa soberba e colonial, enorme e belíssima. Debruçada sobre uma magnífica escadaria, que partia do enorme jardim que a circundava, destacava-se pela sua grandiosidade.
Era uma casa principesca, de traçado nobre, altiva. Repleta de espaços largos, a arquitectura privilegiara-a.
O seu interior, dividido em inúmeras divisões, amplas, rasgadas por janelas colossais, por onde entrava a luz natural, mal surgiam os primeiros raios de sol, tornavam-na clara e alegre. Mas era o jardim que fazia as delícias da pequenada.
No dia em que se mudaram, ainda mal se tinham acomodado e já a criançada corria e percorria aquele espaço, explorando cada recanto, desbravando as incógnitas do terreno, libertando a imaginação aguçada pela novidade, vendo-se a viver tantas aventuras por entre o capim, as mangueiras e as papaeiras seculares, sarapintadas de apetitosos e suculentos frutos alaranjados que, tantas e tantas vezes, os saciara.
Ladeando o edifício, avistava-se um caramanchão meio escondido pelo lilás arroxeado de uma magnífica buganvília que trepava, livremente, atapetando-o. O aroma que se desprendia das suas pétalas viçosas impregnava o ar, com um perfume adocicado e estonteante.
O tempo corria célere, naquela casa povoada pela fantasia dos mais novos. Sem se aperceberem da sua passagem, chegara a hora da despedida.
A criançada partiu e com ela os sons alegres e prazenteiros dos risos, das gargalhadas, das brincadeiras próprias de uma idade de pureza. A casa ficou silenciosa e vazia.
Os anos passaram. Da casa, talvez restem apenas as ruínas, testemunho do esplendor de outrora.
Na memória intacta das crianças, agora adultos, a casa permanece radiante e acolhedora, como sempre fora.