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quarta-feira, 28 de março de 2012

Ali

Tantas vezes que voltou àquele lugar em busca do que, também, ali, perdera.
Tantos momentos de encontro com o passado, como se o regresso, particularmente, ali, ritualmente procurado, pudesse alterar um capítulo da sua história de vida.
Muitas vezes, demandou, nas lembranças que o lugar lhe despertava, apaziguar a dor, a desilusão e a dormência que tomaram parte de si.
De novo, ali, se refugiou, fortalecendo a fragilidade, aparentemente, inexistente.
Naquele dia, voltou, não para recordar o passado, antes para caminhar, serenamente, no presente que ia construindo em cada dia que passava, em cada opção que tomava, em cada escolha que recusava, sabendo com isso que alicerçava o futuro.
Ali, adormeceu o passado para, por fim, poder trilhar, com esperança renascida, o devir.


segunda-feira, 26 de março de 2012

Banalidades

Um final de dia completamente adjectivado e superlativado em relação ao trabalho.
Letras que saem ao acaso, ao sabor do pensamento. Ideias que se atropelam aleatoriamente, fruto do cansaço que se enfeita de torpor.
Uma pausa entre o dever. A televisão que fala para o nada, ensurdecida pelos anúncios que ecoam no silêncio relaxante do descanso que se anseia.
A escrita, a palavra como catarse, uma necessidade que surge naturalmente.
Por momentos, a atenção distraída é captada pela insistência de uma voz que repete, em intervalos de segundos “O Ronaldo revela uma mudança na vida. Dia 27 aqui a partir das 19.55” e imediatamente um pensamento “ a mudança deve ser mais uns milhões na sua conta bancária por mais um anúncio".
Banalidades, deles e minhas, meras trivialidades que sabem bem depois de um dia completamente alucinante!





sexta-feira, 23 de março de 2012

Quase poema incompleto

Abri a janela dos afectos
E entoei a poesia,
Não em prosa, mas em verso,
Fiz o melhor que sabia.

Abri a janela das emoções
E cantei a poesia,
Cantei-a em palavras esculpidas,
De cada verso que escrevia.

Abri a janela de mim própria,
Soltei retalhos de vida.

terça-feira, 20 de março de 2012

Questão de semântica

“Não estamos a extinguir, estamos a agregar, estamos a juntar freguesias”, afirmou, ontem, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, quando interpelado pelos jornalistas.
Ouvindo-o, lembrei-me de outros tempos, de outros governantes, de outras tiradas assertivas, proclamadas em tom de verdade.
Mudam-se os tempos, mudam-se as pessoas, mudam-se os contextos, mas os nossos políticos permanecem fiéis ao modelo oratório baseado numa esgrima de palavras, num jogo de sentidos.
Se há uma arte em que estes já demonstraram bem a sua mestria, ela é, sem dúvida, a da semântica!


segunda-feira, 19 de março de 2012

Escrevi teu nome

Quantas vezes, aqui, eu te escrevi? 
Quantas vezes eu te recriei? 
Quantas vezes chamei pelo teu nome? 
Quantas vezes nos reencontrámos em palavras por mim criadas, docemente trabalhadas, tecidas de afectos, debruadas de saudade, de ti, palavras ternas, palavras-espelho, de imagens que fui guardando na intimidade da memória, de ti!
Tantas e tantas vezes que eu, aqui, já te escrevi, gritei teu nome, soltei-o nas asas da lembrança, dei-lhe forma e sentimento, compu-lo!
Quantas vezes o fiz? Não sei, foram tantas... 
Quantas vezes eu escrevi teu nome sem o escrever, quantas vezes te partilhei, em pedacinhos de ternura só meus, quantas vezes te relembrei na bondade que transparecia do teu ser, na benevolência com que julgavas os outros, na calmaria das tuas palavras, por vezes carregadas de silêncios, em cumplicidade com o brilho intenso de um olhar que tudo dizia?
Foram tantas! E em cada uma delas, resguardo-te na memória das palavra que me aquecem o coração em momentos de tristeza, que me ajudam a sorrir em momentos de desânimo, que me dão força e me acompanham  em momentos de incompreensão.
Escrevi teu nome.



terça-feira, 13 de março de 2012

Perfeição

Há pouco, num instante fugaz, o rasto luminoso de uma estrela cadente, no seu percurso para o abismo, rompeu o azul imenso do céu, límpido e estrelado: uma bola dourada, em pleno movimento, cruzou o céu da minha rua, rasgou o azul vastíssimo do firmamento e desapareceu.
Como é perfeita a obra da Criação, minuciosamente pensada, cuidadosamente concebida, naturalmente existida! 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Avó

A propósito da data que hoje se comemora, recordo alguém que foi, sem dúvida, uma grande mulher. Grande, no seu metro e meio de altura e trinta e quatro de pé. Como tantas vezes a ouvi dizer “ a mulher e a sardinha querem-se da pequenina” rematando com “chego a onde chegam as outras”. Sem dúvida que chegava, com a ajuda do seu banquinho de três degraus que, lesta, subia e descia, mesmo já com o avanço da idade.
Senhora do seu nariz, dona de uma vontade férrea, de uma força altaneira, pequenina e decidida, não deixava os seus créditos por mãos alheias.
A minha avó (ou será antes a lembrança que dela evoco?) parecia-me – naquela altura ainda não me apercebera das marcas deixadas pela passagem do tempo – não ter idade, ou melhor, parecia-me não envelhecer.
Ridiculamente, teimamos em aprisionar, no tempo, os entes que amamos como se, com isso, conseguíssemos impedir a passagem dos anos, a inevitabilidade da perda.
As suas memórias são imensas, mas há duas ou três que me assaltam de imediato e me fazem sorrir.
Monárquica por convicção, recusava-se a assistir à comemoração da Implantação da República. De férias, na aldeia, para onde partia, mal terminavam as nossas aulas, só regressava à capital no dia seis de Outubro.
Durante anos e anos, tantos como os que a idade lhe permitiu, repetia o mesmo ritual, num protesto velado e simbólico, defendendo, assim, as suas convicções.
Guardo, também, na memória, o desenho da sua caligrafia: arredondada, minuciosa, esculturalmente traçada, desenhada, qual obra de arte. A correspondência era, sempre, um momento solene, selado com o monograma no lacre derretido.
Tantas e doces recordações da minha avó e que são também minhas. Um acervo de vida que perdurará porque amar é lembrar, é recordar...
Um perfume que paira no ar,
Um gesto,
Um semblante,
Um olhar que jamais se esquecerá.
Amar, é não deixar morrer a lembrança que fica e que o tempo não consegue apagar.



domingo, 4 de março de 2012

Na tranquilidade de mim

Abro a página em branco e aguardo que as palavras brotem naturalmente, ganhem sentidos, me desnudem o pensamento. 
Abro esta página, virginalmente alva e pura e espero, quase adormecida, meio entorpecida, aquecida pelo calor reconfortante, pelo quentinho agradável que se desprende do crepitar da madeira seca que arde na lareira, envolta em labaredas alaranjadas. Fixo o olhar nas formas dançantes, tremeluzentes que se desprendem dos fogachos incandescentes, dou-me em palavras prenhes de sentidos.
Na roncice de uma tarde, languidamente preguiçosa, escrevo e, em cada palavra pensada, em cada palavra liberta, solto reflexos de mim.

sábado, 3 de março de 2012

No final da noite


Mergulhando no aconchego da noite, azul da cor do céu... 
Bons sonhos, cheios de sorrisos celestiais...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Artimanhas ou a sábia arte de roubar

Eu não consigo perceber a lógica que preside às decisões tomadas por certos grupos empresariais deste país!
Por pagar a pronto as minhas despesas, numa determinada superfície comercial de renome na praça pública, contribuindo assim para que esta receba, logo de imediato, no acto da transacção, o dinheiro por si investido, “encachando” capital e por não fazer uso de um cartão - de crédito, ao que parece - que me permite optar por um pagamento faseado ou até mesmo adiado, acabo penalizada em detrimento dos que consomem e só pagam no final do mês (reconheço que nalgumas situações dará muito jeito).
É preciso ter lata!

Adenda: Sob protesto, paguei a quantia de cinco euros e vinte cêntimos por “inactividade do cartão”, mas, de imediato, dei ordem de cancelamento, acompanhada da minha indignação…