Parece-me que, nos últimos
tempos, andamos todos um pouco baralhados, confusos, descrentes: com os nossos
políticos; com os especialistas e as suas avalizadas opiniões; com os
resultados dos estudos técnicos encomendados; com as medidas neles apontadas, mas
disfarçadas de sugestões; com a variedade de opiniões que se cruzam e se
gladiam em fervorosas discussões; com a informação veiculada pelos órgãos de
comunicação social; com a constatação de que a realidade, independentemente, da
cor partidária, do génio discursivo ou da eloquência do orador, é difícil, é
dura, é a nossa.
Os tempos são incertos,
imprevisíveis, inconstantes: deita-se adormecido num contexto económico,
político e social com determinados contornos e, em escassas horas de sono, tudo
se pode alterar, numa reviravolta, qual passe de mágico que azurzia qualquer um.
Como planear o que quer que
seja? Como pensar em soluções? Como encontrar estratégias? Como gerir uma casa?
Como administrar um pecúlio se os pressupostos se alteram em fracções de tempo? Que angústia, quase impotência!
Este velho e venerável
continente foi, no passado, o centro estratégico de decisões que influenciaram
o mundo, que escreveram a História.
Europa, outrora estratega arguta
e resoluta, adormeceu no reflexo narcisista de si. Sonhou por demasiado tempo.
Quando acordou, apercebeu-se de quão ilusório fora o seu longo sono. A vida
passara-lhe ao lado: disfarçada, silenciosa, matreira, arquitectando novos
donos e senhores com a sua própria complacência e anuência.
Agora, corre e, com ela, todos nós, numa corrida
desenfreada, quase perdendo o fôlego, com o esforço da passada, ora meios perdidos ora
meios encontrados, com muitas dúvidas e um senão: deixarmo-nos vencer pelo cansaço, mas, acima de tudo, a certeza de que é proibido desistir.