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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Silêncios Premonitórios

Passados quase dois meses da criação deste blog, o espírito desafiador, que o alicerçou, não esmoreceu.
A escrita sempre fora uma paixão, demasiadas vezes adiada. O acto de passar para o papel as ideias, que germinavam no coração e pululavam no pensamento, necessitou de ganhar segurança e um pouco de coragem por parte de quem, há muito, fazia da leitura um refúgio do rebuliço do final de dia.
A leitura continua a possibilitar momentos de evasão, num tempo exclusivamente só, de reencontro e comunhão do Eu: serão sempre momentos de pura magia, encantamento, inebriação, geradores de conhecimento.
A paixão pela leitura fez crescer, em silêncios premonitórios, o gosto pela escrita.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Homenagem

Na sequência do assunto do post anterior, lembrei-me de alguém que, apesar de estrangeiro, dignificou a côr da camisola que envergava.
Apesar de saber que as vitórias são sempre fruto de um trabalho de e em equipa, não posso deixar de homenagear um jogador que se destacou de todos os outros.
Relembro, com um sorriso nos lábios e um misto de dupla saudade, a disputa do campeonato nacional naquele ano de 1973/1974 em que Hector Casimiro Yazalde, o Chirola, era o motor da equipa, levando todos à sua passagem, como locomotiva desgovernada, tendo contribuindo para as vitórias alcançadas pelo Sporting nesse ano.
O Chirola era um ser humano simples e humilde, marcou 46 golos em 30 jogos e conquistou a Bota de Ouro europeia. Esta faceta demonstra bem a qualidade do jogador e a contribuição que deu para a valorização da equipa Sportinguista.
Em 19 de Maio de 1974, Yazalde estabeleceu um novo recorde europeu de golos batendo o recorde do húngaro Skoblar. Como prémio, recebeu um carro, que vendeu e dividiu o dinheiro com os companheiros de equipa. Gesto de uma nobreza ímpar, pleno de solidariedade e altruísmo.
Ainda recordo Yazalde e as noites de competição europeia, em que já deitada, ligava muito em surdina, o transístor, enfiado debaixo da almofada, não fossem os meus pais ouvir, e ficava muito sossegada a ouvir o relato das façanhas de uma equipa que me foi conquistando aos bocadinhos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Emoções

O meu amor ao Sporting é bem conhecido por todos os que comigo privam.
Se me perguntarem desde quando é que o namoro começou, não vos sei dizer ao certo. Lembro-me, nitidamente, teria cerca de onze anos, de ter assumido esta paixão, contrariando a onda vermelha do momento(não tenho nada contra as diferenças).
Assim, já que todos torciam pela equipa da família Accipitridae, decidi, num gesto de solidariedade, tornar-me leoa por inteiro. Esta opção fez de mim uma adepta sofredora (porque ser-se do Sporting é isso mesmo, sofrer, sempre, até ao fim) que sente e partilha, no mais fundo do seu ser, as alegrias, as tristezas, as vitórias, as derrotas de juba ao vento e pronta para a luta!
Hoje vibrei, torci, gritei, pulei, saltei cada vez que a minha equipa marcava um golo. A emoção sentida fez-me reflectir e concluir que, ser-se leoa é um estado de alma, é partilhar a esperança da cor que nos distingue, é apoiar a equipa nas derrotas, festejar as vitórias e acreditar sempre que o novo ano será O Ano!
Ser-se leoa é assumir o gosto, por um desporto eminentemente masculino, de cabeça erguida e orgulho na paixão defendida, contra os olhares esguios de velada censura.
Ser-se leoa é, acima de tudo, perceber os defeitos, aceitar as críticas, rir com as próprias desgraças e não apagar os emails, de humor duvidoso, que os adeptos das equipas adversárias, prontamente, fazem chegar à caixa de correio!
Ser-se Leoa é um desafio permanente e um amor quase inexplicável!
VIVA O MEU SPORTING, SEMPRE!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

De Novo

De novo!
A minha inspiração teima em não aceder aos apelos insistentes que lhe faço.
Demonstro-lhe, com argumentos válidos, a necessidade que tenho em voltar a escrever. Não me ouve! Recusa a responsabilidade.
Perante a atitude assumida, mergulho no vazio de ideias, naufrago no mar dos temas: nenhum me fascina de modo a tentar o exercício da escrita.
Adio a vontade.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Curia

Apesar da beleza que a vida encerra, há momentos que impelem ao isolamento, numa introspecção precisa, solidão procurada.
Estes momentos desempenham papel importante no trilhar de caminhos pessoais, pois ajudam a perceber, a distinguir, a reflectir.
E nesses momentos, de procura interior de respostas, o recurso a ambientes tranquilos, em contacto com a Natureza, torna-se um bálsamo que ajuda a ordenar o emaranhado de premissas.
Situada na região da Bairrada, a Curia, oásis de beleza e tranquilidade, no meio do rebuliço agitado do quotidiano, é o ambiente, por excelência, purificador e clarificador do espírito.
A beleza ímpar que a caracteriza, Natureza de contornos românticos, deve-se à exuberância do verde circundante e à cristalinidade das suas águas.
O parque, aberto ao público, permite o deambular ao acaso, sem pressas, num contacto perfeito com a mãe Natureza.
Transpostos os largos portões de ferro, que dão acesso à imensidão paradisíaca de um espaço único, é-se invadido por uma onda de sensações que percorrem todo o ser: o cheiro da terra e das árvores, a calma encerrada nas águas do lago, ladeado de recantos misteriosos, o fascínio das cores envolventes, o som do silêncio, entrecortado pelo chilreio dos pássaros.
Um conjunto harmonioso e belo de tanta simplicidade.
A Curia com o seu parque, permitem o reencontro pessoal e individual, catalisador de energias, em momentos, necessariamente sós, de procura e pacificação do Eu.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Hino à Amizade

Dizes que o dia nasce, em rituais já gastos, de tanto teimarmos em usá-los.
Reafirmas, num lamento sentido, a falta de coragem em mudarmos rumos, trilharmos novos caminhos, enfrentarmos desafios com a força do querer e, chegarmos ao final, com a certeza que valeu a pena, mesmo que não tenhamos conseguido.
Apelas, de um modo simples e singelo, à coragem da mudança, à inutilidade de decisões adiadas, à importância da caminhada em busca do que desejamos, do que pretendemos, do que precisamos para sermos, simplesmente, felizes.
A ansiedade, que encerras nas ideias, irrompe em gritos de palavras, na urgência do tempo que se escoa.
Desafias a acção na concretização de sonhos a alcançar, ideais a defender.
Percebemo-nos no diálogo do silêncio que estabelecemos.
E a amizade, também, é isso mesmo!
Citando alguém que ambas tão bem conhecemos(sorrindo de saudade com a lembrança):
- «És única!»

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Puzzle de Palavras

Hoje apeteceu-me brincar com as palavras! Desenhar esboços de letras, em sílabas encaixadas num puzzle de significados.
Servi-me do alfabeto: vogais, consoantes, esculpi-o em forma de signos!
As palavras guerra, dor, sofrimento, declarei-as erro ortográfico!
Interditei a formação das suas áreas vocabulares!
Os antónimos de belo, paz e amor, retirei-os do dicionário!
Defendi a sinonímia da alegria e da amizade! Completamente, totalmente, escrupulosamente, com certezas adverbiais.
Exausta da traquinice ortográfica, terminei a brincadeira, redigindo a semântica num esguio ponto de exclamação.
Ah! Oh! ,reajo, ao reler o texto, numa explosão de interjeições!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um Sorriso

A interrupção de Carnaval terminou.
Esta pausa de três dias, no calendário escolar, foi óptima para retemperar forças e recarregar energias.
O regresso ao local de trabalho implica, nuns casos, uma continuidade, noutros, um iniciar de percursos que desafiam e põem à prova a arte, o engenho, a partilha e a solidariedade.
Se um sorriso aflorar em cada gesto, em cada entrega, o caminho a percorrer não custará tanto e os desafios colocados serão superados.
Um sorriso!

Bocadinhos de sonhos meus...


Fernando Pessoa era um génio, ele conseguia, com uma facilidade
desconcertante, dar forma aos pensamentos, transmitir ideias, pois teve a arte suficiente para, realmente, sonhar os seus próprios sonhos e dá-los a conhecer, com uma simplicidade estonteante, em poesia e prosa.
Enquanto não consigo sonhar os meus próprios sonhos (será que alguma vez o conseguirei?) recorro à leitura dos sonhos de outros.
Não são meus, sem dúvida, mas encontro neles, muitas vezes,bocadinhos de sonhos meus!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Silêncios

O reflexo do silêncio espalha-se, inundando palavras mudas, em vagas sucessivas de marés sem sentido.
O silêncio espraia-se no som do seu eco, banhando, com águas revoltas, a incompreensão do saber em reflexões afundadas no sentir.
As não palavras agitadas, espumam do pensamento: são como ondas rebeldes, numa praia de emoções, sob um pôr-do-sol do querer. A luz, emanada dos seus raios, torna-se ténue, difusa, como farol apagado no meio de tempestade.
Os uivos do pensamento soltam-se em vendavais de desilusão, agigantam-se em ondas de silêncio, desfazendo castelos de sonhos, nas dunas do sentir, num combate entre a terra e o mar.
O silêncio, trazido pelo equinócio do nada, compõe, em semi- breves de tempo, claves de solidão em partituras de vida, diálogos mudos em legendas não percebidas.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A Alma do Mundo

A metereologia anunciava a chegada de uma massa de ar frio vindo do Pólo Norte que faria descer as temperaturas nos próximos dias.
A constatação da veracidade da notícia não se demorou a fazer sentir.
De facto, o frio anunciou-se: estendeu-nos o seu manto debruado de geada e orvalho e envolveu-nos num abraço gélido, cortante.
Com esta descida rápida da temperatura, o quentinho da lareira tornou-se apetecido, aquecendo corpo e espírito.
As labaredas que se desprendem, de um tronco de carvalho a arder , aquecem o ambiente circundante, amenizando- o.
Sentada em frente à lareira, fixo o olhar nos tons fortes que irradiam dos troncos a arder e esvazio o pensamento. O nada conquista-me as ideias e deixo-me transportar para o coração da chama tremeluzindo, seduzida pelo som do crepitar da lenha seca. De repente, já não sou eu, o espírito vagueia, hipnotizado pela magia da dança do fogo. Deixo-me ficar, inebriada pela sensação de bem estar que me invade o ser.
O fogo, em chamas cada vez mais ténues, despede-se da noite e, lentamente, apaga-se, numa mornice apetecida. As brasas incandescentes convidam-me a despertar do sono acordado em que mergulhara.
Por momentos, percepcionei a alma do Mundo e a harmonia unificadora dos seus elementos.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Verdade de La Palisse

Um fim-de-semana que começa e, com ele, uma interrupção breve, com cheirinho a férias, e sabor a descanso, óptima para retemperar forças e concluir projectos em aberto.
Sem preocupações com o “timing”, recostei-me no sofá e presenteei-me com um momento de nada fazer, numa dádiva completa ao prazer de saborear aquele fragmento de tempo.
Um cheirinho a comida apetitosa fluía pelo ar e despertava-me os sentidos, enquanto assistia ao decorrer das notícias, um pouco distraída.
À inactividade do corpo, contrapunha-se a actividade da mente, num turbilhão de pensamentos e reflexões, entre o que ouvia e o que relembrava.
De repente, uma frase destaca-se no meio de tantas outras. A atenção direcciona-se para o ecrã. As imagens remetiam-se ao ano de 2004, e transmitiam uma intervenção de José Sócrates, ainda na oposição, em que o mesmo pedia explicações ao governo, presidido na altura por Santana Lopes, sobre o afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa, como comentador político, da TVI, insinuando que teria havido pressões por parte do poder político. E acrescentava “ O governo que não é capaz de aceitar a livre crítica, não é um governo democrático. “
Sorri! E recordei, lembrei-me dos contraditórios de Mário Crespo, do afastamento de Manuela Moura Guedes e da saída de José Eduardo Moniz da TVI, do caso do jornal Sol e da quase impossibilidade de ser publicado, devido a uma providência cautelar.
E conclui que o Engenheiro José Sócrates nunca falou tão verdade quando, em 2004, dissera que “O governo que não é capaz de aceitar a livre crítica, não é um governo democrático."

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Bocadinhos do Tempo

Viajar à infância, é voltar a ser menina, de sorriso aberto, prenha de inocência e a certeza de tudo.
Reviver a infância, é saborear, outra vez, o suco adocicado das maçãs colhidas das árvores; é sentir o roçar da brisa, acariciando o rosto; é correr livremente com os cabelos soltos ao vento, num final de tarde sereno e tranquilo, emoldurado pelo alaranjado, de um pôr - de Sol soberbo, com cheiro a terra e a campo.
Relembrar a infância, é sentir o feitiço do brilho cintilante das luzes perdidas, no escuro da serrania, como um negro manto incrustado de diamantes; é cheirar o quente do ar, ou a brisa amena da noite; é ser embalada pela melodia emanada da água que brota da fonte; é olhar o céu imenso, espelhando o luar prateado de Agosto.
Recordar a infância é rever, à distância, o salto por entre as poças de água e o cheiro a terra seca, após uma breve, mas intensa chuvada de Verão; é o inebriar com a magia irradiada de uma explosão de cores, de um arco-íris maravilhoso e acreditar que, no seu fim, há um tesouro a descobrir.
Viajar à infância, é relembrar a pureza de uma criança moldada mulher, pela vontade do tempo e as congruências da vida.
Viajar à infância é reaver bocadinhos de um tempo passado, numa pausa do presente.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Ar do Marão

Homem rude, mas simples, moldado pelas forças agrestes da Natureza, face enrugada, de tanto sol e vento apanhar nas jornas de uma vida, era João, apenas João, já que na aldeia onde nascera, vivera e morrera, assim era conhecido, desde que largara os cueiros e começara, ainda pequeno, a acompanhar o pai e os irmãos na lida do campo.
Eram tempos difíceis, toda a força de trabalho era necessária para o sustento da família.
A meninice? Desconheceu-a! Desde cedo, aprendeu as agruras da vida e descobriu que crescera sem ser menino. Ser menino era um luxo. Ele, filho de camponeses, não soube o que era brincar. Os seus bonecos foram a enxada e o ancinho. Os seus tempos de lazer foram o lavrar a terra e guardar os animais do patrão no monte.
Não aprendeu a ler, não o levaram à escola. As letras e os números eram as plantas, as ervas, os animais, as veredas e caminhos percorridos pelos montes circundantes da terra que o vira nascer.
Cresceu com a Natureza: selvagem, livre, potente. Confundia-se com a paisagem serrana, que fora o seu mestre-escola.
Com o tempo, moldou-se homem: casou, formou família, envelheceu.
Apesar do aspecto rude e simples, era um homem verdadeiro, de espírito transparente e olhar cristalino. Com o decorrer da idade, por vezes, tornava-se matreiro e ladino, como quem revive as traquinices da meninice não sabida.
A sua vida, foram muitos capítulos de uma só história, em que o mais célebre de todos ocorreu, quando era caseiro de uma abastada família da capital, que fazia da aldeia o seu refúgio de férias.
Questionado, sobre a razão das galinhas darem muito poucos ovos, a partir do momento em que a família chegava à aldeia, João respondeu com um ar cândido: «Senhora, as galinhas não dão ovos por causa do ar do Marão»!
Mal sabia João, que a Senhora, matreira como ele, pela escola da vida, vira-o ir à capoeira, ainda o sol despertava em raios sonolentos, apanhar os ovos e levá-los consigo!
A Natureza chamou-o: regressou às urzes e giestas do campo, por entre as fragas e serranias.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Projecto Âncora

A solidariedade e a partilha são dois valores éticos, que marcam a diferença em muitas situações de vida.
Por um mero acaso, tomei conhecimento da existência de uma organização, «Âncora», sediada em Sintra e que tem por fim prestar apoio a todos os que sentiram e sentem, no mais âmago do seu ser, a dor da perda de um filho.
Não consigo imaginar sequer o tamanho de tal dor, apenas sei, só de o pensar, que será tão intensa, que nem o passar do tempo conseguirá atenuar os efeitos que provoca: dormência do ser, perda do querer.
Esta organização promove reuniões, em várias partes do país, e, com este gesto, envolve, num enorme abraço de solidariedade e entreajuda, todos os que sentiram a vertigem provocada pela perda.
A dor espelhada no rosto, em marcas profundas, tão negras como as vestes que envergam transmite, sem a necessidade do recurso à palavra, toda a angústia, toda a tristeza daquelas mães que encontraram, na «Âncora», a corrente que as prende à vida e as impede de naufragarem.
Como afirmava uma das mães, num lamento perdido, quase um sussurro inaudível «eles nunca morrem, não é? eles só morrem quando nós partirmos, vão connosco...».
Uma frase que encerra em si todo o amor de mãe e só verdadeiramente (pre) sentida por quem é mãe.
http://www.anossaancora.org/

Acasos da Vida

Há acasos, inesperados, surpreendentes (se assim não fosse, não o seriam) que, quando ocorrem, obrigam-nos a reflectir sobre o entrelaçado da vida, despertando, ou realçando, em nós, a vertente mais humana que, envergonhadamente, teimamos em esconder do mundo, como se fosse um sinal de fraqueza que não nos é permitido ter, segundo os parâmetros sociais que nos impõem.
Hoje, ocorreu um desses acasos, e num "close up" de recordações, veio-me à memória uma frase, lida algures, mas não esquecida no tempo, que dizia algo do género «quando entrares numa livraria, e te perderes na infinidade e diversidade da oferta, não te preocupes, porque o livro certo vai-te escolher e fará com que o saibas e o encontres».
Tal como na livraria, também na nossa rotina quotidiana, há ocasiões em que parece que as situações nos escolhem, para acontecerem.
E então, paramos, pensamos, reflectimos e, mais do que tudo, agradecemos: agradecemos os filhos perfeitos que gerámos, agradecemos o trajecto de vida que percorrem, sem (in) acidentes, gratificamo-nos pelo emprego que mantemos, pelos bens materiais que nos permitimos ter, agradecemos pela saúde, baluarte de autonomia de vida, agradecemos pelos amigos que sabemos estarem lá, agradecemos por podermos admirar o pôr-do-sol e emocionarmo-nos com o luar, de uma noite de Agosto, agradecemos por podermos acordar, ainda, ao som do chilrear dos pássaros, escutarmos o canto das cigarras e a sinfonia dos grilos, agradecemos pela infinidade do que temos e, principalmente, porque não estamos do lado dos que não têm tantas razões para agradecer.
E depois de agradecermos todas as maravilhas da vida, desejamos poder continuar a ter motivos para nunca pararmos de o fazer.
Agradeço, Senhor, por tudo o que eu tenho, por tudo o que eu sou, por tudo o que eu posso fazer acontecer em meu redor.
Obrigado!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Rosa Lobato Faria

Quando editei o post anterior, nunca supus que este pudessse estar tão interligado com o assunto do presente post: a homenagem à escritora Rosa Lobato Faria.
Confesso que pouco conhecia desta senhora, a não ser no papel de actriz, na sua breve passagem pela televisão, através das telenovelas em que participou e num ou outro programa de entreternimento.
Como leitora devoradora que sou,o nunca ter incluído livros desta autora nas minhas opções de leitura, não é mais que uma gafe literária cometida.
A consciência deste facto foi despertada através de um mail recebido que me possibilitou, de um modo breve, um contacto com uma identidade literária que desconhecia.
Pela maneira como se posicionou perante os desafios da vida, pelas escolhas feitas, pela integridade e defesa das escolhas de vida, Rosa Lobato Faria morreu de pé, como as árvores.
Ofereço, em jeito de sugestão, a sua autobiografia, escrita para o JL e publicada há cerca de 2 anos.
É um texto longo, mas com uma fluência de ideias, esculpidas em palavras, que delícia o espírito.

"Autobiografia
Quando eu era pequena havia um mistério chamado Infância. Nunca tínhamos ouvido falar de coisas aberrantes como educação sexual, política e pedofilia. Vivíamos num mundo mágico de princesas imaginárias, príncipes encantados e animais que falavam. A pior pessoa que conhecíamos era a Bruxa da Branca de Neve. Fazíamos hospitais para as formigas onde as camas eram folhinhas de oliveira e não comíamos à mesa com os adultos. Isto poupava-nos a conversas enfadonhas e incompreensíveis, a milhas do nosso mundo tão outro, e deixava-nos livres para projectos essenciais, como ir ver oscilar os agriões nos regatos e fazer colares e brincos de cerejas. Baptizávamos as árvores, passeávamos de burro, fabricávamos grinaldas de flores do campo. Fazíamos quadras ao desafio, inventávamos palavras e entoávamos melodias nunca aprendidas.
Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a surpreendente mania de acreditar que isso era bom.
Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.
E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria (não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).
Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos, depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.
Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te, menina, que vais ser escritora.
Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas, vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele molhávamos os pés e as almas.
Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves.
Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca, vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre que ninguém tinha na vida real).
Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.
Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho, erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta até, praticamente, ao infinito.
Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63 anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê, pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).
Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens. Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça, idade ou religião. É um progresso enorme.
Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30, comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores. Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.
Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e, no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.
Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só me dão este espaço que, para 75anos de vida, convenhamos, não é excessivo.
Encontramo-nos no meu próximo romance."
Rosa Lobato Faria

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Monumentos Humanos

O tempo passa demasiado rápido e só nos apercebemos disso, quando olhamos para o espelho e não reconhecemos a imagem reflectida.
Nessa passagem do tempo, espraiando-se num percurso de vida, de quase cinquenta anos, muitas têm sido as pessoas que conheci e com quem contactei. Umas, rápido de mais, como fumo esgueirando-se pela chaminé da vida; outras, num compasso mais lento,como as águas de um rio perto da foz: ficaram, permaneceram em imagens nítidas, que o tempo não consegue esbater; marcaram pela importância que tiveram no enredo da vida, pelo modo íntegro, vertical e corajoso com que enfrentaram os desafios que se lhes depararam, agindo sempre de acordo com os seus ideais, mesmos em contextos desfavoráveis, sem nunca desistirem dos sonhos almejados, tal como o marinheiro, que no alto da sua gávea, em pleno oceano,busca, na infinitude do horizonte, uma porção de terra, onde possa amarar e disfrutar do descanso merecido.
Este tipo de pessoas,com quem tive o privilégio de me relacionar, assemelho-as a árvores potentes, fortes, de raízes bem seguras no solo, que nenhuma tempestade consegue derrubar, mesmo que os elementos do tempo se conjuguem em frentes de baixas pressões,acompanhadas de furacões e chuvas torrenciais de pensamentos e palavras, empurradas pelo uivo do vento que parece gritar, sussurrando num murmúrio « desistam».
Este tipo de pessoas, são monumentos humanos e, tal como as árvores, também morrrerão de pé!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"(...)Os contraditórios(...)"in M.C

2 de Fevereiro de 2010, a notícia explodiu em todos os Orgãos da Comunicação Social: Mário Crespo, conceituado jornalista, colaborador do Jornal de Notícias, viu um artigo seu, ser impedido de sair na edição de hoje.
Nesse artigo, de opinião, o jornalista fazia referência a um almoço havido, num conceituado hotel, da capital, entre o Primeiro Ministro, José Sócrates e alguns membros do seu staf, no qual participava, também, um executivo da televisão.
Mário Crespo descrevia o teor da conversa que, pelo tom e intensidade de voz dos interlocutores, fora audível a quem se encontrava nas mesas em redor.
Nessa conversa, segundo fontes fidedignas, que o jornalista afirma possuir,discutia-se o incómodo que as críticas dos seus artigos têm vindo a provocar ao visado: José Sócrates.
É do conhecimento público, a opinião que este jornalista sempre defendeu em relação às políticas do Primeiro Ministro. Hoje, seria mais uma de entre muitas, mas foi silenciada por motivos que escondem-se na razão.Medo?
E este episódio fez-me recordar um tempo em que, também, era proíbido opinar-se de maneira diferente.
Um tempo, em que as palavras consentidas eram propriedade só de alguns.
Um tempo, em que as diferenças de opinião e de pensamento eram sonegadas a qualquer preço e de qualquer modo: os meios justificavam os fins.
Um tempo, em que a diferença de pensamento resistia a todos os ataques, em que os discursos impróprios e indesejados, pelo poder, nasciam de partos difíceis, pelas mãos dos que, sempre, fizeram da palavra a única arma capaz de vencer o autoritarismo, a arrogância, a falta de visão. Aqueles que, contra a força do poder, responderam com a força das palavras, com a força do querer, com a força de um sonho...
Hoje, dia 2 de Fevereiro de 2010, mais um contraditório foi silenciado!
Hoje, 2 de fevereiro de 2010, os ideais de Abril distanciaram-se um pouco mais.

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=161453

Virtualismos

A Internet revelou-se, nos últimos anos, como sendo uma das invenções que maiores alterações veio provocar nos hábitos de vida, nas rotinas diárias das pessoas.
Surgindo, como consequência da capacidade humana em vencer desafios, é um exemplo, entre outros, de como o Homem, quando se despe de preconceitos, eleva o seu pensamento a horizontes não imaginados e abre o seu coração à alma do Mundo, faz emergir o lado divino que em si habita.
Com a Internet, as cortinas cerradas das janelas do Mundo rasgaram-se, permitindo vislumbrar cenários desconhecidos, enquanto as fronteiras diluíam-se e a noção do tempo redefinia-se.
Hoje em dia, a Net é o vapor da Web que encurta distâncias, navegando nas águas profundas do mar virtual.
A capacidade do Homem em redescobrir -se e reinventar-se não tem limites: os desafios vencidos são, imediatamente, substituídos por outros a vencer. A senda do desenvolvimento é infinita.
O Futuro é pensado hoje.