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terça-feira, 18 de outubro de 2011

À Deriva


Ainda sobre a comunicação ao país pelo primeiro-ministro, Doutor Passos Coelho.
Como a maior parte dos portugueses, também eu ouvi, num silêncio confuso de emoções, a enumeração das principais medidas a implementar nos próximos dois anos.
Também eu, como a maior parte dos portugueses, explodi numa reacção de consternação, preocupação e indignação.  
Ora, como eu não acredito que tenhamos um primeiro-ministro mórbido e masoquista, com tendências autodestrutivas, resta-me uma outra explicação. Isto é, mesmo sabendo que se tornaria o alvo certeiro de todas as críticas, raivas e revoltas, mesmo ciente do risco de poder estar a hipotecar o seu futuro político, Passos Coelho tomou medidas impopulares, mas, pelos vistos,   imprescindíveis para a resolução do problema económico que o país enfrenta.  
Devido à minha profissão sou considerada funcionária pública. Ainda pertenço à designada classe média (em vias de extinção, acreditem). As medidas anunciadas atingem-me directamente. Desde 2005 que ando a pagar a crise que é de todos. Desde 2005 que vejo a progressão na carreira e o salário congeladas. Desde 2005 que me recrutam para ajudar a pagar os devaneios de governos que não souberam governar; de governos que arrastaram o país para a deriva económica actual; de governos que tomaram medidas à toa, sem se preocuparem com as consequências futuras das suas decisões; de políticos que nunca souberam, verdadeiramente, honrar a democracia conquistada pela geração anterior; de governos compostos por políticos que se julgam ser o Estado; que se revelaram inaptos, inadequados e impróprios para os cargos que ocuparam.  
Não me furto às minhas responsabilidades. Tenho a noção das enormes dificuldades que enfrentamos e da dura realidade que vão ser os próximos dois anos (apenas?).  
De uma vez por todas apelo aos políticos do meu país para que ajam com integridade, com honradez, que coloquem os interesses da Nação acima dos pessoais e partidários e que não sejam em vão os sacrifícios que me (nos) pedem.
É tempo de avistarmos terra, correndo o risco de ficarmos eternamente náufragos de nós próprios!