Uma aragem morna, que se sente no final de tarde, corta e suaviza a canícula sufocante do início de Julho. É uma aragem apaziguadora das temperaturas infernais que se fizeram sentir.
Recosto-me, saboreando o ar que penetra pela janela entreaberta enquanto, lá fora, no alpendre fronteiriço, os ramos verdejantes, de uma ameixoeira, enfeitada de roxos frutos, parecem balouçar ao sabor da música ambiente que invade o espaço e solta-se na brisa em claves de Sol poente.
Absorta nos meus pensamentos, revivo o dia em flashes de memória: gestos, palavras, acções, emoções que transbordam e galvanizam-se em torrente avassaladora: nas antípodas do dia sempre o calor como elemento constante e catalisador de sensações: na Natureza e nos sentires.
Soltam-se emoções reprimidas em hipérboles de afectos, tempestades que antecedem a bonança.
Recostada, acompanho a despedida do dia, na partida da claridade que se começa a intensificar.
Solto o pensamento e vagueio nas memórias de mim numa viagem solitária.
Lá fora, o ritmo da Natureza segue o seu curso.
Deixo-me invadir pela serenidade envolvente da paisagem; saboreio a paz que este final de tarde tranquilo me proporciona e recordo…