Sexta-feira, fim de um dia de trabalho, de volta para casa, envolta numa sensação de leveza, de paz interior, de reencontro com o meu eu verdadeiro, enebriada pela perspectiva de dois dias de descanso, a antevisão do nada fazer, apenas descansar a alma, o corpo, a mente.
Sexta-feira,fim de um dia de trabalho, meto-me no carro, música ligada e deixo-me embalar pelo som que brota do rádio. Lá fora a chuva teima em cair, pling, pling, numa sinfonia da Natureza. As gotas de água jorram do alto, num ritmo compassado, misturando-se com o verde e a terra, nesta paisagem rural, envolta por pinhais, num lugar recôndido, resguardado da pressa e das certezas da civilização.
Sexta-feira, fim de um dia de trabalho, com a certeza do nada saber, do tudo possível, e do muito querer.
Sexta-feira, fim de um dia de trabalho, a pacatez desejada e, numa pequena fracção de tempo, a certeza de que tudo é efémero, nada é seguro e que a vida acontece, desenrola-se, manietando-nos como tontas marionetas, presas eternamente ao fio que lhes dá a vida.
Sexta-feira, fim de um dia de trabalho que, repentinamente, explode em contornos frios, sombrios, quase trágicos!
Sexta-feira, fim de um dia de trabalho, que poderia ter sido o início de um fim de tudo, e a redescoberta da importância de nos darmos aos outros, perpetuando a valorização no relacionamento humano.
Sexta-feira, final de um dia de trabalho,e, gravado na memória, fica a imagem de dois semblante distintos: num, um olhar amedrontado, de ser encurralado pelas incongruências da vida, noutro, a magia irradeada do olhar de uma criança, sôfrega de atenção, dedicação, amor,ambos envolvidos num abraço de solidariedade, partilha, entrega.