A leitura da notícia sobre o cancelamento de vários espectáculos de Amy Winehouse devido à sua patente dificuldade em se manter em cima de um palco, fruto do estilo de vida que leva, fez-me lembrar um texto que li há muitos anos e que me tocou.
Certo dia, um artista, decidido a pintar, numa cena religiosa, o Menino Jesus e Judas, partiu à procura da expressão ideal que servisse de modelo para cada uma das figuras.
Para o Menino Jesus depressa encontrou, no rosto de uma criança, a pureza, a bondade e a ingenuidade que pretendia. Já só lhe faltava encontrar a face que personalizasse o traidor.
Os anos foram-se passando, a obra continuava por terminar e a notícia daquele quadro inacabado correu mundo.
Certo dia, um pedinte bateu-lhe à porta. Ao ver à sua frente aquele homem, sujo, velho, de face enrugado, de olhar distante e dorido, percebeu que, finalmente, encontrara o modelo que sempre procurara.
Quando o pintor lhe pediu que o deixasse pintar, o homem, chorando, confessou-lhe que fora ele, há anos atrás, o modelo do Menino Jesus.
Amy Winehouse permitiu que o seu Judas interior ganhasse e aniquilasse o bom que tem em si.
É triste ver um ser humano tornar-se um farrapo, perdendo a dignidade e o respeito por si próprio.