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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cidade antiga


  A cidade, altiva e contrastante, aninha-se nas margens de um rio de águas calmas e escuras, outrora senhor das gentes e das labutas.  
Por entre o casario antigo de ruas estreitas e sombrias, a urbe abre-se ao presente, convivendo, lado a lado, com as marcas do seu passado.  
Atento à vida que pulsa nas suas margens, o rio deixa-se navegar, abrindo os braços do seu leito aos pequenos barcos que o conhecem desde sempre.  
De frente, separadas pelo rio que as fez nascer, Gaia e Porto, cidades ribeirinhas, olham-se eternamente, reflectindo-se nas águas calmas de um Douro em busca da foz.

                                                       

terça-feira, 21 de junho de 2011

Dignidade humana

A leitura da notícia sobre o cancelamento de vários espectáculos de Amy Winehouse devido à sua patente dificuldade em se manter em cima de um palco, fruto do estilo de vida que leva, fez-me lembrar um texto que li há muitos anos e que me tocou.

Certo dia, um artista, decidido a pintar, numa cena religiosa, o Menino Jesus e Judas, partiu à procura da expressão ideal que servisse de modelo para cada uma das figuras.
Para o Menino Jesus depressa encontrou, no rosto de uma criança, a pureza, a bondade e a ingenuidade que pretendia. Já só lhe faltava encontrar a face que personalizasse o traidor.
Os anos foram-se passando, a obra continuava por terminar e a notícia daquele quadro inacabado correu mundo.
Certo dia, um pedinte bateu-lhe à porta. Ao ver à sua frente aquele homem, sujo, velho, de face enrugado, de olhar distante e dorido, percebeu que, finalmente, encontrara o modelo que sempre procurara.
Quando o pintor lhe pediu que o deixasse pintar, o homem, chorando, confessou-lhe que fora ele, há anos atrás, o modelo do Menino Jesus.
Amy Winehouse permitiu que o seu Judas interior ganhasse e aniquilasse o bom que tem em si.
É triste ver um ser humano tornar-se um farrapo, perdendo a dignidade e o respeito por si próprio.

domingo, 19 de junho de 2011

Amiga da onça

Ao ler a notícia que, na próxima terça-feira, haverá um Jackpot de 101 milhões no Euromilhões, sonhei, imaginei, divaguei.
O que faria eu com 101 milhões de euros? A primeira sensação é de que me perderia entre tanto dinheiro, mas depois, ah depois!...
Tantos planos idealizados, imaginados em momentos de divagação! Sim, concretizá-los-ia, colorindo, em tons quentes e alegres, os dias porvir.
Se o dinheiro não traz felicidade, pelo menos ajuda a optimizá-la.
Pelo sim pelo não, vou já jogar a minha chave fixa. Quem sabe?
Os números? Não vos posso dizer. Esqueci-me! 

sábado, 18 de junho de 2011

Urgentemente

Hoje, perdoem-me todos aqueles que me lêem, mas não resisto a servir-me do blog para postar um texto escrito pela minha filha.
Faço-o, não por ser quem é, mas pela qualidade que apresenta, para quem tem apenas 12 anos. 
Num tempo em que o sistema educativo se banalizou no “eduquês”, exemplos destes permitem-nos ter esperança no futuro. 

Urgentemente

É urgente um sorriso.
É urgente, muito urgente.

É urgente a paz,
A alegria, a felicidade.
É urgente um beijo
Ou apenas um abraço.

É urgente acabar com a mentira,
Com a injustiça e com a arrogância.
É urgente descobrir um amigo,
Algo que nos dê esperança.

É urgente tudo isto
E muito mais…
Para a felicidade existir,
Muitos passos temos a dar.


PS: O poema resultou de uma proposta feita pela professora de LP em darem continuidade ao poema de Eugénio de Andrade " Urgência", mas com base na Felicidade. 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Cheeseburger pecaminoso

Passeando pelos largos corredores do centro comercial, percorro-o distraidamente, absorta com os pensamentos e atraída pelas apelativas montras recheadas de colecções a cheirar a Verão.
Sem pressa, vagueio, saboreando este bocadinho de tempo roubado aos afazeres autoritários, enquanto observo cada detalhe, cada pormenor que me rodeia. Pelo caminho, cruzo-me com pessoas que passam e deixam no ar palavras risonhas, silêncios ausentes, distantes, como o olhar que espelham.
Somos apenas gente que passa e repassa despercebida, no mesmo espaço, com o mesmo percurso, meros desconhecidos.
Algures, um som quente e ritmado anima o vazio de uma loja acolhedora e simpática: os aromas adocicados espalham-se pelo ar e convidam a entrar.
Entretida, com a vida que pulsa e anima aquele espaço, nem me apercebo do passar das horas.
Antes de partir, ainda me perco num gostoso e pecaminoso double cheeseburger emprenhado de maionese, um autêntico afrodisíaco gustativo.
De vez em quando sabe bem dar umas escapadelas inocentes às rotinas.
Regresso.





quinta-feira, 16 de junho de 2011

Que futuro?

“Indícios de que 137 auditores que estão no Centro de Estudos Judiciários (CEJ) a formarem-se para serem magistrados copiaram num teste levou à anulação do exame. Face à impossibilidade de encontrar uma data para repetir o teste a direcção da instituição decidiu atribuir nota dez a todos os futuros magistrados.
Público, 16 de Junho de 2011

 O texto acima apresentado integra a notícia veiculada no Público online de hoje.
Que confiança, integridade e sentido de dever transmitem estes jovens, futuros magistrados, no dia de amanhã, quando iniciarem o exercício do cargo para o qual se encontram a estudar?
Os candidatos a juízes, quanto mais não seja por inerência de funções, deveriam, obrigatoriamente, estar livres de suspeitas e adoptar posturas baseadas na verdade, na integridade de carácter e na moralidade.  
Que segurança, que confiança e que imagem transmitem estes jovens candidatos para a opinião pública? Pouca ou nenhuma.
A medida a aplicar, num caso destes, que demonstra uma falta de valores incompatível com quem quer exercer a justiça e será responsável por decisões futuras que poderão alterar por completo a vida de qualquer cidadão, não era de certeza atribuir a nota dez a todos. Não!
Se não apresentam o perfil necessário em termos morais e éticos para a prática da magistratura, então, rua com eles.
O futuro constrói-se hoje cada vez que se tomam decisões.
Há que ser-se menos complacente e expugnar-se pela competência e excelência. Caso contrário, estaremos a hipotecar o futuro do país e em nada contribuímos para a solução dos problemas com que nos debatemos.
Há que parar, pensar, reflectir, remediar políticas educativas erradas, implementar as que se coadunam com a realidade do país que somos, da gente que temos, da realidade que nos rodeia.
Não hipotequemos o futuro deste país tão sui generis, mas que é o nosso lar!    

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Madrigal

Pintura de João Barcelos


Gosto de Eugénio de Andrade, escultor de palavras, em formas harmoniosamente belas.

Gosto de Eugénio de Andrade e do modo como se serve do verbum, não gasto, eternamente solto, livre e sublime!

Ler Eugénio de Andrade é a redescoberta do eu, num turbilhão de emoções, em forma de poesia!

Madrigal 
 Tu já tinhas um nome, e eu 
não sei se eras fonte ou brisa 
ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei 
Amor...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Oração




 Nos momentos difíceis da vida, quando percebemos o quão imperfeito tornámos o "barro" que nos molda, a meditação pela oração, surge como um momento de paz, reencontro, veracidade.
A oração é uma maneira do ser humano, perante o Criador, reconhecer a sua fragilidade, admitir a sua imperfeição, redimir-se das suas faltas.  Através dela, o Homem ascende a um plano superior, "humildando-se" para se reerguer.  
De todas as orações, aquela que considero mais bela, mais pura, mais singela é a que se atribui a São Francisco de Assis, popularmente aceite como padroeiro dos animais.  
No despertar da madrugada, partilho-a convosco e desejo que a leitura do texto vos transmita a mesma paz, a mesma serenidade, o mesmo bem-estar espiritual que me invade, me percorre, me envolve.  



Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.

Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais:
  Consolar, que ser consolado
          Compreender, que ser compreendido;
                 Amar, que ser amado.
                     Pois é dando, que se recebe.
                        Perdoando, que se é perdoado e
                            É morrendo, que se vive para a vida eterna!
                                                      Amém.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Não, não é cansaço...


Faz hoje, dia 13 de Junho, 123 anos que nascia, em Lisboa, um dos maiores poetas, escritores e intelectuais portugueses de todos os tempos: Fernando Pessoa.
A genialidade e a facilidade com que verbalizava, através da poesia, estados de alma, e maneira de ser, tornam-no imortal.
E porque não possuo a destreza e a arte de Pessoa, homenageio-o, particularmente hoje, num dos seus heterónimos, Álvaro de Campos, apropriando-me de um poema seu, fazendo minhas as palavras do poeta. 
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mudanças


Na comemoração de mais um dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas urge reflectir no que cada cidadão deve fazer, de modo a dar o seu contributo para a recuperação económica do país.
Lá fora, espalhados pelos vários cantos do mundo, os nossos emigrantes dão-nos o exemplo de como o esforço, o empenho e uma outra postura perante o trabalho geram produtividade e relançam qualquer economia.
Então, sigamos o exemplo e todos juntos contribuamos para a recuperação económica de Portugal.
Amanhã, comemoremos o 10 de Junho com um novo espírito, virado para o futuro e pleno de mudanças que deverão começar em cada um de nós.
 Portugal merece!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ai que prazer

Ler sempre me fascinou, preencheu, completou.
O acto de ler - íntimo e solitário – encerra, em si, o sublime gozo de decifrar sentidos vários, olhares diversos, interpretações díspares.
O livro e o leitor: amantes eternos numa relação de magia e sedução.
Sim, gosto de ler. Gosto de sentir o suave toque de uma folha de papel acariciando-me a mão. Gosto do cheiro que brota de um livro a abrir-se, de um livro a desvendar-se, de um livro a desvirginar.
Ai que prazer
 Ter um livro para ler
 E fazer!

domingo, 5 de junho de 2011

Este Barro Que Nos Molda

Há certas alturas em que a vida parece brincar connosco, como se estivesse a pôr à prova a capacidade, a resistência, o carácter de cada um.  
Nesses momentos, apanhados de surpresa pelas suas travessuras, uma espécie de dormência invade-nos, assalta-nos, rodeia-nos e ficamos, por instantes, incautos, frágeis, confusos.  
Então, uma força misteriosa empurra-nos, lança-nos para a frente, e do nada buscamos pujança, vontade e persistência!
Então, um sussurro interior murmura-nos palavras corajosas e verdadeiras e do nada, erguemo-nos, dignos , confiantes e derrubamos obstáculos, vencemos desafios, lutamos pela vitória sempre com a percepção da dualidade que somos: barro frágil, moldado em muitas formas, tornado forte pela genialidade do criador.

sábado, 4 de junho de 2011

Quão...

A ideia foco de José Sócrates de que se não fora o chumbo do PEC IV, os nossos problemas estavam resolvidos, é falsa.
A bancarrota não surge de um momento para o outro. A delapidação do erário público, por muitos que sejam os erros de governação, demora o seu tempo.
Acredito que, quando Sócrates chegou ao poder, o estado da nossa economia não fosse famoso. No entanto, os factos comprovam que, com ele, piorou substancialmente.
De repente, apercebemo-nos de quão inoperante se revelou, de quão frágil nos deixou, de quão dependentes nos colocou.
Por isso o quão importante é, no dia 5 de Junho, cada um de nós exercer o seu direito de cidadania!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Futuro hipotecado

Por que não quero que os meus netos e bisnetos, ainda inexistentes, tenham o seu futuro ainda mais hipotecado do que aquele que já se sabe irem ter, devido aos erros e desvarios de um Primeiro-ministro que conseguiu o feito único de conduzir Portugal à situação económica em que se encontra: Quase bancarrota, défice público astronómico, poupança nacional mais baixa de sempre, entre outros indicadores sobejamente conhecidos.
Por isso, no dia 5 de Junho, PS de José Sócrates, não!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Perfil

Domingo, Portugal, uma vez mais, democraticamente, vai escolher aqueles que irão, durante 4 anos, gerir o destino deste país: governo e oposição, ambos com grandes responsabilidades no rumo que a Nação tem de tomar.
A escolha do líder, que será o próximo Primeiro-ministro de Portugal, no momento presente e na conjuntura que atravessamos, não passa tanto pela questão do programa partidário, mas mais em saber quem melhor reúne as condições necessárias para a concretização das medidas acordadas com a Troika.
Essa pessoa tem de ser alguém íntegro, honesto, verdadeiro, honrar a palavra dada e tratar o país com o respeito que ele merece. Alguém que tem de esquecer os interesses partidários em prol dos interesses nacionais.
O Engenheiro José Sócrates, durante a sua governação, já demonstrou que é um homem que se diz e se desdiz com toda a naturalidade e facilidade, empurrando as culpas dos desaires governativos para todos, menos para ele. Os 150 mil postos de trabalho, que prometeu criar, deram origem a 610 mil desempregados; os impostos que prometeu não aumentar, saltaram; e até já nega o que até há bem pouco tempo acordou com a Troika.
Acham sinceramente que um homem deste tipo serve para ocupar o cargo a que se candidata?
Por isso, PS de Sócrates, jamais!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Tal como prometi


A partir de hoje e até sábado, apresento, uma razão, por dia, para não votar no PS de José Sócrates.
Inevitavelmente, a primeira escolha teria de recair no sector da Educação. Sou professora há muitos anos – tantos que já nem os conto –, sempre o fui e sê-lo-ei até ao fim. Pelo menos, assim espero e desejo.
Comecei a dar aulas, no século passado, em 1984. Até parece que já foi há tanto tempo, dito deste modo. Era uma caloira inexperiente, cheia de sonhos e fantasias e com muito para aprender. Tinha alunos quase da minha idade. A experiência, os erros, as desilusões, mas também alegrias e partilhas calejaram-me, ensinaram-me o que não se aprende nem nas universidades, nem nos livros.
Ao longo destes 27 anos de trabalho docente, acompanhei todas as mudanças implementadas, no entanto, não tão grandes e controvérsias como as que se registaram nos últimos seis anos de governação PS. A classe docente, não sendo o pilar mais importante da escola, mas um dos fundamentais, nunca foi tão denegrida, tão calcada, tão achincalhada e tão desrespeitada, retirando-lhe a autoridade que sempre lhe fora reconhecida, como neste período.
A Educação perdeu, com Sócrates, o estatuto que a distinguia e valorizava.
Por isso, PS, nunca mais!