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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Relatividade Cultural II

De lenços na cabeça (passavam a vida a escorregar e era mais o tempo em que se via o cabelo do que o que estava tapado) e descalças pudemos, enfim,  transpor o acesso que nos conduziu ao local sagrado.
Lá dentro imperava o silêncio e a paz, a hora e o dia não eram de muita afluência. Deliciámo-nos com a decoração do interior, com a disposição dos símbolos religiosos no espaço. Uma sala enorme, alta, decorada com uma extensa tapeçaria que cobria todo o chão, no tecto,  um grande lustre e rodeando a sala rectangular, umas inscrições alusivas a excertos do Alcorão com a respectiva tradução em português.
Numa sala contígua, o local de purificação do corpo feito através de abluções que seguem um ritual tão antigo como o início do Islamismo. Aí dois jovens tratavam dos procedimentos necessários para poderem ser considerados dignos de se dirigirem em oração ao seu deus, Alá.
Como todas as mesquitas, o interior estava enfeitado com formas geométricas sendo total a ausência de formas humanas, nem de cenas representativas de episódios do livro sagrado, apenas e só arabescos e desenhos geométricos.
Já à saída fomos interpeladas por um muçulmano, idoso, que travou diálogo connosco, movido pela curiosidade do que nos levara ali.
Após uns bons minutos de amena conversa, numa troca de impressões sobre o Islamismo versus Cristianismo, o ancião, guardador do templo, ao saber da profissão que eu exercia, não conseguiu deixar de rematar o diálogo proferindo com ar sério:” para se ensinar o islamismo é preciso sabê-lo, caso contrário arrisca-se a dar uma informação errada".
Quando lhe respondi  que, em relação ao assunto, apenas se ensinavam os princípios básicos dessa religião, o semblante serenou e despediu-se tranquilo.
A visita a este espaço, por breves momentos, originou uma intersecção cultural e inseriu-se no que em Antropologia se chama a “relatividade cultural”.
Que ambas as partes a saibam aceitar e respeitar!