Agora, neste momento, recuo nas memórias temporais do que fui, do que fiz, do que dei.
A escolha de caminhos, aparentemente, mais fáceis e sem obstáculos, que impedissem a caminhada, foi uma constante demasiado repetitiva, na viagem iniciada há bastantes anos atrás.
A Vida, aquela que se almeja, plena de bem-estar interior e de acordo com os ditames da consciência, só se consegue, muitas vezes, com esforço e coragem.
O sabor triunfal, das melhores conquistas, alcança-se após muita persistência e, sobretudo, na não desistência de nós próprios, acreditando nas capacidades que existem no íntimo de cada um.
Na vida, as maiores vitórias resultam de um querer consciente, de uma força de vontade inabalável e de uma coragem em lutar, firmemente, pelas nossas convicções.
Neste caminho percorrido, as etapas, que o compuseram, nem sempre foram calcorreadas da melhor maneira, com muito tempo de descanso entre o momento da partida e a chegada desejada. A persistência da comodidade na caminhada caracterizou grande parte delas.
A maturidade, que vem com as experiências da vida, faz-nos perspectivar, qual caleidoscópio da vida, os diferentes ângulos existentes.
Cabe escolher o que nos faça sentir e ser mais felizes, verdadeiros e autênticos de acordo com os ideais que defendemos.
Páscoa, tempo de reflexão, tempo de resgatar o Eu que sou, tempo de renascimento pessoal!
Desafioos é já por si um desafio lançado em forma de repto: "Andas muito filosófica, tens de criar um blogue!". Porque gosto de desafios, aceitei o desafio e criei este blogue.
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quinta-feira, 25 de março de 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
Entrega
Hoje, vou-me entregar ao ritmo da música, sentir a magia das notas, numa escala de compassos, vou-me embalar nos movimentos naturais e, hipnotizada pela cadência dos acordes, solto o espírito, liberto-o!
Reencontro-me na essência do que sou, na certeza do que quero.
Hoje, vou-me entregar à alma da música, resgatando-me de mim própria.
Reencontro-me na essência do que sou, na certeza do que quero.
Hoje, vou-me entregar à alma da música, resgatando-me de mim própria.
O Amor
O Amor!
Ah o amor, esse, que rima com dor e torpor, mas também com calor e ardor.
O amor, pelos poetas cantado e em versos declamado, é «fogo que arde sem se ver» num calor interior que, rimando com pudor, desnuda emoções, em gestos disfarçados, de olhares não olhados.
«É urgente o amor», e o grito do poeta ecoa nos silêncios consubstanciados dos amantes separados.
«É urgente o amor, é urgente o amor» e o grito do poeta ecoa no coração dos homens entorpecido pela dor do desamor, que não rima com esperança no presente que se alcança.
O amor, ah o amor, esse, que renasce na paixão pressentida, no despertar dos sentidos,no desejo consumado de amantes enleados, num abraço ligados, na fusão dos corpos suados.
O amor é pura magia,é redenção, salvação!
O Amor, ah o amor…
Ah o amor, esse, que rima com dor e torpor, mas também com calor e ardor.
O amor, pelos poetas cantado e em versos declamado, é «fogo que arde sem se ver» num calor interior que, rimando com pudor, desnuda emoções, em gestos disfarçados, de olhares não olhados.
«É urgente o amor», e o grito do poeta ecoa nos silêncios consubstanciados dos amantes separados.
«É urgente o amor, é urgente o amor» e o grito do poeta ecoa no coração dos homens entorpecido pela dor do desamor, que não rima com esperança no presente que se alcança.
O amor, ah o amor, esse, que renasce na paixão pressentida, no despertar dos sentidos,no desejo consumado de amantes enleados, num abraço ligados, na fusão dos corpos suados.
O amor é pura magia,é redenção, salvação!
O Amor, ah o amor…
domingo, 21 de março de 2010
A poesia primaveril
Domingo, 21 de Março, início oficial da Primavera, dia mundial da poesia.
O dia despontou tímido, envergonhado pela chuva que caíra na véspera.
O Sol, zangado com as nuvens, de humor acinzentado e choro constante, espreguiçou os seus raios longos e quentes, cansado de tanta preguiça!
Afinal ele era o astro rei! Não podia deixar de comparecer nas boas vindas à Primavera.
Ainda tonto, do longo sono em que se afundara, esfregou os olhos, encandeando-se pelas cores alegres de um arco-íris, que se arqueava por entre algumas nuvens mais teimosas. Espreitou, lá do alto, e alegrou-se com a vida que viu despontar a seus pés.
Sorriu, num sorriso aberto, e, sorrindo, iluminou, com reflexos dourados, as paisagens que o reverenciaram pelo brilho intenso que derramara.
Em baixo, podia sentir o rebuliço da vida que germinava nos campos matizados de cores, ainda, suaves.
Em algum lugar, perdido no anonimato do ser, um poeta, aquecido pelo calor do Sol descoberto, desvendou os segredos da alma, derramando, no papel, as emoções sentidas, na urgência das palavras não ditas.
Aceitando o presente do Sol, a Primavera, musa graciosa, inspiradora do poeta, envolveu-o no calor dos seus braços, florescendo-o de emoções, em essências de sentidos inebriados.
Nos limites da resistência, o poeta entregou-se, por fim, aos encantos da musa inspiradora, celebrando a sua chegada, com jorros de poesia, lançando-a nas asas do vento cálido, deste primeiro dia de Primavera.
E a poesia fez-se,na comemoração do seu dia!
O dia despontou tímido, envergonhado pela chuva que caíra na véspera.
O Sol, zangado com as nuvens, de humor acinzentado e choro constante, espreguiçou os seus raios longos e quentes, cansado de tanta preguiça!
Afinal ele era o astro rei! Não podia deixar de comparecer nas boas vindas à Primavera.
Ainda tonto, do longo sono em que se afundara, esfregou os olhos, encandeando-se pelas cores alegres de um arco-íris, que se arqueava por entre algumas nuvens mais teimosas. Espreitou, lá do alto, e alegrou-se com a vida que viu despontar a seus pés.
Sorriu, num sorriso aberto, e, sorrindo, iluminou, com reflexos dourados, as paisagens que o reverenciaram pelo brilho intenso que derramara.
Em baixo, podia sentir o rebuliço da vida que germinava nos campos matizados de cores, ainda, suaves.
Em algum lugar, perdido no anonimato do ser, um poeta, aquecido pelo calor do Sol descoberto, desvendou os segredos da alma, derramando, no papel, as emoções sentidas, na urgência das palavras não ditas.
Aceitando o presente do Sol, a Primavera, musa graciosa, inspiradora do poeta, envolveu-o no calor dos seus braços, florescendo-o de emoções, em essências de sentidos inebriados.
Nos limites da resistência, o poeta entregou-se, por fim, aos encantos da musa inspiradora, celebrando a sua chegada, com jorros de poesia, lançando-a nas asas do vento cálido, deste primeiro dia de Primavera.
E a poesia fez-se,na comemoração do seu dia!
quinta-feira, 18 de março de 2010
Renovação
Após o fim de uma manhã de trabalho e vislumbrada a possibilidade de usufruir de uma tarde mais calma, deixei-me enfeitiçar pela presença da Primavera que, sem pressa, anuncia a sua chegada.
De vidro aberto, a sensação da brisa suave a fustigar a face inebria os sentidos: com ela, despertam sensações que o inverno adormecera.
O ar é invadido pelo cheiro adocicado das flores a desabrochar.
A mornice preguiçosa da tarde, convida à moleza do corpo, num abandono consentido, antecipando o descanso merecido.
Os sons da Natureza intensificam-se: é o ciclo da vida que inicia o seu processo de renovação.
Com a chegada da Primavera, o ciclo fértil da Natureza recomeça. A vida desponta nas flores, nas árvores, nos animais, no Homem: é o Planeta a renascer.
A consciência da importância deste renascimento, na e pela Natureza, perdeu-se com a aculturação do Homem e o desenvolvimento das sociedades modernas.
O Homem Ocidental esqueceu-se das suas raízes à Terra.
Os rituais de fertilidade, praticados pelos Celtas em honra do deus Cernudos, faziam parte de uma cerimónia cíclica, no decorrer da qual, o sacerdote, representando o lado masculino e activo, entregava-se à sacerdotisa, que representava o lado feminino e passivo da Natureza.
Durante as cerimónias, os sumo-sacerdotes usavam máscaras ou coroas com chifres: símbolo da virilidade necessária à fertilidade.
Estas práticas, repugnadas e proibidas pelo Cristianismo, perderam-se, aos poucos, na memória colectiva dos povos que as praticavam.
A Igreja nunca soube entender a naturalidade e a sacralização que as envolvia.
Entendidas, erradamente, como actos promíscuos, pelo poder crescente de uma igreja que se afirmava, foram mal interpretadas.
A sua existência reverenciava a Deusa Mãe - a Natureza -, e o poder fertilizador, que dela brotava, necessário à perpetuação da vida.
Festejar a chegada da Primavera, é sentir o prazer estonteante do cheiro do verde e da terra, misturados na aragem morna das tardes amenas, é sentir um desejo incontrolável de abarcar, num enorme abraço, a paisagem deslumbrante, enfeitada de tons quentes, é sentir a emoção desperta por um pôr-do-sol alaranjado, de final de dia, que se conflui com o azul luminoso do início da noite.
Festejar a Primavera é abrir o corpo e a alma, soltar emoções, retornando, inconscientemente, às origens ancestrais do que fomos.
De vidro aberto, a sensação da brisa suave a fustigar a face inebria os sentidos: com ela, despertam sensações que o inverno adormecera.
O ar é invadido pelo cheiro adocicado das flores a desabrochar.
A mornice preguiçosa da tarde, convida à moleza do corpo, num abandono consentido, antecipando o descanso merecido.
Os sons da Natureza intensificam-se: é o ciclo da vida que inicia o seu processo de renovação.
Com a chegada da Primavera, o ciclo fértil da Natureza recomeça. A vida desponta nas flores, nas árvores, nos animais, no Homem: é o Planeta a renascer.
A consciência da importância deste renascimento, na e pela Natureza, perdeu-se com a aculturação do Homem e o desenvolvimento das sociedades modernas.
O Homem Ocidental esqueceu-se das suas raízes à Terra.
Os rituais de fertilidade, praticados pelos Celtas em honra do deus Cernudos, faziam parte de uma cerimónia cíclica, no decorrer da qual, o sacerdote, representando o lado masculino e activo, entregava-se à sacerdotisa, que representava o lado feminino e passivo da Natureza.
Durante as cerimónias, os sumo-sacerdotes usavam máscaras ou coroas com chifres: símbolo da virilidade necessária à fertilidade.
Estas práticas, repugnadas e proibidas pelo Cristianismo, perderam-se, aos poucos, na memória colectiva dos povos que as praticavam.
A Igreja nunca soube entender a naturalidade e a sacralização que as envolvia.
Entendidas, erradamente, como actos promíscuos, pelo poder crescente de uma igreja que se afirmava, foram mal interpretadas.
A sua existência reverenciava a Deusa Mãe - a Natureza -, e o poder fertilizador, que dela brotava, necessário à perpetuação da vida.
Festejar a chegada da Primavera, é sentir o prazer estonteante do cheiro do verde e da terra, misturados na aragem morna das tardes amenas, é sentir um desejo incontrolável de abarcar, num enorme abraço, a paisagem deslumbrante, enfeitada de tons quentes, é sentir a emoção desperta por um pôr-do-sol alaranjado, de final de dia, que se conflui com o azul luminoso do início da noite.
Festejar a Primavera é abrir o corpo e a alma, soltar emoções, retornando, inconscientemente, às origens ancestrais do que fomos.
quarta-feira, 17 de março de 2010
A ponta do iceberg
Por iniciativa da bancada do CDS-PP, terá lugar na próxima sexta-feira, dia 19 de Março, na Assembleia da República, um debate sobre a violência e a indisciplina nas escolas.
Esta iniciativa ganhou carácter de urgência devido aos recentes e trágicos acontecimentos que culminaram em perda de vida humana por causa da violência a que as pessoas, em causa, foram sujeitas, nas escolas, onde passavam a maior parte do seu tempo.
Quer o menino, vítima de bullying, desaparecido nas águas do rio Tua, quer o professor, vítima de indisciplina dos alunos, que se suicidou, são dois casos que despertaram a consciência da sociedade, em geral, e do poder político em particular.
Estes casos são a ponta do iceberg de uma realidade, há muito conhecida, mas pouco discutida.
A iniciativa agendada para o dia 19 é louvável. É urgente debater o problema, de uma forma séria e consciente, apesar de algumas vozes discordantes que, num passado ainda bem recente, afirmavam não existir violência nas escolas públicas nacionais.
Esta afirmação demonstra bem a dicotomia existente, no conhecimento da realidade de sectores sociais, entre os agentes do poder político, responsáveis pela tutela de pastas públicas e a sociedade civil que os elegeu.
Negar um problema - impensável para quem contacta diariamente com a realidade Escola - não é de todo a melhor estratégia para o solucionar!
Há violência nas escolas públicas? Há sim!
Há casos de violência entre os estudantes? Também!
Existem professores, alvo de indisciplina, sistemática, por parte de alguns alunos? Sem dúvida!
O contrário acontece? Sim, mas muito raramente.
Perante esta realidade, nua e crua, urge tomar medidas que solucionem o problema, que é de todos nós, não nos iludamos! É a saúde futura do tecido social que está em causa.
Já se perdeu demasiado tempo com manobras evasivas, que o máximo que obtiveram foi o agravar da situação e a morte de dois seres humanos.
No ano das comemorações do centenário da República, regime político que fez da Educação um dos seus grandes estandartes, a melhor homenagem que se lhe poderá fazer é, sem dúvida, a discussão da situação de indisciplina nas escolas que gera violência, desmotivação, desânimo, para todos os intervenientes e que, aos poucos, vai minando os baluartes da sociedade portuguesa.
Se queremos apostar no futuro de Portugal, então tenhamos a coragem de destapar todo o “iceberg”!
Esta iniciativa ganhou carácter de urgência devido aos recentes e trágicos acontecimentos que culminaram em perda de vida humana por causa da violência a que as pessoas, em causa, foram sujeitas, nas escolas, onde passavam a maior parte do seu tempo.
Quer o menino, vítima de bullying, desaparecido nas águas do rio Tua, quer o professor, vítima de indisciplina dos alunos, que se suicidou, são dois casos que despertaram a consciência da sociedade, em geral, e do poder político em particular.
Estes casos são a ponta do iceberg de uma realidade, há muito conhecida, mas pouco discutida.
A iniciativa agendada para o dia 19 é louvável. É urgente debater o problema, de uma forma séria e consciente, apesar de algumas vozes discordantes que, num passado ainda bem recente, afirmavam não existir violência nas escolas públicas nacionais.
Esta afirmação demonstra bem a dicotomia existente, no conhecimento da realidade de sectores sociais, entre os agentes do poder político, responsáveis pela tutela de pastas públicas e a sociedade civil que os elegeu.
Negar um problema - impensável para quem contacta diariamente com a realidade Escola - não é de todo a melhor estratégia para o solucionar!
Há violência nas escolas públicas? Há sim!
Há casos de violência entre os estudantes? Também!
Existem professores, alvo de indisciplina, sistemática, por parte de alguns alunos? Sem dúvida!
O contrário acontece? Sim, mas muito raramente.
Perante esta realidade, nua e crua, urge tomar medidas que solucionem o problema, que é de todos nós, não nos iludamos! É a saúde futura do tecido social que está em causa.
Já se perdeu demasiado tempo com manobras evasivas, que o máximo que obtiveram foi o agravar da situação e a morte de dois seres humanos.
No ano das comemorações do centenário da República, regime político que fez da Educação um dos seus grandes estandartes, a melhor homenagem que se lhe poderá fazer é, sem dúvida, a discussão da situação de indisciplina nas escolas que gera violência, desmotivação, desânimo, para todos os intervenientes e que, aos poucos, vai minando os baluartes da sociedade portuguesa.
Se queremos apostar no futuro de Portugal, então tenhamos a coragem de destapar todo o “iceberg”!
terça-feira, 16 de março de 2010
"A geração do ecrã"
O texto deste post é a cópia de um email recebido. Reporta-se a um episódio, ainda muito presente, na nossa memória, devido ao impacto que provocou.
A opinião defendida, na altura, por Alice Vieira é pertinente e continua válida.
O assunto tratado, num post anterior, constitui a prova cabal da afirmação.
A geração do ecrã
«Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.
Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos – bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.
Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar - é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas).
Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!
O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.
Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.
Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.
E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.
E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.
E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.
A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.
A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.
E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.
E nós deixamos.»
Alice Vieira, Escritora.
A opinião defendida, na altura, por Alice Vieira é pertinente e continua válida.
O assunto tratado, num post anterior, constitui a prova cabal da afirmação.
A geração do ecrã
«Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.
Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.
Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos – bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.
Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo a sr.ª ministra - que não entra numa escola sem avisar - é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas).
Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!
O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.
Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.
Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.
Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.
E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.
E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.
Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.
E durante anos os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.
A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.
A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.
A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.
E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.
E nós deixamos.»
Alice Vieira, Escritora.
domingo, 14 de março de 2010
O "Graal"
A certeza sufocante de aprisionamento, dentro da própria vida, é a grilheta apertada que entrava os movimentos almejados.
A liberdade, sem a responsabilidade, não valoriza os actos praticados. E ser-se livre implica muitas vezes, senão a maior parte delas, uma grande força de vontade aliada a uma enorme coragem.
Sendo seres gerados à imagem e semelhança do Criador, o seu desejo é que encontremos a felicidade e a possamos viver de um modo recto e verdadeiro.
O alcance deste fim supremo é o “graal” que todos buscamos, independentemente do que cada um possa entender pelo “ser feliz”.
Se para alguns o caminho a percorrer, na busca da felicidade, é amplo, plano e largo, para outros, porém, o trajecto a percorrer é composto de obstáculos que dificultam a passagem e entravam a força de vontade de ir mais longe.
Tal como o piloto de uma embarcação, que no alto mar, num dia de tempestade, luta contra a força destruidora dos elementos naturais que se entre conjugam, impedindo o avanço da embarcação, também na vida, há momentos, etapas que, contrariamente à vontade da pessoa, conspiram entre si, obrigando-a a desistir, por tempo não contado, de trilhar o difícil caminho da felicidade.
São momentos desoladores, quase de desistência, em silêncios acobardados de solidão procurada.
A felicidade é uma prioridade, que nos permite enfrentar as agruras da vida com um sorriso nos lábios e o coração transbordando de sentir. Com ela tudo se torna mais fácil, mais leve e construtivo.
A conquista da felicidade, nalguns casos, é uma bênção, mas na maior parte das vezes é uma luta dura, feita de coragem e querer.
A liberdade, sem a responsabilidade, não valoriza os actos praticados. E ser-se livre implica muitas vezes, senão a maior parte delas, uma grande força de vontade aliada a uma enorme coragem.
Sendo seres gerados à imagem e semelhança do Criador, o seu desejo é que encontremos a felicidade e a possamos viver de um modo recto e verdadeiro.
O alcance deste fim supremo é o “graal” que todos buscamos, independentemente do que cada um possa entender pelo “ser feliz”.
Se para alguns o caminho a percorrer, na busca da felicidade, é amplo, plano e largo, para outros, porém, o trajecto a percorrer é composto de obstáculos que dificultam a passagem e entravam a força de vontade de ir mais longe.
Tal como o piloto de uma embarcação, que no alto mar, num dia de tempestade, luta contra a força destruidora dos elementos naturais que se entre conjugam, impedindo o avanço da embarcação, também na vida, há momentos, etapas que, contrariamente à vontade da pessoa, conspiram entre si, obrigando-a a desistir, por tempo não contado, de trilhar o difícil caminho da felicidade.
São momentos desoladores, quase de desistência, em silêncios acobardados de solidão procurada.
A felicidade é uma prioridade, que nos permite enfrentar as agruras da vida com um sorriso nos lábios e o coração transbordando de sentir. Com ela tudo se torna mais fácil, mais leve e construtivo.
A conquista da felicidade, nalguns casos, é uma bênção, mas na maior parte das vezes é uma luta dura, feita de coragem e querer.
" O Rei Vai Nu"
"Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução apaziguadora será o suicídio".
“Professores e pais da Escola Básica 2.3 de Fitares, Sintra, manifestaram-se hoje, sexta-feira, indignados com a associação entre o suicídio de um docente e a indisciplina dos alunos, argumentando que o caso está a perturbar os estudantes.”
In Jornal de Notícias de 13 de Março de 2010
Na sequência do assunto do post anterior e devido à notícia divulgada pela comunicação social do suicídio de um professor da Escola Básica 2º e 3º Ciclos de Fitares, seria impossível não opinar sobre o sucedido já que o faço com conhecimento de causa e é uma matéria que me toca particularmente.
Na sexta de manhã, dirigia-me para o trabalho e, maquinalmente, como é hábito, liguei o rádio do carro. As notícias das oito da manhã começavam. Logo na síntese inicial a curiosidade foi desperta pelas palavras do locutor sobre o suicídio de um professor. Aguardei o seu desenvolvimento e não me surpreendeu nada, quando fiquei a saber que o acto deste professor se deveu ao modo como alguns alunos o tratavam nas aulas.
Professor de cinquenta e um anos, leccionava a disciplina de Música, numa nova escola.
Ser-se novo implica, desde logo, uma adaptação ao meio que se desconhece. Tudo leva a querer que seria uma pessoa com problemas de auto-estima, que a enfraqueciam psicologicamente.
Quem conhece, por experiência própria, o ambiente vivido no interior da maior parte das escolas públicas portuguesas, não tem qualquer dificuldade em entender a pressão a que este professor terá estado sujeito.
Quando as situações de perda de autoridade se prolongam por demasiado tempo, devido a anos sucessivos de pressão constante por parte de contextos educativos cada vez mais degradantes, em termos de autoridade do professor, impotência na resolução dos mesmos, sentimento de solidão e falta de solidariedade, dos seus pares, na ajuda da situação, falta de respeito e educação dos mais novos perante alguém bem mais velho e hierarquicamente acima, uma auto-estima cada vez mais enfraquecida: estão reunidas as condições para o desfecho trágico que acabou por ocorrer.
Como referi, a notícia não me surpreendeu: revoltou-me, entristeceu-me, desanimou-me, até.
E a revolta cresceu ainda mais, quando li as várias intervenções que se sucederam após a divulgação da notícia: de alguns encarregados de educação dos alunos deste professor; de colegas seus; das diferentes estruturas da escola.
Não acredito que ninguém soubesse de nada! Não acredito que o que acontecia na aula deste professor não fosse sabido pelos alunos da escola, pois isso é impossível num meio destes. Indigno-me que, perante a morte de um ser humano - deixou escrito o porquê do acto que ia praticar - sejam, agora, postas em causa, por parte daqueles que são os primeiros responsáveis pela educação dos jovens na escola - os pais - , as razões deixadas pelo próprio, querendo, com esta actuação, sacudir as responsabilidades, que lhes deveriam ser exigidas, pelas condutas dos seus educandos.
Não entendo a razão da necessidade do anonimato, no prestar de declarações, ainda por cima quando as mesmas dizem que nada se passava, que nada se sabia, por parte de quem, nem em morte, conseguiu mostrar um pouco de solidariedade por um colega que estava, desde o início do ano lectivo, a ser alvo de comportamentos desajustados, desrespeitadores e psicologicamente violentos, por parte dos alunos.
Não entendo, nem admito, que os pais, perante a gravidade do sucedido - a morte de um ser humano - elejam, como principal problema, a necessidade de um acompanhamento psicológico para os seus filhos, em vez de se preocuparem com os «monstros» que ajudaram a criar.
Fugir das reais causas dos problemas, criar manobras de diversão, sempre foram as maneiras mais fáceis de se iludir o problema, numa fuga para a frente nem que seja com tropeços e muitas quedas.
Não enfrentar as consequências dos nossos actos, não reflectir sobre o que fazemos, não admitir a co-responsabilidade nos acontecimentos, iludir a consciência com falsas premissas, só conduzirá ao adiamento do problema. E, enquanto isso acontecer, continuaremos a contribuir para a formação de cidadãos inconscientes, irresponsáveis, imaturos e egoístas.
Que futuros adultos estamos a formar para uma sociedade que se quer consciente, participativa, responsável, para o bem de todos?
Só posso concluir que algo vai muito mal no campo da Educação!
sábado, 13 de março de 2010
A Família e a Escola
A Escola tem vindo a ganhar cada vez mais importância e o papel que desempenha nos tempos actuais é primordial. Esta importância baseia-se no facto dos jovens passarem grande parte do seu tempo diário na escola, principalmente naquelas que se situam na periferia dos grandes centros urbanos e que estão dependentes dos transportes escolares para o início e o fim do período lectivo.
Com o esgotar do tempo no espaço escolar, o contacto que as crianças têm com os pais, durante a semana, é diminuto. Estes que, outrora, eram os veículos, por excelência, da transmissão de valores e regras de educação, começam, em muitos casos, a delegar esse papel à Escola e aos agentes educativos que nela trabalham.
O ritmo agitado da vida diária, as dificuldades económicas e sociais que assolam a sociedade, uma certa dose de apatia parental e dificuldades em impor a autoridade do adulto, provocam, em certos casos, um desinteresse pela educação activa, participativa e consciente, dos filhos, noutros, uma demissão, completa, do papel de educadores, remetendo-o para a Escola.
Com esta atitude, os adultos esquecem-se do papel essencial e insubstituível que a família desempenha na formação de qualquer criança: os valores básicos que norteiam a educação e a conduta do ser humano são interiorizados, desde pequenos, através de laços de vinculação entre os progenitores e as suas “crias”. O exemplo dado pelos actores educativos será interiorizado e o jovem terá tendência a copiar o modelo a que está habituado nas suas relações sociais.
Ao passarem esta responsabilidade para a Escola, os pais demitem-se do seu papel como educadores e esquecem-se que a Escola, apesar de ter de se adaptar às novas exigências, geradas pelas mudanças sociais, nunca poderá substituir os pais nesta missão.
As regras, os comportamentos correctos, os valores básicos da educação estarão sempre relacionados com o poder parental e a Escola será, por excelência, o meio proporcionador de outras aprendizagens, também elas essenciais ao crescimento individual e social dos jovens.
Escola e família, duas faces de uma mesma realidade que se complementam e completam.
Com o esgotar do tempo no espaço escolar, o contacto que as crianças têm com os pais, durante a semana, é diminuto. Estes que, outrora, eram os veículos, por excelência, da transmissão de valores e regras de educação, começam, em muitos casos, a delegar esse papel à Escola e aos agentes educativos que nela trabalham.
O ritmo agitado da vida diária, as dificuldades económicas e sociais que assolam a sociedade, uma certa dose de apatia parental e dificuldades em impor a autoridade do adulto, provocam, em certos casos, um desinteresse pela educação activa, participativa e consciente, dos filhos, noutros, uma demissão, completa, do papel de educadores, remetendo-o para a Escola.
Com esta atitude, os adultos esquecem-se do papel essencial e insubstituível que a família desempenha na formação de qualquer criança: os valores básicos que norteiam a educação e a conduta do ser humano são interiorizados, desde pequenos, através de laços de vinculação entre os progenitores e as suas “crias”. O exemplo dado pelos actores educativos será interiorizado e o jovem terá tendência a copiar o modelo a que está habituado nas suas relações sociais.
Ao passarem esta responsabilidade para a Escola, os pais demitem-se do seu papel como educadores e esquecem-se que a Escola, apesar de ter de se adaptar às novas exigências, geradas pelas mudanças sociais, nunca poderá substituir os pais nesta missão.
As regras, os comportamentos correctos, os valores básicos da educação estarão sempre relacionados com o poder parental e a Escola será, por excelência, o meio proporcionador de outras aprendizagens, também elas essenciais ao crescimento individual e social dos jovens.
Escola e família, duas faces de uma mesma realidade que se complementam e completam.
quinta-feira, 11 de março de 2010
A Dança
A dança é a libertação do espírito, no soltar do corpo, simbiose perfeita de movimentos ritmados em compassos bem marcados.
Dançar é sentir o ritmo da música penetrar no mais fundo do ser, é deixar-se levar pelos acordes em tempos e contra-tempos, é desafiar o espaço em movimentos desenhados.
A dança, linguagem corporal de expressão universal, traduz, em discursos do sentir, sensações aprisionadas e em rotinas geradas.
A dança é uma de entre as várias paixões que me seduzem. Conjuntamente com a leitura e a escrita, a dança permite-me alcançar, em pedacinhos de tempo, a plenitude espiritual, num desprendimento do corpo.
Dançar é sentir o ritmo da música penetrar no mais fundo do ser, é deixar-se levar pelos acordes em tempos e contra-tempos, é desafiar o espaço em movimentos desenhados.
A dança, linguagem corporal de expressão universal, traduz, em discursos do sentir, sensações aprisionadas e em rotinas geradas.
A dança é uma de entre as várias paixões que me seduzem. Conjuntamente com a leitura e a escrita, a dança permite-me alcançar, em pedacinhos de tempo, a plenitude espiritual, num desprendimento do corpo.
quarta-feira, 10 de março de 2010
Desânimo
Nos últimos tempos temos sido assolados de notícias que informam de condutas pouco claras por parte de pessoas que, devido aos cargos que ocupam e à influência que estes lhes proporcionam, servem-se do poder para alcançar benefícios que, de outro modo, nunca conseguiriam.
Na internet, são cada vez mais os emails que circulam denunciando pretensas irregularidades, regalias de quem ocupa, por nomeação, altos cargos em empresas estatais, pagamento de pensões exorbitantes a gestores reformados ou chorudas indemnizações por demissão de cargos ocupados, entre muitos outros assuntos que servem de notícia e relacionados com casos da vida social e política do nosso país.
Nunca foi tão notório o cansaço da opinião pública que vê, por um lado os responsáveis políticos, que nos governam, a pedir sacrifícios para o bem do país e por outro, esses mesmos senhores serem alvo de supostas acções e condutas pouco clarificadoras, não se sabendo bem em quem acreditar.
Estas reflexões fizeram-me pensar que, ou a História não tem sido completamente correcta no que nos ensinou, ou os portugueses mudaram muito ao longo destes séculos de existência que Fomos.
Onde está a coragem, o espírito empreendedor que norteou a acção dos nossos primeiros reis? Que aconteceu à força de um povo que, nos momentos cruciais de ruptura, soube enfrentar, com destreza e coragem, os desafios que, à partida, pareciam perdidos? Onde pára a firmeza e a convicção dos que se lançaram ao mar, enfrentando perigos, lutando contra o poder da ignorância e o medo do desconhecido? Que aconteceu a Portugal? Morreu? Desistiu? Entregou-se às mãos dos «inimigos da mesma fé?». Tantos acrifícios, no passado, para um presente enublado, triste, duvidoso?
Só as palavras de um grande homem, que por mero acaso era português, para homenagear um grande país que parece ter-se esquecido da sua grandeza e força na determinação de um povo.
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
Fernando Pessoa, in Mensagem
Na internet, são cada vez mais os emails que circulam denunciando pretensas irregularidades, regalias de quem ocupa, por nomeação, altos cargos em empresas estatais, pagamento de pensões exorbitantes a gestores reformados ou chorudas indemnizações por demissão de cargos ocupados, entre muitos outros assuntos que servem de notícia e relacionados com casos da vida social e política do nosso país.
Nunca foi tão notório o cansaço da opinião pública que vê, por um lado os responsáveis políticos, que nos governam, a pedir sacrifícios para o bem do país e por outro, esses mesmos senhores serem alvo de supostas acções e condutas pouco clarificadoras, não se sabendo bem em quem acreditar.
Estas reflexões fizeram-me pensar que, ou a História não tem sido completamente correcta no que nos ensinou, ou os portugueses mudaram muito ao longo destes séculos de existência que Fomos.
Onde está a coragem, o espírito empreendedor que norteou a acção dos nossos primeiros reis? Que aconteceu à força de um povo que, nos momentos cruciais de ruptura, soube enfrentar, com destreza e coragem, os desafios que, à partida, pareciam perdidos? Onde pára a firmeza e a convicção dos que se lançaram ao mar, enfrentando perigos, lutando contra o poder da ignorância e o medo do desconhecido? Que aconteceu a Portugal? Morreu? Desistiu? Entregou-se às mãos dos «inimigos da mesma fé?». Tantos acrifícios, no passado, para um presente enublado, triste, duvidoso?
Só as palavras de um grande homem, que por mero acaso era português, para homenagear um grande país que parece ter-se esquecido da sua grandeza e força na determinação de um povo.
"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."
Fernando Pessoa, in Mensagem
terça-feira, 9 de março de 2010
Esboço de um retrato
De pele escurecida, pelo sol da vida deambulante que cedo o moldou, de olhos e cabelos castanhos, num rosto bolachudo, com ar bonacheirão, num corpo alargado de gente ainda por amadurecer...
De semblante exclamativo, perante as interrogações não percebidas das obrigações impostas, impermeabiliza-se à absorção cultural gerada no convívio quotidiano.
O aparente desinteresse pelo que o rodeia, é a forma, mais conseguida, de comunicar, aos estranhos, a renúncia e a incompreensão do meio que não é o seu, numa batalha diária entre o ter de ser e o não querer, em constante negação, na incompreensão das diferenças, desencontro de opostos, diálogos surdos de uma língua não sabida, de uma cultura não entendida, de valores não percebidos.
A recusa aos outros, na não-aceitação das regras estabelecidas, é a arma privilegiada para defender a identidade que sente ameaçada, no medo de esquecer as referências ancestrais que o moldaram como o Ser que é.
De semblante exclamativo, perante as interrogações não percebidas das obrigações impostas, impermeabiliza-se à absorção cultural gerada no convívio quotidiano.
O aparente desinteresse pelo que o rodeia, é a forma, mais conseguida, de comunicar, aos estranhos, a renúncia e a incompreensão do meio que não é o seu, numa batalha diária entre o ter de ser e o não querer, em constante negação, na incompreensão das diferenças, desencontro de opostos, diálogos surdos de uma língua não sabida, de uma cultura não entendida, de valores não percebidos.
A recusa aos outros, na não-aceitação das regras estabelecidas, é a arma privilegiada para defender a identidade que sente ameaçada, no medo de esquecer as referências ancestrais que o moldaram como o Ser que é.
sábado, 6 de março de 2010
Termas de São Pedro do Sul
A vila de São Pedro do Sul, estância termal, tranporta-nos aos primórdios da Humanidade, através da beleza contrastante da sua paisagem e dos vestígios históricos aí descobertos.
Perde-se no tempo o conhecimento do poder curativo das águas sulfatosas e quentes da vila.
Foram os romanos que desenvolveram a região, aproveitando a dádiva da Natureza para benefício do Homem. Estes construíram o " Balneum Romanum" e difundiram os benefícios das suas águas a todo o mundo ocidental.
No século XII, D. Afonso Henriques, reconhecendo a importância da região, concede-lhe carta de foral e cria o concelho de Vila do Banho.
A importância da terra acompanhou a passagem do tempo, ao longo da nossa história, testemunha das alterações políticas do país, mantendo sempre o seu prestígio entre Monarquia e República .
A alteração de "Caldas da Rainha Dona Amélia" para o nome actual, " Termas de São Pedro do Sul", foi a continuação natural da política republicana na substituição de todos os símbolos monárquicos.
Indiferente aos conflitos do Homem, São Pedro do Sul sobreviveu, palatinamente, às conturbações da História.
Perde-se no tempo o conhecimento do poder curativo das águas sulfatosas e quentes da vila.
Foram os romanos que desenvolveram a região, aproveitando a dádiva da Natureza para benefício do Homem. Estes construíram o " Balneum Romanum" e difundiram os benefícios das suas águas a todo o mundo ocidental.
No século XII, D. Afonso Henriques, reconhecendo a importância da região, concede-lhe carta de foral e cria o concelho de Vila do Banho.
A importância da terra acompanhou a passagem do tempo, ao longo da nossa história, testemunha das alterações políticas do país, mantendo sempre o seu prestígio entre Monarquia e República .
A alteração de "Caldas da Rainha Dona Amélia" para o nome actual, " Termas de São Pedro do Sul", foi a continuação natural da política republicana na substituição de todos os símbolos monárquicos.
Indiferente aos conflitos do Homem, São Pedro do Sul sobreviveu, palatinamente, às conturbações da História.
Amizade
"A firme decisão inicial, de não alongar o texto deste post, esfumou-se mal o comecei a redigir. No meu íntimo sabia que seria assim..."
O dia acordara enublado e chuvoso, cobrindo, com o seu manto cinzento, a Natureza, pincelando-a de cores frias.
Com a decisão tomada na véspera e o destino sabido, parti.
O tempo esgotou-se em reflexões, inspiradas na exuberância do verde e na beleza da paisagem, matizada pela neblina que a envolvia.
As sensações despertas, pelo ambiente, acordaram as emoções e hipnotizaram o lado físico do Eu, enquanto o espírito absorvia a tranquilidade da beleza exterior: dei-me!
Ladeada de verdes prados, enfeitados de penedos e fragas, a estrada encurvava-se nos desníveis do terreno.
De repente, no final de uma apertada curva, abrindo-se ao forasteiro, resplandeceu, em todo o seu esplendor, um cenário de contornos românticos, entre o casario e o verde molhado da vegetação, embalado pelo som ritmado das águas agitadas do rio Vouga, emprenhado pelas chuvas intensas do Inverno.
A paisagem, de uma beleza estonteante, inebriou os sentidos.
A razão da viagem aconteceu: reencontro calmo, sereno, envolto em olhares que se percebem, sem recurso a muitas palavras; abrimo-nos numa amizade partilhada, alicerçada no tempo; demo-nos na compreensão das diferenças; entendi uma verdade pura: numa amizade, cada amigo é único, importante. A amizade não se esgota na distância, no silêncio. A amizade respeita os tempos de cada uma das partes e dá-se sem exigências, apenas acontece!
"As ironias da vida acontecem: a lonjura da distância, gerada por um acaso da vida, permitiu o que a proximidade quotidiana adiava."
O dia acordara enublado e chuvoso, cobrindo, com o seu manto cinzento, a Natureza, pincelando-a de cores frias.
Com a decisão tomada na véspera e o destino sabido, parti.
O tempo esgotou-se em reflexões, inspiradas na exuberância do verde e na beleza da paisagem, matizada pela neblina que a envolvia.
As sensações despertas, pelo ambiente, acordaram as emoções e hipnotizaram o lado físico do Eu, enquanto o espírito absorvia a tranquilidade da beleza exterior: dei-me!
Ladeada de verdes prados, enfeitados de penedos e fragas, a estrada encurvava-se nos desníveis do terreno.
De repente, no final de uma apertada curva, abrindo-se ao forasteiro, resplandeceu, em todo o seu esplendor, um cenário de contornos românticos, entre o casario e o verde molhado da vegetação, embalado pelo som ritmado das águas agitadas do rio Vouga, emprenhado pelas chuvas intensas do Inverno.
A paisagem, de uma beleza estonteante, inebriou os sentidos.
A razão da viagem aconteceu: reencontro calmo, sereno, envolto em olhares que se percebem, sem recurso a muitas palavras; abrimo-nos numa amizade partilhada, alicerçada no tempo; demo-nos na compreensão das diferenças; entendi uma verdade pura: numa amizade, cada amigo é único, importante. A amizade não se esgota na distância, no silêncio. A amizade respeita os tempos de cada uma das partes e dá-se sem exigências, apenas acontece!
"As ironias da vida acontecem: a lonjura da distância, gerada por um acaso da vida, permitiu o que a proximidade quotidiana adiava."
quarta-feira, 3 de março de 2010
Pensamento
Receamos expôr o lado mais humano de nós mesmos, quando assumimos, perante os outros, o choro verdadeiro da saudade na perda, como se chorar pudesse, de alguma maneira, ser considerada uma fraqueza, um diminutivo de carácter.
Assumir o choro, sem vergonha de o confessar, é um acto corajoso, de todos os que fazem das lágrimas a tinta que caligrafa a linguagem gestual do coração, comunicando, em discurso não falado, a dor sentida, mas quase sempre adormecida para o exterior.
Chorar é esbater, em suaves nuances, a intensidade da dor na incompreensão, é abrir as comportas interiores e deixar fluir o caudal da saudade, na naturalidade de se Ser, no momento, apenas, corpo e alma, emoção e, quase nada de, razão!
Assumir o choro, sem vergonha de o confessar, é um acto corajoso, de todos os que fazem das lágrimas a tinta que caligrafa a linguagem gestual do coração, comunicando, em discurso não falado, a dor sentida, mas quase sempre adormecida para o exterior.
Chorar é esbater, em suaves nuances, a intensidade da dor na incompreensão, é abrir as comportas interiores e deixar fluir o caudal da saudade, na naturalidade de se Ser, no momento, apenas, corpo e alma, emoção e, quase nada de, razão!
segunda-feira, 1 de março de 2010
Dialéctica
O Homem é um ser, eminentemente, social na medida em que depende do Outro para a formação da sua própria identidade.
A consciência do ser individual nasce da dialéctica do Eu em oposição ao Tu.
A relação do Eu com os Outro é um processo dinâmico, com reflexos na realidade, que permite perceber a identidade na unicidade do ser.
A consciência do ser individual nasce da dialéctica do Eu em oposição ao Tu.
A relação do Eu com os Outro é um processo dinâmico, com reflexos na realidade, que permite perceber a identidade na unicidade do ser.
A Linguagem da Alma do Mundo
A vida é surpreendente, oferece-nos ensinamentos, muitas vezes, não percebidos por desatenção e falta de intuição.
Entender a linguagem da alma do mundo, que se exprime através das lições de vida, implica saber abrir o coração aos outros, purificá-lo dos poluentes da comunicação e aceitar a génese da condição humana.
Esta linguagem universal ensina-nos a importância da partilha, da entreajuda, da solidariedade e, acima de tudo, da simplicidade de ser-se entre os demais.
Todo aquele que, erguido no pedestal da vida, compreende a importância do gesto solidário de estender a mão ao seu semelhante, quando a vida o derrubou, ajudando-o a levantar-se, tomando-o como um igual, esse ser conseguiu quebrar as grilhetas do coração e perceber a linguagem da alma do Mundo.
“ Nenhum homem tem o direito de altear-se perante um outro, a não ser para o ajudar a erguer-se. “
Entender a linguagem da alma do mundo, que se exprime através das lições de vida, implica saber abrir o coração aos outros, purificá-lo dos poluentes da comunicação e aceitar a génese da condição humana.
Esta linguagem universal ensina-nos a importância da partilha, da entreajuda, da solidariedade e, acima de tudo, da simplicidade de ser-se entre os demais.
Todo aquele que, erguido no pedestal da vida, compreende a importância do gesto solidário de estender a mão ao seu semelhante, quando a vida o derrubou, ajudando-o a levantar-se, tomando-o como um igual, esse ser conseguiu quebrar as grilhetas do coração e perceber a linguagem da alma do Mundo.
“ Nenhum homem tem o direito de altear-se perante um outro, a não ser para o ajudar a erguer-se. “
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