Para quem pensa e faz da escrita um refúgio muito pessoal no atribulado rebuliço do dia-a-dia, para aplanar pensamentos e emoções, em momentos de recolha interior, inevitavelmente, depara-se com o problema da escolha das palavras para exprimir as ideias a transmitir.
O acto de escrever, exteriorizando, por palavras, a linguagem do pensamento e a do coração, revela-se um exercício minucioso e de máxima precisão em que a inspiração pessoal não lhe é alheio: exige muito cuidado, correndo-se o risco de, na utilização das palavras escolhidas, perder a força da ideia, a torrente do pensamento, os afectos da alma.
No exercício da escrita, a opção por uma ou outra palavra diferencia e categoriza um bom texto, aprazível de se ler, de um texto comum, que de banal na normalidade, perde-se nos recônditos da memória.
Quando na vida e na escrita, corajosamente, se desnuda a alma, abrindo-a ao outro, num partilhar de afectos, descobrindo a máscara com que, diariamente, nos protegemos das agressões exteriores, quer sejam sucessos ou desaires, alegrias ou tristezas, a empatia surge, a cumplicidade estabelece-se, a comunicação acontece e a diferença esbate-se.
A força da afectividade, colocada em cada um dos mais ínfimos gestos, que nos acompanha ao longo do dia, a entrega sincera, a veracidade do que se proclama e o brilho reflectido no olhar - espelho da alma - enaltece o carácter do sujeito e fá-lo perdurar nas memórias do Outro.