Uma das recordações que se insinua de mansinho e invade o meu pensamento é a da Menina Adérita.
Hoje, relembro-a.
Bem, a Menina Adérita, assim chamada desde pequenina, na aldeia que a viu nascer, crescer e morrer era, na realidade, uma senhora idosa que nunca namorou nem casou.
De menina, cresceu, tornou-se mulher e viu o milagre da vida acontecer às raparigas da sua geração. Ficou solteira e eternamente "Menina".
Conhecia-a no ano em que comecei a trabalhar. O acaso, sábio e oportuno, quis que nos encontrássemos.
Nesse ano, a Menina Adérita, sem o saber, foi o suporte, o alicerce emocional que perdera recentemente, a desconhecida de alma grande e olhar bondoso que me acolheu no vazio da sua solidão e se deu.
O ano lectivo terminou e com ele a minha permanência em sua casa.
Parti. Rumei novos horizontes, outros percursos.
A Menina Adérita ficou na terra que nunca deixara. Regressou à solidão dos seus dias e o ciclo da vida cumpriu-se.
De vez em quando, talvez apercebendo-se da ternura e do carinho pela sua lembrança, chega de mansinho, sem avisar, instala-se no meu pensamento, enternece o meu coração.
Reencontramo-nos!