O velho casarão, com o seu ar imponente de aspecto secular, adormeceu nos braços do tempo, esquecendo-se do rebuliço contagiante que, uma vez por ano, quebrava a quietude e invadia a solidão forçada.
A chegada à aldeia dos donos, interrompia o sono hibernal que o assolava desde o Outono até ao início do Verão.
A alegria e a imaginação espontâneas da criançada da casa, animavam e despertavam-no da letargia em que caíra.
Construção antiga, assente em paredes de pedra rude, mas fortes e vigorosas e sustentado por vigas de madeira de carvalho, o casarão vibrava ao sentir que a vida pululava no seu interior.
Conjunto harmonioso, na rusticidade que o forma, o velho casarão conviveu com gerações de gente: riu, chorou, foi refúgio no despertar de emoções e sentires, cumpliciou e partilhou, encerrando, no interior das suas grossas paredes de pedra granítica, ecos de segredos, sussurrados, murmurados, lamentados.
O tempo passou, as gentes desapareceram e o velho casarão continua implantado na terra que o viu nascer.
A sua beleza não esmoreceu nas mãos do tempo, continua com um ar imponente, apesar da tristeza que se pressente.
A emoção sentida pela alegria contagiante da pequenada, que todos os verões, animava o seu espaço, há muito desapareceu.
O tempo passou e as memórias do casarão cruzam-se com as memórias da infância perdida, tornada adulta.
Distanciados no espaço, separados pelo tempo, ambos pertencem-se e recordam-se na infinidade da lembrança!