Os serões das quintas-feiras repetem-se, deliciosamente, numa rotina um tanto ou quanto enigmática, assaz perspicaz e repleta de savoir faire. Hercule Poirot, personagem deliciosamente esculpida pela mão de Agatha Christie, anima as noites de quinta-feira, numa viagem ao passado, através da RTP- Memória.
Confesso que, desde que soube desta programação, não perco nenhum episódio.
Todas as quintas, sensivelmente por volta das 22. 20h, liberto a minha faceta “detectivesca” e embrenho-me nos mistérios a solucionar, competindo com as celulazinhas cinzentas do detective belga, Hercule Poirot.
Durante cerca de uma hora e meia saboreio, com prazer, os desafios lançados nos dois episódios transmitidos. E como sabe bem exercitar o raciocínio lógico-dedutivo sem ser na área da matemática!
Bem, confesso que, muitas vezes, não consigo competir com a argúcia de Poirot, e as minhas congeminações ficam muito aquém dessa personagem, cuja cabeça em forma de ovo e senhor de um cuidado bigode surrealista o tornam único e inesquecível.
Os serões de quinta-feira tornaram-se, assim, um ritual ansiado, um momento desejado de prazer e participação. Com eles a lembrança do tempo em que, na minha adolescência, devorava todos os livros policiais da velhinha colecção Vampiro pertencente a meu pai e de quem fui buscar o gosto por este género de literatura.
Rever esta série, adaptada das obras de Agatha Christie, será sempre um prazer inolvidável.
Desafioos é já por si um desafio lançado em forma de repto: "Andas muito filosófica, tens de criar um blogue!". Porque gosto de desafios, aceitei o desafio e criei este blogue.
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sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Banalidades
Hoje decidi escrever sobre... nada.
Escrever sobre nada, é quase impossível pois, mesmo elegendo o nada como assunto da escrita, à medida que as ideias fluem, o nada vai-se transformando, paulatinamente, em...tudo: tudo o que o pensamento me ditar, tudo o que as memórias me recordarem, tudo o que as emoções me transmitirem.
O nada abre hipóteses infinitas em que o tudo é posssível!
A magia da escrita consiste nisso mesmo: na possibilidade de, a partir de um nada não pensado, de um vazio de ideias ou mesmo de pequenas banalidades, transformar esse “caos desordenado", no campo das decisões e das escolhas, em assuntos potencialmente interessantes para desenvolver. Muitos são os factores responsáveis pelas opções tomadas em termos de linhas condutoras que norteiam as decisões de cada um de nós nas suas escolhas.
E porque hoje decidi escrever sobre o nada, apenas meras banalidades, termino este meu post perdida de sono e pronta para ir descansar.
Pode ser que a madrugada, no seu sono tranquilo e reparador, espalhe, no silêncio da noite, a sua magia e beleza e inspire quem hoje decidiu escrever sobre o … nada!
Escrever sobre nada, é quase impossível pois, mesmo elegendo o nada como assunto da escrita, à medida que as ideias fluem, o nada vai-se transformando, paulatinamente, em...tudo: tudo o que o pensamento me ditar, tudo o que as memórias me recordarem, tudo o que as emoções me transmitirem.
O nada abre hipóteses infinitas em que o tudo é posssível!
A magia da escrita consiste nisso mesmo: na possibilidade de, a partir de um nada não pensado, de um vazio de ideias ou mesmo de pequenas banalidades, transformar esse “caos desordenado", no campo das decisões e das escolhas, em assuntos potencialmente interessantes para desenvolver. Muitos são os factores responsáveis pelas opções tomadas em termos de linhas condutoras que norteiam as decisões de cada um de nós nas suas escolhas.
E porque hoje decidi escrever sobre o nada, apenas meras banalidades, termino este meu post perdida de sono e pronta para ir descansar.
Pode ser que a madrugada, no seu sono tranquilo e reparador, espalhe, no silêncio da noite, a sua magia e beleza e inspire quem hoje decidiu escrever sobre o … nada!
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Contra-senso
A linha orientadora que, desde o início, delineei para este blog não contemplava incursões no campo da política.
No entanto, os episódios, quase diários, protagonizados pelos políticos portugueses, nos últimos tempos, as decisões tomadas e as medidas implementadas, com as inevitáveis repercussões no tecido social e económico do país, fizeram-me mudar de opinião e decidir fazer deste meu espaço de reflexão o lugar ideal para exercer o meu direito de cidadania.
Ora nesta sequência, abordo hoje um assunto que, pelo caricato que comporta, não poderia deixar de o referir.
O sistema prisional português introduziu, há algum tempo atrás, uma medida que permite aos presidiários, com penas acima dos seis meses, poderem receber visitas de esposa/marido/namorada/namorado, numa sala privada, de modo a satisfazerem o lado emotivo e afectivo.
Não questionando esta permissão – com a qual não concordo – fiquei espantada quando soube que os serviços prisionais fornecem, gratuitamente, os preservativos para os encontros amorosos nas cadeias.
Corta-se nos abonos de família e nos vencimentos, congelam-se salários e progressões, fecham-se escolas, maternidades e urgências, mas, em contrapartida, o Estado desbarata, com acções deste teor, o erário público português!
Gostaria que alguém me explicasse este contra-senso porque eu não consigo entender!
No entanto, os episódios, quase diários, protagonizados pelos políticos portugueses, nos últimos tempos, as decisões tomadas e as medidas implementadas, com as inevitáveis repercussões no tecido social e económico do país, fizeram-me mudar de opinião e decidir fazer deste meu espaço de reflexão o lugar ideal para exercer o meu direito de cidadania.
Ora nesta sequência, abordo hoje um assunto que, pelo caricato que comporta, não poderia deixar de o referir.
O sistema prisional português introduziu, há algum tempo atrás, uma medida que permite aos presidiários, com penas acima dos seis meses, poderem receber visitas de esposa/marido/namorada/namorado, numa sala privada, de modo a satisfazerem o lado emotivo e afectivo.
Não questionando esta permissão – com a qual não concordo – fiquei espantada quando soube que os serviços prisionais fornecem, gratuitamente, os preservativos para os encontros amorosos nas cadeias.
Corta-se nos abonos de família e nos vencimentos, congelam-se salários e progressões, fecham-se escolas, maternidades e urgências, mas, em contrapartida, o Estado desbarata, com acções deste teor, o erário público português!
Gostaria que alguém me explicasse este contra-senso porque eu não consigo entender!
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Roubar legalmente
A propósito de um mail que circula pela Net sobre a não obrigatoriedade do pagamento da utilização dos audiovisuais apensados à factura da EDP e, já que necessitei de me dirigir aos serviços desta empresa, resolvi solicitar ao funcionário que me facultasse o respectivo modelo com a intenção de o preencher.
Prontamente, quem me atendia informou-me da não existência de tal impresso. Como não ficasse muito convencida e para que não restasse qualquer dúvida, o funcionário forneceu-me uma fotocópia do Decreto-Lei que legisla tal pagamento.
De facto, nos pontos 2 e 5, do artigo 3º, do Decreto-Lei nº 169-A/2005, de 3 de Outubro, lê-se "A contribuição para o audiovisual incide sobre o fornecimento de energia eléctrica, sendo devida mensalmente pelos respectivos consumidores" e " As empresas distribuidoras (...) não podem emitir facturas (...) nem aceitar o respectivo pagamento (...) sem que ao preço da energia seja somado o valor da contribuição para o audiovisual."
Portanto, o pagamento deste imposto é obrigatório e, por mais que não estejamos de acordo, não há como evitá-lo.
O mais grave, nesta situação toda, é que a razão para a sua criação prendeu-se com "a necessidade de contribuir para a sustentabilidade financeira do serviço público de rádio e de televisão (...)
Ou seja os portugueses estão a pagar mensalmente um imposto de cerca de 2 euros que, a partir de Janeiro, irá duplicar, para manterem uma estação televisiva estatal com vida, já que os únicos "lucros" que apresenta são negativos.
Pergunta-se: Porque razão continuamos, teimosamente, a alimentar uma estação televisiva cujos únicos interessados, na manutenção da sua forma estatal, são os sucessivos governos de modo a poderem ter um canal que lhes dê cobertura e onde possam mandar e desmandar?
Por que, face aos prejuízos apresentados, ano após ano, não se viabiliza uma solução que passe pela sua privatização? Afinal estamos em crise e, quando há hipótese do governo tomar medidas que ajudem a combater o deficit, nada faz a não ser obrigar os mesmos de sempre a pagarem?
Isto é uma maneira descarada de roubarem o povo português.
O grave problema deste país, que se vem arrastando há já alguns anos e cujas consequências começam agora a serem sentidas e visíveis, reside no naipe de políticos que temos tido e que não têm sabido gerir convenientemente os interesses do Estado.
É admissível, quando se aposta num discurso que apela à contenção e às reduções das despesas do Estado, o governo ir gastar cerca de dois milhões de euros em publicidade sobre o censo de 2011 que se avizinha? E para quê tantos milhões destinados às decorações e outras despesas do género que em nada contribuem para o bem - estar de um país?
Se isto não é gozar com cada um dos portugueses que sente na pele a dureza das medidas que desde 2005 têm vindo a ser aplicadas e a demonstração de uma total falta de respeito então, os valores pelos quais me pauto estão errados.
Precisamos de seguir o exemplo do que se passa em França, mas infelizmente Portugal é um país à beira mar plantado, de gente que refila muito, mas pouco faz para alterar a situação em que nos encontramos, demonstrando veementemente, com acções cívicas, o seu desagrado e descontentamento.
Somos os eternos tristes da Europa!
Assina: Uma contribuinte e cidadã que perdeu a esperança em quem nos governa, e lamenta tristemente o destino deste país.
Prontamente, quem me atendia informou-me da não existência de tal impresso. Como não ficasse muito convencida e para que não restasse qualquer dúvida, o funcionário forneceu-me uma fotocópia do Decreto-Lei que legisla tal pagamento.
De facto, nos pontos 2 e 5, do artigo 3º, do Decreto-Lei nº 169-A/2005, de 3 de Outubro, lê-se "A contribuição para o audiovisual incide sobre o fornecimento de energia eléctrica, sendo devida mensalmente pelos respectivos consumidores" e " As empresas distribuidoras (...) não podem emitir facturas (...) nem aceitar o respectivo pagamento (...) sem que ao preço da energia seja somado o valor da contribuição para o audiovisual."
Portanto, o pagamento deste imposto é obrigatório e, por mais que não estejamos de acordo, não há como evitá-lo.
O mais grave, nesta situação toda, é que a razão para a sua criação prendeu-se com "a necessidade de contribuir para a sustentabilidade financeira do serviço público de rádio e de televisão (...)
Ou seja os portugueses estão a pagar mensalmente um imposto de cerca de 2 euros que, a partir de Janeiro, irá duplicar, para manterem uma estação televisiva estatal com vida, já que os únicos "lucros" que apresenta são negativos.
Pergunta-se: Porque razão continuamos, teimosamente, a alimentar uma estação televisiva cujos únicos interessados, na manutenção da sua forma estatal, são os sucessivos governos de modo a poderem ter um canal que lhes dê cobertura e onde possam mandar e desmandar?
Por que, face aos prejuízos apresentados, ano após ano, não se viabiliza uma solução que passe pela sua privatização? Afinal estamos em crise e, quando há hipótese do governo tomar medidas que ajudem a combater o deficit, nada faz a não ser obrigar os mesmos de sempre a pagarem?
Isto é uma maneira descarada de roubarem o povo português.
O grave problema deste país, que se vem arrastando há já alguns anos e cujas consequências começam agora a serem sentidas e visíveis, reside no naipe de políticos que temos tido e que não têm sabido gerir convenientemente os interesses do Estado.
É admissível, quando se aposta num discurso que apela à contenção e às reduções das despesas do Estado, o governo ir gastar cerca de dois milhões de euros em publicidade sobre o censo de 2011 que se avizinha? E para quê tantos milhões destinados às decorações e outras despesas do género que em nada contribuem para o bem - estar de um país?
Se isto não é gozar com cada um dos portugueses que sente na pele a dureza das medidas que desde 2005 têm vindo a ser aplicadas e a demonstração de uma total falta de respeito então, os valores pelos quais me pauto estão errados.
Precisamos de seguir o exemplo do que se passa em França, mas infelizmente Portugal é um país à beira mar plantado, de gente que refila muito, mas pouco faz para alterar a situação em que nos encontramos, demonstrando veementemente, com acções cívicas, o seu desagrado e descontentamento.
Somos os eternos tristes da Europa!
Assina: Uma contribuinte e cidadã que perdeu a esperança em quem nos governa, e lamenta tristemente o destino deste país.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Noite
A constatação de que a noite exerce sobre mim um fascínio inexplicável é um facto há muito descoberto.
Sem dúvida, a noite é, por excelência, o momento do dia em que me confesso, reflicto, e me reajusto num movimento interior de auto conhecimento e da procura da parte mais escondida dos outros.
A noite conflui em si uma aura de misticismo e secretismo que me transporta para os confins do desconhecido numa demanda pessoal, única e nunca acabada.
É à noite, quando a escuridão e o silêncio se espalham em vagas sucessivas e invadem o todo, que o cenário ideal acontece para que uma outra luz, foco de energia, resplandesça e brilhe em todo o seu esplendor e, projectando-se no infinito, expluda em jorros de beleza inalcançável e indescritível.
Talvez um dia, na longa noite, algures, num ponto do espaço infinito e de um tempo ainda não sabido, a junção entre as duas aconteça e a busca do “Graal” pessoal cesse.
E finalmente uma doce serenidade envolva e abrace um ser à descoberta de si próprio.
Sem dúvida, a noite é, por excelência, o momento do dia em que me confesso, reflicto, e me reajusto num movimento interior de auto conhecimento e da procura da parte mais escondida dos outros.
A noite conflui em si uma aura de misticismo e secretismo que me transporta para os confins do desconhecido numa demanda pessoal, única e nunca acabada.
É à noite, quando a escuridão e o silêncio se espalham em vagas sucessivas e invadem o todo, que o cenário ideal acontece para que uma outra luz, foco de energia, resplandesça e brilhe em todo o seu esplendor e, projectando-se no infinito, expluda em jorros de beleza inalcançável e indescritível.
Talvez um dia, na longa noite, algures, num ponto do espaço infinito e de um tempo ainda não sabido, a junção entre as duas aconteça e a busca do “Graal” pessoal cesse.
E finalmente uma doce serenidade envolva e abrace um ser à descoberta de si próprio.
domingo, 17 de outubro de 2010
Intempérie
Como o mar revolto, em dias de intempérie, solto ecos de mim espelhando a tempestade.
Voo na senda da plenitude.
Solto-me e, nas asas do vento, parto, rumo à ilusão da liberdade, em busca de um lugar, algures entre a terra e o mar, e nele, por fim pousar e calmamente me encontrar.
sábado, 16 de outubro de 2010
Se eu pudesse
"..."Se eu pudesse
Tempestade |
embriagar-me de um poema...
Se a pena que trago
em frases me fizessem chegar
n'algum lugar...
Seria mar, chão batido e luar...
Seria cada gota d'água
desaguando nas letras
de qualquer poemar."
Pedro Miller
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
IF...
(No início de mais uma calma madrugada, lembrei-me deste poema que, de algum modo, há alguns anos atrás, constituiu um marco importante na afirmação do meu Eu consciente, político e ético.
Entrego-me à noite cálida e serena, embalada pela beleza sábia do "If" de Rudyard Kipling, recordando, com carinho, uma etapa do processo que me formou.)
Se...
Se podes conservar o teu bom senso e a calma,
Num mundo a delirar, pra quem o louco és tu,
Se podes crer em ti com toda a força d'alma,
Quando ninguém te crê; Se vais, faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário,
Se à torva intolerância, se à mera incompreensão,
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas de Amor e bençãos de Perdão;
Se podes dizer bem de quem te calunia,
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afetação de um Santo que oficia,
Nem pretensões de Sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a Esperança,
Sonhar, mas conservar-te acima do teu Sonho,
Fazer do pensamento um Arco de Aliança,
Entre o clarão do Inferno e a luz do Sol risonho;
Se podes encarar com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota - eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o Mal,
E resignar, sorrindo, o Amor dos teus Amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste;
Se és homem pra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todos o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Banhadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo;
Se podes obrigar o coração e os músculos,
A renovar um esforço hà muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só existe a Vontade a comandar "Avante!";
Se vivendo entre os Pobres, és Virtuoso e Nobre
Ou vivendo entre os Reis, conservas a Humildade;
Se amigo ou inimigo, o Poderoso e o Pobre
São iguais para ti, à luz da Eternidade;
Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta,
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;
Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os Reis, os Tempos, os Espaços,
Mas, 'inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um Infinito ao rumo dos teus passos;
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te meu Filho, então... serás um HOMEM.
Rudyard Kipling,
versão portuguesa da autoria de Félix Bermudes
Entrego-me à noite cálida e serena, embalada pela beleza sábia do "If" de Rudyard Kipling, recordando, com carinho, uma etapa do processo que me formou.)
Se...
Se podes conservar o teu bom senso e a calma,
Num mundo a delirar, pra quem o louco és tu,
Se podes crer em ti com toda a força d'alma,
Quando ninguém te crê; Se vais, faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário,
Se à torva intolerância, se à mera incompreensão,
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas de Amor e bençãos de Perdão;
Se podes dizer bem de quem te calunia,
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afetação de um Santo que oficia,
Nem pretensões de Sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a Esperança,
Sonhar, mas conservar-te acima do teu Sonho,
Fazer do pensamento um Arco de Aliança,
Entre o clarão do Inferno e a luz do Sol risonho;
Se podes encarar com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota - eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o Mal,
E resignar, sorrindo, o Amor dos teus Amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste;
Se és homem pra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todos o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Banhadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo;
Se podes obrigar o coração e os músculos,
A renovar um esforço hà muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só existe a Vontade a comandar "Avante!";
Se vivendo entre os Pobres, és Virtuoso e Nobre
Ou vivendo entre os Reis, conservas a Humildade;
Se amigo ou inimigo, o Poderoso e o Pobre
São iguais para ti, à luz da Eternidade;
Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta,
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;
Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os Reis, os Tempos, os Espaços,
Mas, 'inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um Infinito ao rumo dos teus passos;
Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te meu Filho, então... serás um HOMEM.
Rudyard Kipling,
versão portuguesa da autoria de Félix Bermudes
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Dolce fare niente
Manter-se um blog obriga, necessariamente, à publicação, senão diariamente, pelo menos com frequência.
E se há dias em que as ideias pululam e a escrita escorre célere, outros há, porém, em que o acto de escrever empena, emperra, esbarra no vazio do assunto.
Hoje, é um daqueles em que poderia ter feito as mais variadas abordagens. Contudo, confesso que não me apeteceu. Com a música por companhia, recosto-me e, num abandono assumido, permito-me usufruir do saboroso "dolce fare niente" de final de serão. E como sabe bem o nada fazer após um dia de intenso trabalho!
“Dolce fare niente”, a melhor terapia de contemplação na busca da renovação, da alegria, e da leveza de espírito e de corpo.
Mais do que nenhum outro povo, os latinos percebem bem a importância deste momento catalisador de energias pessoais.
O “dolce fare niente” embala-nos no prazer do nada e do tudo!
E se há dias em que as ideias pululam e a escrita escorre célere, outros há, porém, em que o acto de escrever empena, emperra, esbarra no vazio do assunto.
Hoje, é um daqueles em que poderia ter feito as mais variadas abordagens. Contudo, confesso que não me apeteceu. Com a música por companhia, recosto-me e, num abandono assumido, permito-me usufruir do saboroso "dolce fare niente" de final de serão. E como sabe bem o nada fazer após um dia de intenso trabalho!
“Dolce fare niente”, a melhor terapia de contemplação na busca da renovação, da alegria, e da leveza de espírito e de corpo.
Mais do que nenhum outro povo, os latinos percebem bem a importância deste momento catalisador de energias pessoais.
O “dolce fare niente” embala-nos no prazer do nada e do tudo!
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Espelho
Há valores morais e éticos que, independentemente da situação ou contexto em que o ser humano se movimente, serão sempre intemporais, inquestionáveis, imperativos.
Uma das diferenças entre um Homem e um homem reside no modo como o ser humano, numa situação de prevalência sobre outro ser humano, age, interage, reage.
Os momentos de tensão e conflito, geradores de emoções por excelência, reflectem e espelham, de um modo ímpar e nas acções desencadeadas, a verdadeira essência do ser.
Uma das diferenças entre um Homem e um homem reside no modo como o ser humano, numa situação de prevalência sobre outro ser humano, age, interage, reage.
Os momentos de tensão e conflito, geradores de emoções por excelência, reflectem e espelham, de um modo ímpar e nas acções desencadeadas, a verdadeira essência do ser.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
O espírito do dia
Teimosamente, uma chuva miudinha persistiu em cair durante todo o dia.
O tempo, de cara mal disposta e ar zangado, convidava ao aconchego do lar.
Em dias como este, em que o cinzento das nuvens encobre a luminosidade e escurece o humor, sabe bem acender o lume e ficar na penumbra, contemplando a dança executada pelo crepitar do fogo.
O estado de espírito do dia contagia o da alma num convite à evasão dos sentidos.
As horas passam na monotonia compassada da chuva a cair.
Anoitece.
O tempo, de cara mal disposta e ar zangado, convidava ao aconchego do lar.
Em dias como este, em que o cinzento das nuvens encobre a luminosidade e escurece o humor, sabe bem acender o lume e ficar na penumbra, contemplando a dança executada pelo crepitar do fogo.
O estado de espírito do dia contagia o da alma num convite à evasão dos sentidos.
As horas passam na monotonia compassada da chuva a cair.
Anoitece.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Os lapsos da República
Cem anos, cem escolas.
O governo decidiu, num gesto simbólico, senão mesmo forçado, fazer coincidir a inauguração oficial de 100 escolas, algumas reformuladas, com a efeméride do centenário da República.
Na minha modesta opinião, considero tal acção uma mera manobra política de marketing , com vista a diminuir os efeitos negativos que as recentes medidas tomadas provocaram na imagem do governo.
No meio de tanta inauguração – faz-me recordar um passado ainda bem recente – seria inevitável a existência de situações, no mínimo, caricatas.
Ora, numa das escolas hoje inauguradas, no concelho de Coimbra, com pompa e circunstância e na presença da Ministra do Ambiente, a preocupação com a envolvência exterior foi pensada de modo a gerar um ambiente harmonioso, recreador de espaços naturais, com vista a impressionar a responsável por esta pasta ministerial. Para o efeito foram “plantados” cerca de 24 pinheiros nas imediações do espaço circundante.
Mas estas plantações, em vez de serem efectuadas no terreno local, fundeando as raízes das árvores de modo a fixarem-se ao solo, ficaram confinadas a simples vasos que foram, estrategicamente, colocados numa mise en scène.
Os pinheiros, acabada a encenação oficial da inauguração, serão reenviados para a empresa que os cedeu para a ocasião, o que seria complicado de efectuar caso tivessem sido plantados no terreno da nova escola.
Ou seja, continuamos a funcionar como um país de faz de conta, onde o que interessa são as aparências e as encenações com vista à divulgação, em todos os órgãos de comunicação social, de não verdades, meias verdades e omissões!
E viva a República e os republicanos!...
(Um reparo a uma estação televisiva que na sua emissão acerca do centenário da República informava que o último rei de Portugal fora o rei D. Carlos.
O jornalista, que organizou a peça transmitida, esqueceu-se de fazer o trabalho de bastidor, caso contrário ter-lhe-ia sido fácil descobrir que o último rei de Portugal foi sua alteza real D. Manuel II, o qual, aliás, se viu obrigado a partir para o exílio,da Ericeira, acompanhado da família real, primeiro rumo a Gibraltar e mais tarde a Inglaterra.)
Por muito que me esforce não consigo descortinar razões válidas para tanta panóplia à volta deste acontecimento.
Antes uma Monarquia liberal e democrata do que uma Democracia autocrática e impositora!
O governo decidiu, num gesto simbólico, senão mesmo forçado, fazer coincidir a inauguração oficial de 100 escolas, algumas reformuladas, com a efeméride do centenário da República.
Na minha modesta opinião, considero tal acção uma mera manobra política de marketing , com vista a diminuir os efeitos negativos que as recentes medidas tomadas provocaram na imagem do governo.
No meio de tanta inauguração – faz-me recordar um passado ainda bem recente – seria inevitável a existência de situações, no mínimo, caricatas.
Ora, numa das escolas hoje inauguradas, no concelho de Coimbra, com pompa e circunstância e na presença da Ministra do Ambiente, a preocupação com a envolvência exterior foi pensada de modo a gerar um ambiente harmonioso, recreador de espaços naturais, com vista a impressionar a responsável por esta pasta ministerial. Para o efeito foram “plantados” cerca de 24 pinheiros nas imediações do espaço circundante.
Mas estas plantações, em vez de serem efectuadas no terreno local, fundeando as raízes das árvores de modo a fixarem-se ao solo, ficaram confinadas a simples vasos que foram, estrategicamente, colocados numa mise en scène.
Os pinheiros, acabada a encenação oficial da inauguração, serão reenviados para a empresa que os cedeu para a ocasião, o que seria complicado de efectuar caso tivessem sido plantados no terreno da nova escola.
Ou seja, continuamos a funcionar como um país de faz de conta, onde o que interessa são as aparências e as encenações com vista à divulgação, em todos os órgãos de comunicação social, de não verdades, meias verdades e omissões!
E viva a República e os republicanos!...
(Um reparo a uma estação televisiva que na sua emissão acerca do centenário da República informava que o último rei de Portugal fora o rei D. Carlos.
O jornalista, que organizou a peça transmitida, esqueceu-se de fazer o trabalho de bastidor, caso contrário ter-lhe-ia sido fácil descobrir que o último rei de Portugal foi sua alteza real D. Manuel II, o qual, aliás, se viu obrigado a partir para o exílio,da Ericeira, acompanhado da família real, primeiro rumo a Gibraltar e mais tarde a Inglaterra.)
Por muito que me esforce não consigo descortinar razões válidas para tanta panóplia à volta deste acontecimento.
Antes uma Monarquia liberal e democrata do que uma Democracia autocrática e impositora!
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Triste fado
Portugal é um país(eternamente) adiado e pequeno.
Adiado, pela recusa em assumir-se como responsável, dinâmico, coerente, correcto, íntegro.
Pequeno em toda a acepção da palavra.
Pequeno, na extensão do seu território, formado pelos 92.446 km2.
Pequeno, no sonho de Ser, de alcançar, enfim cumprir-se!
Castelo de Torres Vedras |
Portugal é um país(eternamente) adiado e pequeno.
Adiado, pela recusa em assumir-se como responsável, dinâmico, coerente, correcto, íntegro.
Pequeno em toda a acepção da palavra.
Pequeno, na extensão do seu território, formado pelos 92.446 km2.
Pequeno, no sonho de Ser, de alcançar, enfim cumprir-se!
Erro do sistema
A propósito de uma série de situações que se sucederam no decorrer de instâncias processuais, no mínimo caricatas, a certa altura apercebi-me do uso sistemático, por parte de instituições e serviços, públicas e privadas, de uma expressão que, pretendendo explicar tudo, reduz-se a nada.
Os “erros do sistema”, chavão muito em voga, inundou, nos últimos tempos, o rol de motivos apresentados para desculpar a inoperância, o descuido, a incompetência de certos funcionários que prestam serviços a terceiros.
Hoje em dia, é comum ouvir-se um qualquer funcionário, de ar compenetrado, afirmar, convictamente, que se algo não funcionou, tal se deveu a um “erro do sistema”.
Portugal foi invadido por "erros do sistema".
Aliás, o nosso país acarinhou, apadrinhou, tornou-se compadrio dos “erros do sistema”.
Com tantos "erros no sistema" é inevitável concluir-se que ou o sistema está obsoleto e necessita, urgentemente, de ser reformulado, alterado, em última instância, substituído ou, então, é o próprio Portugal um grande erro do sistema!...
Os “erros do sistema”, chavão muito em voga, inundou, nos últimos tempos, o rol de motivos apresentados para desculpar a inoperância, o descuido, a incompetência de certos funcionários que prestam serviços a terceiros.
Hoje em dia, é comum ouvir-se um qualquer funcionário, de ar compenetrado, afirmar, convictamente, que se algo não funcionou, tal se deveu a um “erro do sistema”.
Portugal foi invadido por "erros do sistema".
Aliás, o nosso país acarinhou, apadrinhou, tornou-se compadrio dos “erros do sistema”.
Com tantos "erros no sistema" é inevitável concluir-se que ou o sistema está obsoleto e necessita, urgentemente, de ser reformulado, alterado, em última instância, substituído ou, então, é o próprio Portugal um grande erro do sistema!...
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
U2
2 de Outubro: O dia despertou e Coimbra espreguiçou-se, enquanto se aquecia com os reflexos dourados dos primeiros raios de sol.
3 de Outubro: A cidade acordou fustigada pelas primeiras chuvadas de Outono que vieram saudar a Natureza.
Ronceiramente um movimento invulgar envolveu a cidade. A cadência das rotinas quotidianas foi quebrada e, de súbito, a urbe fervilhou, desperta pela turba, gente anónima, unida pela mesma paixão: a música.
A “minha” cidade abraçou, num gesto de ternura, todos os que vieram assistir ao concerto dos U2.
A vida, a luz e a cores que contagiaram a cidade, desde as primeiras horas do dia, tornaram-na ainda mais bela e sedutora.
Coimbra, enfeitada para os espectáculos, dançou e vibrou ao som dos acordes musicais que a embalaram. Extasiada, quedou-se, seduzida pelo ritmo e pelo som.
Por fim, desperta pela presença da madrugada, despediu-se da noite e aninhou-se nos braços protectores do Mondego, adormecendo, enfeitiçada pelos reflexos prateados das águas do rio.
3 de Outubro: A cidade acordou fustigada pelas primeiras chuvadas de Outono que vieram saudar a Natureza.
Ronceiramente um movimento invulgar envolveu a cidade. A cadência das rotinas quotidianas foi quebrada e, de súbito, a urbe fervilhou, desperta pela turba, gente anónima, unida pela mesma paixão: a música.
A “minha” cidade abraçou, num gesto de ternura, todos os que vieram assistir ao concerto dos U2.
A vida, a luz e a cores que contagiaram a cidade, desde as primeiras horas do dia, tornaram-na ainda mais bela e sedutora.
Coimbra, enfeitada para os espectáculos, dançou e vibrou ao som dos acordes musicais que a embalaram. Extasiada, quedou-se, seduzida pelo ritmo e pelo som.
Por fim, desperta pela presença da madrugada, despediu-se da noite e aninhou-se nos braços protectores do Mondego, adormecendo, enfeitiçada pelos reflexos prateados das águas do rio.
domingo, 3 de outubro de 2010
Amor é síntese
Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu…
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
Mário Quintana
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu…
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
Mário Quintana
sábado, 2 de outubro de 2010
Há dias
Há dias em que sorrimos para a vida, brilhamos em reflexos de cores fortes, espelhamos a alegria que irradia de dentro.
Há dias em que as palavras tristeza e desânimo,só existem no dicionário.
Nesses dias, em que as emoções e os afectos se entregam na cumplicidade consentida, desejada, procurada, compreendemos a importância da presença e sentimos a saudade na ausência.
Há dias em que as palavras tristeza e desânimo,só existem no dicionário.
Nesses dias, em que as emoções e os afectos se entregam na cumplicidade consentida, desejada, procurada, compreendemos a importância da presença e sentimos a saudade na ausência.
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