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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Pensamento

Recolho-me nos braços apaziguadores da noite com uma simples constatação: a sociedade é composta por três grupos de pessoas: o grupo das que trabalham, o grupo das que fingem que trabalham e, por fim, o grupo das que não fazem a ponta de um corno.
Sempre pensei pertencer ao primeiro! 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Contraste


Lá fora, o vento ruge e brame num acesso de raiva e zanga. Com ele leva as folhas pálidas das árvores, num frenético rodopio, num temporal de chuva e ventania.
Cá dentro, nasce uma vontade imensa de me enroscar no sofá e embrulhar-me no calor de uma manta, escutando,  tranquilamente, o desassossego da Natureza inquieta, agitada, revolta, em contraste com a música calma e suave que me embala e me preenche.
Lá fora e cá dentro, a vida acontece.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

As Serviçais


Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver.


                                                                                           Martin Luther King


No domingo passado fui ao cinema ver “ As Serviçais”. Um filme cuja temática da desigualdade de direitos entre brancos e negros, na América dos anos 50/60, é tratada de um modo subtil e irónico. Um filme a duas cores e a duas vivências opostas: o branco e o negro. Um filme que mostra o quanto no meio da mesquinhez, da futilidade e da banalidade de um estilo de vida, é possível encontrar alguém que marca a diferença, alguém que luta pelos seus ideais, alguém que, mesmo só, se agiganta em defesa dos fracos e oprimidos.
Um filme cheio de solidariedade, amizade e fraternidade.  


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Dias Assim

A chuva por fim chegou, com ímpeto, com vontade de lavar a secura do Verão.
Em dias assim apetece o espaço acolhedor e aconchegante de uma sala de cinema.
Em dias cinzentos e chorosos, sabe bem a cúmplice partilha de um filme que se vê.
E, no final, uma pecaminosa fatia de pizza.
Touché 

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ousadia



Sempre considerei os ditados populares uma fonte inesgotável de sabedoria empírica, nascida da experiência de gente simples.
De repente, eis que me envolveu uma súbita vontade de escrever, uma urgência em me cumpliciar com as palavras, com os sentidos, comprovando a veracidade do ditado que proclama “não há fome que não dê em fartura”.
PS: Se o Português é uma língua viva, porque não utilizar as ainda não-palavras que, não obstante, fazem todo o sentido, exprimem completamente a ideia que se quer transmitir?
Eu gosto de criar novas palavras sempre que não encontro, no léxico da minha língua, maneira de expressar o meu pensamento, as minhas emoções,
“Cumpliciemos-nos”, então, numa ousadia linguística, num acto de criação!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Retrato

A povoação, onde a minha escola se enraizou, é um lugarejo simples e antigo. A presença de uma casa quinhentista será porventura o testemunho mais envelhecido da história da localidade.
Nascida dum núcleo central, congregado em redor da capela altaneira, expandiu-se para oeste e formou a denominada parte nova do lugar que se desenvolveu com a chegada do caminho-de-ferro. O antigo e o novo coexistem, tranquilamente, numa mistura de paisagem rural e urbana. 
Ritualmente, gosto de me perder no tempo e percorrer aquele espaço a lembrar os antigos caminhos da aldeia, cheirando a terra e a lavoura, engalanados pelas cores atrevidas das árvores, das flores e das plantas que os ladeiam. 
Uma vez por semana, rendo-me ao sossego balsâmico que brota naturalmente daquele sítio tornado meu e busco, no despertar das sensações, a força apaziguadora que me toma e me conquista.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

À Deriva


Ainda sobre a comunicação ao país pelo primeiro-ministro, Doutor Passos Coelho.
Como a maior parte dos portugueses, também eu ouvi, num silêncio confuso de emoções, a enumeração das principais medidas a implementar nos próximos dois anos.
Também eu, como a maior parte dos portugueses, explodi numa reacção de consternação, preocupação e indignação.  
Ora, como eu não acredito que tenhamos um primeiro-ministro mórbido e masoquista, com tendências autodestrutivas, resta-me uma outra explicação. Isto é, mesmo sabendo que se tornaria o alvo certeiro de todas as críticas, raivas e revoltas, mesmo ciente do risco de poder estar a hipotecar o seu futuro político, Passos Coelho tomou medidas impopulares, mas, pelos vistos,   imprescindíveis para a resolução do problema económico que o país enfrenta.  
Devido à minha profissão sou considerada funcionária pública. Ainda pertenço à designada classe média (em vias de extinção, acreditem). As medidas anunciadas atingem-me directamente. Desde 2005 que ando a pagar a crise que é de todos. Desde 2005 que vejo a progressão na carreira e o salário congeladas. Desde 2005 que me recrutam para ajudar a pagar os devaneios de governos que não souberam governar; de governos que arrastaram o país para a deriva económica actual; de governos que tomaram medidas à toa, sem se preocuparem com as consequências futuras das suas decisões; de políticos que nunca souberam, verdadeiramente, honrar a democracia conquistada pela geração anterior; de governos compostos por políticos que se julgam ser o Estado; que se revelaram inaptos, inadequados e impróprios para os cargos que ocuparam.  
Não me furto às minhas responsabilidades. Tenho a noção das enormes dificuldades que enfrentamos e da dura realidade que vão ser os próximos dois anos (apenas?).  
De uma vez por todas apelo aos políticos do meu país para que ajam com integridade, com honradez, que coloquem os interesses da Nação acima dos pessoais e partidários e que não sejam em vão os sacrifícios que me (nos) pedem.
É tempo de avistarmos terra, correndo o risco de ficarmos eternamente náufragos de nós próprios!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Reality show da ignorância

Ter uma filha tennager implica, entre outras coisas, assistir a programas televisivos que em circunstâncias diferentes passariam despercebidos.
Ontem, ao serão, com a atenção repartida entre o trabalho que fazia no portátil e o olhar na televisão, ia vendo o desenrolar da “casa dos segredos”.
Interrogada, uma concorrente, rindo-se da sua ignorância, abanava a cabeça às perguntas da apresentadora.
- Qual a capital de Espanha? – Silêncio e risos.
- África fica para cima ou para baixo de Portugal? (já que Norte e Sul nada significavam)
– Para cima ? - responde com uma interrogação hesitante e insegura.
- O nome de um país da América do Sul? – Mais silêncio e risos.
- Meu Deus, como é possível? - Dei comigo a pensar!
Claro que é possível! Tudo é possível num país cuja política educativa, há largos anos, se tem preocupado com a estatística, tem investido mais nos que não querem estudar, nos mal comportados, nos desinteressados, tem desautorizado os professores, tem poupado, a todo o custo, nos recursos educativos, tem avaliado os profissionais com modelos importados do estrangeiro, tem tido como ministros e secretários de estado, na melhor das hipóteses, meros teóricos da educação, tem entupido a vida das escolas com papéis, tem inundado o dia-a-dia dos docentes com burocracias acéfalas, tem feito tudo para não ficarmos admirados com a ignorância que grassa em muitos dos nossos jovens.
Haja esperança...

domingo, 16 de outubro de 2011

Mudanças

Vivemos momentos muito complicados. Socialmente perspectivam-se grandes convulsões, grandes movimentações e muita contestação.
As pessoas já não acreditam no sistema político que as (des) governa, no sistema económico que as sufoca, no sistema jurídico que as fragiliza e (des) protege.
A descrença, o desânimo e a revolta invadem cada um de nós.
Neste contexto social, de tanta agitação, os grandes senhores que tudo comandam não podem continuar surdos e cegos aos sinais que começam a surgir um pouco por todo o lado.
Algo começa a mudar: sente-se nos gestos, nos olhares, nos silêncios dos mais pequenos, vê-se nas palavras acesas de uma urbe indignada.
A História escreve-se nos actos colectivos do presente.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Curiosidade



Apesar de seguir a moda virtual 2011/2012, confesso que não faço quase nenhum uso da minha conta no Facebook.
O repentino interesse, diria explosivo, por esta rede social é um fenómeno relativamente recente. Provavelmente, a maior parte das pessoas desconhece que a mesma já existia muito antes de se tornar a preferida de milhões de pessoas: com outro nome, com outro aspecto, com outras funcionalidades e menos aperfeiçoada.
Hoje, numa passagem pelo Facebook, encontrei uma frase que alguém pôs a circular aquando da morte do fundador da Apple, Steve Jobs e que dizia o seguinte: "Houve 3 maçãs que mudaram o mundo: a que a Eva comeu, a que caiu na cabeça do Newton e a que o Steve criou."
Frase simples, mas bem verdadeira!
Já agora, a cada um de vós que me lê, desafio-vos a imaginarem como seria a realidade actual, qual o rumo tomado pela Humanidade, caso não tivessem existido estes três contextos referenciados na frase.
Uma certeza, tenho: a vida de milhões de pessoas não teria sido a mesma e a história do Mundo ter-se-ia escrito de uma outra maneira.  
Como três simples maçãs desempenharam um papel tão importante na história do Homem!  

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Respeito


"Quando o Homem aprender a respeitar até o menor ser da criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará de o ensinar a amar o seu semelhante."
Albert Schweitze

Hoje comemora-se o Dia Mundial dos Animais.
A necessidade da comemoração de um dia destes deveria envergonhar a Humanidade.  
A nossa espécie, única entre as demais, possuidora da razão e por isso dominadora, cada vez que maltrata um animal embaça a raça a que pertence.
Donos da razão, espécimes por excelência do Homo Sapiens Sapiens, dominamos, destruímos, maltratamos, matamos, em nome de interesses maiores, como se o Planeta fosse propriedade privada, condomínio fechado da espécie a que pertencemos e esquecemo-nos dos laços naturais que nos unem a todos os seres vivos, dos mais simples aos mais complexos.
Quando percebermos esta verdade tão simples, a esperança iluminará a Humanidade. 



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Viver

Esta eterna luta entre emoção e razão acompanha-nos desde tempos já esquecidos.
Ambas vivem em cada um de nós. Condicionam cada gesto que fazemos, cada decisão que tomamos, cada opção que escolhemos.
Por vezes, baralham-nos, entontecem-nos, confundem-nos, magoam-nos, fazem-nos sentir perdidos em busca de um rumo, de uma certeza que valide o que somos, como somos.
Isso é Viver, é sentir que vale a pena arriscar em cada momento tornado único, é saborear, mesmo com dor, cada lágrima solta pela face, cada aperto do coração, cada mágoa e cada saudade, cada riso e cada gesto, frutos da razão e da emoção.
Viver é sentir intensamente os momentos de cada dia, bons ou maus, não importa, apenas a certeza que os sentimos, que valem a pena, para no fim podermos gritar convictamente:
- Não passámos pela vida. Vivemos!

sábado, 1 de outubro de 2011

Sou

A brisa suave que se espalha livremente, traz-te até mim. Envolves-me com os braços do vento em momentos de silêncio. És calma e és paz. Percebes-me. Aceitas o que sou e como sou. Sinto-te na aragem morna que me cinge e me abraça. É uma parte de ti, inalcançável, distante, mas tão perto que me chega dos mistérios do Universo que desconheço, mas pressinto.
Sou eu, um pedaço gerado de ti, a prova da tua imortalidade, porque sou a lembrança que te perpetua, sou o futuro na tua ausência.
Sim, sou eu, um dos imensos vestígios da tua existência, da tua verdade em mim.