Translate

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Lenda pessoal

Naquelas noites em que o sono parece não ter pressa, aquieto-me, imóvel, desprendendo o fio do pensamento que se desenrola em sucessivas fiadas, enquanto o silêncio, prenhe de paz, me acompanha na madrugada.
No momento de maior quietude, a mente, contrariando o ambiente que a inspira, agita-se numa sucessão de imagens, formulando, conscientemente, reflexões de final de dia.
Algures, num recôndito canto do pensamento, um eu reflexivo e verdadeiro repassa, pelo crivo da consciência, todos os bocadinhos de tempo que foram vivenciados até ao momento: processo necessário para a veracidade imprescindivel à concretização da lenda pessoal.
É nessa altura que a verdade ganha força face às artimanhas manhosas com que o eu quotidiano e social insiste em utilizar.
No silêncio apaziguador da noite, os problemas do dia são questionados, as atitudes repensadas, os diálogos reinterpretados, os actores reavaliados, as opções ponderadas, as decisões tomadas.
É nesta catarse, simbiose da dualidade dos egos, que Eu me reavalio, reformulo, reconstruo.
É no silêncio pacificador da madrugada que me encontro e me conheço.