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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Soneto do amor e da morte




 

quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.


 

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não

tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração
fique por nós o teu inda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.


Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

segunda-feira, 14 de abril de 2014

A intensidade da memória dos dias


Naqueles fugazes momentos em que o tempo entontece e confunde os vários estados de tempo de cada estação, os finais de tarde, surpreendentemente, explodem em horizontes matizados de cores fortes e quentes, apetecíveis, pincelando a paisagem soberba em aguarelas de poesia, adornada pelo canto melodioso dos pássaros, pelas tímidas folhagens, aqui e ali, a despontar nos ramos, ainda despidos, das árvores acordadas do Inverno, pelo florescer de aromáticos e deliciosos frutos, que hão-de cair amadurecidos e saciados de vida.
Na quietude do dia que finda, na tranquilidade da noite que irrompe, esqueço a consciencialização do eu e permito que os pensamentos se fundam com as memórias de si próprios.











quarta-feira, 9 de abril de 2014

Prince Royce - Stand By Me




Uma bonita e melódica canção, já antiga, desta vez em versão de bachata. É contagiante e irresistível. Conseguem ficar parados e não acompanhar o ritmo com o corpo? Eu não.
"Bachatemos", então, para que o dia nos sorria e percebamos, mesmo com todos os problemas que possamos ter, o quão bom é viver (não confundir com existir)!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Minimalismo


Uma das características que nos torna tão peculiares é o sentido de humor, ou seja a capacidade que possuímos de brincar com as desgraças que nos vão acontecendo, com as maldades que nos vão fazendo, com as partidas que nos vão pregando, aproveitando acontecimentos, espaços ou mesmo elementos que nos rodeiam para criar situações engraçadas que geram boa disposição e fazem sorrir.
Outro dia, aquando da visita de estudo à Mata do Choupal, já no caminho de regresso, fomos surpreendidos por uma “obra de arte” enraizada na Natureza e que fez rir todos.
O artista conseguiu, sem dúvida alguma, captar as particularidades específicas, os traços definidos do elemento que lhe serviu de matéria-prima para tão ousada criação.
Se o autor visualizou, numa simples árvore, um anafado e rechonchudo rabiote, os miúdos (os mais sabidos) superaram o poder imaginativo do criador e, de imediato, fazendo uso de um galho seco, hirto e ligeiramente encurvado, que por ali jazia, compuseram, à sua maneira, um outro quadro, numa simbiose perfeita entre os dois elementos!
O resultado? Imaginem…

















segunda-feira, 7 de abril de 2014

Regra única


O fim-de-semana que passou levou consigo duas figuras públicas bem conhecidas: o actor brasileiro José Wilker, de 66 anos (quem não se lembra da personagem “Doutor Mundinho”, da primeira telenovela brasileira “Gabriela, Cravo e Canela” passada na RTP 1, após a revolução de Abril?) e o professor e empresário Manuel Forjaz, com 50 anos.
Alegria e morte: duas palavras de difícil conjugação e a de Manuel Forjaz trouxe-me uma enorme tristeza.
Conheci-o há pouco, desde a entrevista conduzida por José Alberto Carvalho, durante o jornal das 8 TVI.
Nesses breves minutos de conversa, transpareceram, das suas palavras, uma força, uma determinação, uma teimosia em viver. Nem a sombra da morte pareceu roubar-lhe a calma e a serenidade com que encarava e falava da doença.
Admirei-o pela sua atitude, pela coragem demonstrada, pela vontade de ser, pela não desistência.
Apesar do seu amanhã ser cheio de incertezas, conseguiu transmitir a fé e a esperança que alicerçavam a sua convicção.
Do outro lado, onde quer que ele seja, deveria estar afixado o seguinte dístico, como regra única e obrigatória: “ Proibida a passagem, a entrada aos ávidos de vida, aos sonhadores, a todos os que ainda não concluíram o seu projeto de vida!”









quinta-feira, 3 de abril de 2014

Diário de bordo

 
 
Realizar uma visita de estudo debaixo de uma enorme carga de água quase contínua, a fazer lembrar o dilúvio, rodeados de muita vegetação (ainda mais ensopada do que nós), com os miúdos a correrem de um guarda-sol (decididamente, hoje, foi um guarda-chuva) para outro, pouco ou nada preocupados com as intensas e persistentes bátegas que tudo encharcavam, tornou-se um momento bem molhado, mas único e inesquecível.
Sem dúvida que o Choupal constitui um espaço natural maravilhoso, deveras pacificador, convidativo ao passeio, à descontracção, à reflexão e também à aprendizagem e prática de exercício físico, mas sob chuva, torna-se complicado deambular pelos imensos percursos pedestres existentes, pelos múltiplos trilhos rodeados de muita e diversificada vegetação que se abrem ao visitante.
De mochila às costas, protegidos por um amplo céu de chapéus-de-chuva, saltitando de poça em poça, contornando os charcos lamacentos presentes no trajecto e a embrenharmo-nos na vegetação, quase parecíamos um bando de exploradores na demanda de alguma arca perdida, a fazer lembrar o Indiana Jones num filme de acção e aventura.
Um cenário bem do agrado desta faixa etária de alunos que, no fim da primeira parte da visita, pareciam ter saído da guerra do Vietnam, tal era a quantidade de terra, lama e água visíveis nas sapatilhas, nas botas e nas calças.  
Os mais optimistas não se cansavam de afirmar que este estado do tempo se mantinha só até às dezasseis horas, pois, a partir daí, o sol espreitaria por entre umas nuvens menos carregadas. Não se enganaram, mas já não nos valeu de muito, porque era quase hora de regressar.
Agora, no sossego (bem merecido) da casa, olho pela janela e o final do dia assemelha-se a uma daquelas pinturas a óleo ou aguarelas naturalistas que vimos na exposição permanente no Edifício Chiado, com traços de Primavera.
Quer professores, quer alunos, de certeza, jamais esquecerão esta visita de estudo, dadas as particularidades de que se revestiu. Digamos que foi uma maneira bem diferente de terminar o 2º período: não pelo processo, antes pelas condições!