Considero
saudável estar só na maior parte do tempo. Estar acompanhado, mesmo pelos
melhores, cedo se torna enfadonho e dispersivo. Adoro estar só. Nunca encontrei
um companheiro tão sociável como a solidão. Estamos geralmente mais sós quando
viajamos com outros homens do que quando permanecemos nos nossos aposentos. Um
homem quando pensa ou trabalha está sempre só, deixai-o pois estar onde ele
deseja. A solidão não é medida pelas milhas de espaço que separam um homem e os
seus congéneres.
O estudante
verdadeiramente diligente de um dos enxames da Universidade de Cambridge está
tão solitário como um derviche no
deserto. O agricultor pode trabalhar sozinho no campo ou nos bosques durante
todo o dia, mondando ou podando, e não se sentir solitário porque está ocupado;
mas quando chega a casa, à noite, não consegue sentar-se, numa sala, sozinho, à
mercê dos seus pensamentos. Tem que ir onde possa «estar com as pessoas»,
distrair-se e ser compensado pela solidão do seu dia; e, assim, interroga-se
como pode o estudante estar só em casa durante toda a noite e grande parte do
dia sem se aborrecer ou sentir-se deprimido. Mas ele não entende que o
estudante, se bem que em casa, ainda está a trabalhar no seu campo, a podar os
seus bosques, tal como o agricultor o faz nos seus e que, por seu turno,
procura a mesma diversão e companhia que este, embora eventualmente de uma
forma mais condensada.
Ouvi falar de um
homem perdido na floresta e a morrer de fome e de exaustão ao pé de uma árvore
e cuja solidão era aliviada pelas visões grotescas com que, devido à fraqueza
física, a sua imaginação doente o rodeava, e que ele acreditava serem reais. Assim também, graças à saúde e à força física e mental, podemos sentir-nos
continuamente animados por uma companhia semelhante, se bem que mais normal e
natural, e chegarmos à conclusão de que nunca estamos sós.
Henry
David Thoreau, in 'Walden'