Há acasos, inesperados, surpreendentes (se assim não fosse, não o seriam) que, quando ocorrem, obrigam-nos a reflectir sobre o entrelaçado da vida, despertando, ou realçando, em nós, a vertente mais humana que, envergonhadamente, teimamos em esconder do mundo, como se fosse um sinal de fraqueza que não nos é permitido ter, segundo os parâmetros sociais que nos impõem.
Hoje, ocorreu um desses acasos, e num "close up" de recordações, veio-me à memória uma frase, lida algures, mas não esquecida no tempo, que dizia algo do género «quando entrares numa livraria, e te perderes na infinidade e diversidade da oferta, não te preocupes, porque o livro certo vai-te escolher e fará com que o saibas e o encontres».
Tal como na livraria, também na nossa rotina quotidiana, há ocasiões em que parece que as situações nos escolhem, para acontecerem.
E então, paramos, pensamos, reflectimos e, mais do que tudo, agradecemos: agradecemos os filhos perfeitos que gerámos, agradecemos o trajecto de vida que percorrem, sem (in) acidentes, gratificamo-nos pelo emprego que mantemos, pelos bens materiais que nos permitimos ter, agradecemos pela saúde, baluarte de autonomia de vida, agradecemos pelos amigos que sabemos estarem lá, agradecemos por podermos admirar o pôr-do-sol e emocionarmo-nos com o luar, de uma noite de Agosto, agradecemos por podermos acordar, ainda, ao som do chilrear dos pássaros, escutarmos o canto das cigarras e a sinfonia dos grilos, agradecemos pela infinidade do que temos e, principalmente, porque não estamos do lado dos que não têm tantas razões para agradecer.
E depois de agradecermos todas as maravilhas da vida, desejamos poder continuar a ter motivos para nunca pararmos de o fazer.
Agradeço, Senhor, por tudo o que eu tenho, por tudo o que eu sou, por tudo o que eu posso fazer acontecer em meu redor.
Obrigado!