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sábado, 25 de dezembro de 2010

Espírito de Natal

Era a época natalícia. As lojas espelhavam, nas montras enfeitadas, as variadíssimas hipóteses para as prendas procuradas. Num vaivém apressado, as pessoas percorriam atarefadas os corredores daquele centro comercial de olhar distraído aos pormenores em busca do presente ideal.
Um cântico de Natal entoava pelo ar e aquecia os corações de todos os que por ali cirandavam. Os pormenores foram pensados com toda a minúcia para que o espírito do Natal preenchesse os corações e as mentes de quem por ali passasse, contagiando o ambiente envolvente num enorme abraço de paz e tranquilidade.
Por entre a gente anónima que percorria os corredores carregada de sacos e embrulhos, um rapaz, de aspecto simples e humilde, vagueava ao acaso vendendo, a um preço simbólico, os jornais que transportava. Por entre a gente distraída e despreocupada aquele gaiato, de olhar triste e melancólico, destoava do conjunto: era apenas um menino amadurecido pelas agruras da vida que contemplava avidamente as montras repletas de brinquedos que nunca tivera. O seu olhar perdia-se por entre os artefactos desejados como sonhos idealizados numa fuga à realidade dura e fria que era a vida que tinha.
E nesse momento, nesse instante fugaz, por entre a multidão apressada e distraída, houve alguém que reparou naquele petiz e na tristeza que o seu olhar denunciava ao contemplar o que sabia nunca poder ser seu.
E nesse momento, nesse preciso instante, esse alguém anónimo pensou, numa promessa interior, que um dia, se o acaso o bafejasse, compraria todos os presentes daquela loja, de muitas lojas e distribuiria por todos os meninos de olhar triste e aspecto humilde que na véspera de Natal não tinham uma família para se aconchegarem, não tinham miminhos para receberem; meninos que a vida, precocemente, fizera homens, mas que eram apenas gaiatos ávidos de amor e carinho.
O menino partiu, carregando no olhar o sonho de um brinquedo, negado-lhe pelas injustiças da vida, enquanto as pessoas, indiferentes e ausentes, continuavam apressadas à procura dos presentes ideais para oferecerem, preparando-se para celebrarem o espírito de Natal!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O tempo certo

Os pássaros que voam na imensidão do céu dificilmente se adaptam à clausura da gaiola.
Os cavalos que galopam, em sôfrega liberdade, na vastidão da planície, dificilmente obedecem ao comando de uma rédea.
O ser que conquista a liberdade, numa luta de coragem e cobardia, dificilmente repete modelos  passados, de vivências marcantes.
As etapas da vida eclodem num tempo certo de existência: nem antes nem depois. Querer, num presente imediato,  apressar  o ritmo  próprio de cada  nova etapa, alterarando-lhe o timing  subjacente que a diferencia das restantes, poderá comprometer o futuro que se idealiza.
Muitas vezes as maiores, as mais longas e as mais fortes caminhadas só se concretizam e enraizam-se se os seres que nelas participam souberem respeitar a dinâmica inerente a cada uma delas nunca esquecendo o factor tempo: nem antes nem depois. Apenas no tempo certo de acontecer.
A vida é um desafio, há que saber gerir com paciência e inteligência os obstáculos a transpor.
Nem antes nem depois, no momento em que tiver de acontecer.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A importância da amizade

" Todos prestam atenção ao que tu dizes. Os amigos escutam o que tu falas. Os melhores amigos prestam atenção ao que tu não dizes"

Já há cerca de 3 semanas que não publico nada no blog. Vários foram os factores responsáveis por esta interrupção: trabalho, com as inúmeras burocracias a ele associadas, falta de disponibilidade, alterações nas rotinas de vida e por último falta de inspiração. Todos estes factores juntos contribuiram para o silêncio prolongado.
A todos aqueles que me dão a imensa honra de fazer da minha escrita uma vossa leitura,dedico este post como modo de me desculpar pela preocupação provocada com o silêncio a que me remeti.
Gosto de escrever - é uma paixão - desde que a escrita brote espontaneamente do coração e da razão. Ultimamente tal não se tem verificado, apenas e só nada, vazio, silêncio...
Há alturas em que, como alguém amigo fez questão em transmitir, interpretar o silêncio é descodificar um dos códigos mais complexos e difíceis da comunicação humana.
Obrigada pela amizade de todos vós.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Querer

Eu quisera ser o Sol escaldante de um dia de Verão, espalhar os seus raios dourados e tudo iluminar, mas fui apenas uma luz trémula e difusa, com medo de se apagar.
Eu quisera ser a imensidão do oceano, um turbilhão de água e espuma de sal e mar, mas fui apenas uma lágrima solta na melancolia do olhar.
Eu quisera ser fortaleza e baluarte, testemunhas de vitórias a alcançar, mas fui apenas prisioneira de um lugar a conquistar.
Eu quisera...
E na junção de tantos quereres, eu sou, apenas, um ser entre os demais.

sábado, 20 de novembro de 2010

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

Civilização e cultura

Quando criei o "Desafioos" imaginei-o como uma versão moderna e actualizada do velhinho diário. Era o meu blog, o meu espaço virtual, muito pessoal, de encontro de mim própria, daí o seu carácter intimista em muitos dos textos publicados.
Há que saber acompanhar a evolução dos tempos e apropriarmo-nos, para nosso benefício, das consequências positivas que a mesma comporta. As novas tecnologias de informação abriram as portas do mundo ao mundo, em fracções de tempo nunca antes imaginadas, anulando, definitivamente, o isolamento e o desconhecimento.
Por esta razão, defendo que um blog poderá também servir como veículo transmissor de cultura.
Como dizia Almada Negreiros "Não há cultura sem civilização, nem civilização que perdure sem cultura."
E o nosso país tem um acervo cultural tão rico!
Divulguemo-lo!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Os (in)amigos

Quando se ocupam determinados cargos de chefia, há que ter bom senso, clareza de espírito, argúcia, inteligência e, acima de tudo, ser-se um bom estratega. O desempenho das funções inerentes a um cargo e a responsabilidade a ele subjacente deverão ser modelares para a defesa dos interesses da empresa e ou instituição e para a confiança que é desejável transmitir-se ao exterior.
Este preâmbulo surge a propósito da intervenção do governador do Banco de Portugal, Doutor Carlos Costa, durante um almoço com empresários na Câmara de Comércio Luso-Espanhola, quando defendeu que os mercados financeiros internacionais têm razões para ter dúvidas em relação a Portugal, devido ao desempenho orçamental do país e aos elevados níveis do défice e da dívida pública do país.
O que se questiona não é a veracidade de tais palavras, mas antes a falta de sentido de oportunidade demonstrada por alguém que deveria pesar as consequências que determinadas afirmações e tomadas de posição podem provocar. Há contextos e contextos e há que saber distinguir a altura ideal para as palavras certas.
Dada a instabilidade económica de Portugal e a desconfiança dos mercados internacionais que em nós recai, parece-me que este discurso peca por ser inoportuno.
Só faltava mesmo acrescentar que não vale a pena investir no nosso país pois está falido, desacreditado e não oferece qualquer segurança e confiança económica.
Convenhamos, há que se ter bom senso e perceber que o peso das palavras e as consequências que elas provocam variam consoante os contextos políticos e económicos em que são proferidas.
Parece-me que esta afirmação, vinda do responsável máximo pela instituição que encima o sistema bancário português, deixa muito a desejar e denota uma certa dose de ingenuidade.
Com "amigos" assim, os de “Peniche” ou da “Onça” são meros aprendizes!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dignidade

Quando nos deparamos com a velhice, na sua forma mais cruel e desumana em termos de perda de dignidade, devido às alterações físicas e psicológicas a que o ser humano fica sujeito – algumas demasiado inumanas pelo grau de dependência e de inoperância que comportam – aprendemos melhor a relativizar as nossas vivências.
A alma fica pequenina, a tristeza invade-nos e uma sensação de impotência tolda-nos perante a visão de um ser humano desprovido das faculdades que lhe permitiram ser autónomo, consciente e dignificado.
Como agir, quando nada podemos alterar?
Carinhosamente, afagar uma mão que se estende na tentativa de suavizar o sofrimento final.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"A montanha pariu um rato"

Nos últimos anos a Escola Pública tem sido alvo de uma série de imposições, fruto de umas quantas teorias da educação, que mais não fizeram do que burocratizar e complicar o processo do ensino-aprendizagem e a vida nas escolas.
Todavia, porém, tal facto seria entendível e aceite se os resultados obtidos, demonstrassem a validade de tais medidas, o que não acontece.
A missão de ensinar tem vindo a diluir-se na burocratização/politização dos processos a ela subjacentes. Quando não há certezas nos actos, multiplicam-se os instrumentos de trabalho – grelhas, descritores, indicadores, entre outros - buscando neles a segurança não existente. Enfim, inventa-se uma panóplia de termos e materiais para concretizar a avaliação daquilo que, devido à referida burocratização, não se tem tempo para ensinar.
Definitivamente, por muito que o barroco da Educação nos obrigue, já não há paciência para tantos artificialismos e exageros.
Já é hora de se alterar o estilo existente!

domingo, 7 de novembro de 2010

Trilogia

Iniciada a madrugada, invade-me um torpor imenso, consequência de um dia bastante “moído”.
Mais uma vez rumei até à capital - o centro nevrálgico deste país - para demonstrar o meu descontentamento em relação à conjuntura política actual.
Neste momento, caros leitores, muitos de vós tereis esgaçado um sorriso compassivo. O vosso pensamento, inevitavelmente, direccionou-se e a pergunta surgiu: “E tu pensas que o governo vai deixar de tomar as medidas anunciadas só porque cerca de 100 mil pessoas resolveram invadir a capital para protestarem?”
Respondo. No contexto económico actual, o governo vai continuar a seguir a sua linha condutora de governação, as medidas anunciadas virão, outras se seguirão e não há manifestação ou greve que altere este cenário.
Consciente deste facto, continuo, no entanto, a defender que é e será sempre importante, como cidadã de um país democrata, ter a hipótese e concretizá-la de demonstrar, ao poder político, o grau de insatisfação que me assola e o quanto discordo da sua linha de acção.
Finalizando, um aparte: Ao longo do dia, apercebi-me de como a trilogia silêncio, atenção e observação permitem captar sentidos e informações que de outro modo escapariam.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ao meu país

Portugal! Será que na longevidade da tua história ainda conservas, com nitidez, a lembrança da tua origem?
Começaste por ser pequeno, tão pequeno como os sabres que te feriram na ânsia da conquista e na sede do poder.
Pelo sonho de um "bastardo" e a coragem de um povo cresceste como nação. Expandiste-te até onde o mar permitiu e a vontade dos homens anuiu. Percorreste os séculos por entre conturbações e calmarias, amadureceste!
Um dia, preconizaste os teus sonhos e compreendeste que eram maiores que o espaço que te limitava. Partiste à aventura, agigantaste-te perante o tenebroso desconhecido. Deste a conhecer ao Mundo, novos mundos.
Foste sangue e dor no imenso labor da massa anónima que edificou o teu esplendor.
Um passado com história notabiliza-te entre os demais.
Eis-te no presente. Foste "coisa" usada, abusada, explorada por gente infame que não soube honrar o teu nome, Portugal!
Choras, e as tuas lágrimas espelham o desânimo, o desalento e a tristeza de um povo.
És nação ferida nas profundezas do teu ser.
Que destino te reservam? Oh nação imortal!
Ergue-te, sacode o jugo, liberta-te dos fracos acobardados e, com altivez, glorifica, de novo, o teu nome, oh Portucale!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Olhares

Após uns dias de um tempo enfurecido, por entre pragas chuvosas e vendavais de vociferações, sucedeu-se-lhes uma manhã calma e serena, antevendo a paz e a tranquilidade próprias da bonança.
Envolto numa neblina, quase nevoeiro, o despontar do dia escondia, por entre a cortina matinal, um sol tímido, um pouco envergonhado pela ausência prolongada.
Acordei para este dia com uma vontade sublime de apreciar a beleza dos pormenores. A abundância da luminosidade permitiu-me distinguir diferentes aspectos da realidade, até então não saboreados.
O que mudara nesta manhã? O meu olhar? Não sei! Apenas sei que da simbiose dos meus dois olhares - emoção e razão -, despontava um novo dia rasgado por raios dourados, prenunciando a mudança.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rotinas

Os serões das quintas-feiras repetem-se, deliciosamente, numa rotina um tanto ou quanto enigmática, assaz perspicaz e repleta de savoir faire. Hercule Poirot, personagem deliciosamente esculpida pela mão de Agatha Christie, anima as noites de quinta-feira, numa viagem ao passado, através da RTP- Memória.
Confesso que, desde que soube desta programação, não perco nenhum episódio.
Todas as quintas, sensivelmente por volta das 22. 20h, liberto a minha faceta “detectivesca” e embrenho-me nos mistérios a solucionar, competindo com as celulazinhas cinzentas do detective belga, Hercule Poirot.
Durante cerca de uma hora e meia saboreio, com prazer, os desafios lançados nos dois episódios transmitidos. E como sabe bem exercitar o raciocínio lógico-dedutivo sem ser na área da matemática!
Bem, confesso que, muitas vezes, não consigo competir com a argúcia de Poirot, e as minhas congeminações ficam muito aquém dessa personagem, cuja cabeça em forma de ovo e senhor de um cuidado bigode surrealista o tornam único e inesquecível.
Os serões de quinta-feira tornaram-se, assim, um ritual ansiado, um momento desejado de prazer e participação. Com eles a lembrança do tempo em que, na minha adolescência, devorava todos os livros policiais da velhinha colecção Vampiro pertencente a meu pai e de quem fui buscar o gosto por este género de literatura.
Rever esta série, adaptada das obras de Agatha Christie, será sempre um prazer inolvidável.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Banalidades

Hoje decidi escrever sobre... nada.
Escrever sobre nada, é quase impossível pois, mesmo elegendo o nada como assunto da escrita, à medida que as ideias fluem, o nada vai-se transformando, paulatinamente, em...tudo: tudo o que o pensamento me ditar, tudo o que as memórias me recordarem, tudo o que as emoções me transmitirem.
O nada abre hipóteses infinitas em que o tudo é posssível!
A magia da escrita consiste nisso mesmo: na possibilidade de, a partir de um nada não pensado, de um vazio de ideias ou mesmo de pequenas banalidades, transformar esse “caos desordenado",  no campo das decisões e das escolhas, em assuntos potencialmente interessantes para desenvolver. Muitos são os factores responsáveis pelas opções tomadas em termos de linhas condutoras que norteiam as decisões de cada um de nós nas suas escolhas.
E porque hoje decidi escrever sobre o nada, apenas meras banalidades, termino este meu post perdida de sono e pronta para ir descansar.
Pode ser que a madrugada, no seu sono tranquilo e reparador, espalhe, no silêncio da noite, a sua magia e beleza e  inspire quem hoje decidiu escrever sobre o … nada!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Contra-senso

A linha orientadora que, desde o início, delineei para este blog não contemplava incursões no campo da política.
No entanto, os episódios, quase diários, protagonizados pelos políticos portugueses, nos últimos tempos, as decisões tomadas e as medidas implementadas, com as inevitáveis repercussões no tecido social e económico do país, fizeram-me mudar de opinião e decidir fazer deste meu espaço de reflexão o lugar ideal para exercer o meu direito de cidadania.
Ora nesta sequência, abordo hoje um assunto que, pelo caricato que comporta, não poderia deixar de o referir.
O sistema prisional português introduziu, há algum tempo atrás, uma medida que permite aos presidiários, com penas acima dos seis meses, poderem receber visitas de esposa/marido/namorada/namorado, numa sala privada, de modo a satisfazerem o lado emotivo e afectivo.
Não questionando esta permissão – com a qual não concordo – fiquei espantada quando soube que os serviços prisionais fornecem, gratuitamente, os preservativos para os encontros amorosos nas cadeias.
Corta-se nos abonos de família e nos vencimentos, congelam-se salários e progressões, fecham-se escolas, maternidades e urgências, mas, em contrapartida, o Estado desbarata, com acções deste teor, o erário público português!
Gostaria que alguém me explicasse este contra-senso porque eu não consigo entender!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Roubar legalmente

A propósito de um mail que circula pela Net sobre a não obrigatoriedade do pagamento da utilização dos audiovisuais apensados à factura da EDP e, já que necessitei de me dirigir aos serviços desta empresa, resolvi solicitar ao funcionário que me facultasse o respectivo modelo com a intenção de o preencher.
Prontamente, quem me atendia informou-me da não existência de tal impresso. Como não ficasse muito convencida e para que não restasse qualquer dúvida, o funcionário forneceu-me uma fotocópia do Decreto-Lei que legisla tal pagamento.
De facto, nos pontos 2 e 5, do artigo 3º, do Decreto-Lei nº 169-A/2005, de 3 de Outubro,  lê-se "A contribuição para o audiovisual incide sobre o fornecimento de energia eléctrica, sendo devida mensalmente pelos respectivos consumidores" e " As empresas distribuidoras (...) não podem emitir facturas (...) nem aceitar o respectivo pagamento (...) sem que ao preço da energia seja somado o valor da contribuição para o audiovisual."
Portanto, o pagamento deste imposto é obrigatório e, por mais que não estejamos de acordo, não há como evitá-lo.
O mais grave, nesta situação toda, é que a razão para a sua criação prendeu-se com "a necessidade de contribuir para a sustentabilidade financeira do serviço público de rádio e de televisão (...)
Ou seja os portugueses estão a pagar mensalmente um imposto de cerca de 2 euros que, a partir de Janeiro, irá duplicar, para manterem uma estação televisiva estatal com vida, já que os únicos "lucros" que apresenta são negativos.
Pergunta-se: Porque razão continuamos, teimosamente, a alimentar uma estação televisiva cujos únicos interessados, na manutenção da sua forma estatal, são os sucessivos governos de modo a poderem ter um canal que lhes dê cobertura e onde possam mandar e desmandar?
Por que, face aos prejuízos apresentados, ano após ano, não se viabiliza uma solução que passe pela sua privatização? Afinal estamos em crise e, quando há hipótese do governo tomar medidas que ajudem a combater o deficit, nada faz a não ser obrigar os mesmos de sempre a pagarem?
Isto é uma maneira descarada de roubarem o povo português.
O grave problema deste país, que se vem arrastando há já alguns anos e cujas consequências começam agora a serem sentidas e visíveis, reside no naipe de políticos que temos tido e que não têm sabido gerir convenientemente os interesses do Estado.
É admissível, quando se aposta num discurso que apela à contenção e às reduções das despesas do Estado, o governo ir gastar cerca de dois milhões de euros em publicidade sobre o censo de 2011 que se avizinha? E para quê tantos milhões destinados às decorações e outras despesas do género que em nada contribuem para o bem - estar de um país?
Se isto não é gozar com cada um dos portugueses que sente na pele a dureza das medidas que desde 2005 têm vindo a ser aplicadas e a demonstração de uma total falta de respeito então, os valores pelos quais me pauto estão errados.
Precisamos de seguir o exemplo do que se passa em França, mas infelizmente Portugal é um país à beira mar plantado, de gente que refila muito, mas pouco faz para alterar a situação em que nos encontramos, demonstrando veementemente, com acções cívicas, o seu desagrado e descontentamento.
Somos os eternos tristes da Europa!

Assina: Uma contribuinte e cidadã que perdeu a esperança em quem nos governa, e lamenta tristemente o destino deste país.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Noite

A constatação de que a noite exerce sobre mim um fascínio inexplicável é um facto há muito descoberto.
Sem dúvida, a noite é, por excelência, o momento do dia em que me confesso, reflicto, e me reajusto num movimento interior de auto conhecimento e da procura da parte mais escondida dos outros.
A noite conflui em si uma aura de misticismo e secretismo que me transporta para os confins do desconhecido numa demanda pessoal, única e nunca acabada.
É à noite, quando a escuridão e o silêncio se espalham em vagas sucessivas e invadem o todo, que o cenário ideal acontece para que uma outra luz, foco de energia, resplandesça e brilhe em todo o seu esplendor e, projectando-se no infinito, expluda em jorros de beleza inalcançável e indescritível.
Talvez um dia, na longa noite, algures, num ponto do espaço infinito e de um tempo ainda não sabido, a junção entre as duas aconteça e a busca do “Graal” pessoal cesse.
E finalmente uma doce serenidade envolva e abrace um ser à descoberta de si próprio.

domingo, 17 de outubro de 2010

Intempérie


Como o mar revolto, em dias de intempérie, solto ecos de mim espelhando a tempestade.
Voo na senda da plenitude.
Solto-me e, nas asas do vento, parto, rumo à ilusão da liberdade, em busca de um lugar, algures entre a terra e o mar, e nele, por fim pousar e calmamente me encontrar.

sábado, 16 de outubro de 2010

Se eu pudesse


Tempestade
"..."Se eu pudesse
 embriagar-me de um poema...
Se a pena que trago
em frases me fizessem chegar
n'algum lugar...
Seria mar, chão batido e luar...
Seria cada gota d'água
desaguando nas letras
de qualquer poemar."

Pedro Miller

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

IF...

(No início de mais uma calma madrugada, lembrei-me deste poema que, de algum modo, há alguns anos atrás, constituiu um marco importante na afirmação do meu Eu consciente, político e ético.
Entrego-me à noite cálida e serena, embalada pela beleza sábia do "If" de Rudyard Kipling, recordando, com carinho, uma etapa do processo que me formou.)

Se...
Se podes conservar o teu bom senso e a calma,
Num mundo a delirar, pra quem o louco és tu,
Se podes crer em ti com toda a força d'alma,
Quando ninguém te crê; Se vais, faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário,
Se à torva intolerância, se à mera incompreensão,
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas de Amor e bençãos de Perdão;

Se podes dizer bem de quem te calunia,
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afetação de um Santo que oficia,
Nem pretensões de Sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a Esperança,
Sonhar, mas conservar-te acima do teu Sonho,
Fazer do pensamento um Arco de Aliança,
Entre o clarão do Inferno e a luz do Sol risonho;

Se podes encarar com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota - eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o Mal,
E resignar, sorrindo, o Amor dos teus Amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste;

Se és homem pra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todos o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Banhadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo;

Se podes obrigar o coração e os músculos,
A renovar um esforço hà muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só existe a Vontade a comandar "Avante!";
Se vivendo entre os Pobres, és Virtuoso e Nobre
Ou vivendo entre os Reis, conservas a Humildade;
Se amigo ou inimigo, o Poderoso e o Pobre
São iguais para ti, à luz da Eternidade;

Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta,
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;
Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os Reis, os Tempos, os Espaços,
Mas, 'inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um Infinito ao rumo dos teus passos;

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te meu Filho, então... serás um HOMEM.

Rudyard Kipling,
versão portuguesa da autoria de Félix Bermudes

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dolce fare niente

Manter-se um blog obriga, necessariamente, à publicação, senão diariamente, pelo menos com frequência.
E se há dias em que as ideias pululam e a escrita escorre célere, outros há, porém, em que o acto de escrever empena, emperra, esbarra no vazio do assunto.
Hoje, é um daqueles em que poderia ter feito as mais variadas abordagens. Contudo, confesso que não me apeteceu. Com a música por companhia, recosto-me e, num abandono assumido, permito-me usufruir do saboroso "dolce fare niente" de final de serão. E como sabe bem o nada fazer após um dia de intenso trabalho!
“Dolce fare niente”, a melhor terapia de contemplação na busca da renovação, da alegria, e da leveza de espírito e de corpo.
Mais do que nenhum outro povo, os latinos percebem bem a importância deste momento catalisador de energias pessoais.
O “dolce fare niente” embala-nos no prazer do nada e do tudo!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Espelho

Há valores morais e éticos que, independentemente da situação ou contexto em que o ser humano se movimente, serão sempre intemporais, inquestionáveis, imperativos.
Uma das diferenças entre um Homem e um homem reside no modo como o ser humano, numa situação de prevalência sobre outro ser humano, age, interage, reage.
Os momentos de tensão e conflito, geradores de emoções por excelência, reflectem e espelham, de um modo ímpar e nas acções desencadeadas, a verdadeira essência do ser.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O espírito do dia

Teimosamente, uma chuva miudinha persistiu em cair durante todo o dia.
O tempo, de cara mal disposta e ar zangado, convidava ao aconchego do lar.
Em dias como este, em que o cinzento das nuvens encobre a luminosidade e escurece o humor, sabe bem acender o lume e ficar na penumbra, contemplando a dança executada pelo crepitar do fogo.
O estado de espírito do dia contagia o da alma num convite à evasão dos sentidos.
As horas passam na monotonia compassada da chuva a cair.
Anoitece.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os lapsos da República

Cem anos, cem escolas.
O governo decidiu, num gesto simbólico, senão mesmo forçado, fazer coincidir a inauguração oficial de 100 escolas, algumas reformuladas, com a efeméride do centenário da República.
Na minha modesta opinião, considero tal acção uma mera manobra política de marketing , com vista a diminuir os efeitos negativos que as recentes medidas tomadas provocaram na imagem do governo.
No meio de tanta inauguração – faz-me recordar um passado ainda bem recente – seria inevitável a existência de situações, no mínimo, caricatas.
Ora, numa das escolas hoje inauguradas, no concelho de Coimbra, com pompa e circunstância e na presença da Ministra do Ambiente, a preocupação com a envolvência exterior foi pensada de modo a gerar um ambiente harmonioso, recreador de espaços naturais, com vista a impressionar a responsável por esta pasta ministerial. Para o efeito foram “plantados” cerca de 24 pinheiros nas imediações do espaço circundante.
Mas estas plantações, em vez de serem efectuadas no terreno local, fundeando as raízes das árvores de modo a fixarem-se ao solo, ficaram confinadas a simples vasos que foram, estrategicamente, colocados numa mise en scène.
Os pinheiros, acabada a encenação oficial da inauguração, serão reenviados para a empresa que os cedeu para a ocasião, o que seria complicado de efectuar caso tivessem sido plantados no terreno da nova escola.
Ou seja, continuamos a funcionar como um país de faz de conta, onde o que interessa são as aparências e as encenações com vista à divulgação, em todos os órgãos de comunicação social, de não verdades, meias verdades e omissões!
E viva a República e os republicanos!...
(Um reparo a uma estação televisiva que na sua emissão acerca do centenário da República informava que o último rei de Portugal fora o rei D. Carlos.
O jornalista, que organizou a peça transmitida, esqueceu-se de fazer o trabalho de bastidor, caso contrário ter-lhe-ia sido fácil descobrir que o último rei de Portugal foi sua alteza real D. Manuel II, o qual, aliás, se viu obrigado a partir para o exílio,da Ericeira, acompanhado da família real, primeiro rumo a Gibraltar e mais tarde a Inglaterra.)
Por muito que me esforce não consigo descortinar razões válidas para tanta panóplia à volta deste acontecimento.
Antes uma  Monarquia liberal e democrata do que uma Democracia autocrática e impositora!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Triste fado


Castelo de Torres Vedras

Portugal é um país(eternamente) adiado e pequeno.
Adiado, pela recusa em assumir-se como responsável, dinâmico, coerente, correcto, íntegro.
Pequeno em toda a acepção da palavra.
Pequeno, na extensão do seu território, formado pelos 92.446 km2.
Pequeno, no sonho de Ser, de alcançar, enfim cumprir-se!

Erro do sistema

A propósito de uma série de situações que se sucederam no decorrer de instâncias processuais, no mínimo caricatas, a certa altura apercebi-me do uso sistemático, por parte de instituições e serviços, públicas e privadas, de uma expressão que, pretendendo explicar tudo, reduz-se a nada.
Os “erros do sistema”, chavão muito em voga, inundou, nos últimos tempos, o rol de motivos apresentados para desculpar a inoperância, o descuido, a incompetência de certos funcionários que prestam serviços a terceiros.
Hoje em dia, é comum ouvir-se um qualquer funcionário, de ar compenetrado, afirmar, convictamente, que se algo não funcionou, tal se deveu a um “erro do sistema”.
Portugal foi invadido por "erros do sistema".
Aliás, o nosso país acarinhou, apadrinhou, tornou-se compadrio dos “erros do sistema”.
Com tantos "erros no sistema" é inevitável concluir-se que ou o sistema está obsoleto e necessita, urgentemente, de ser reformulado, alterado, em última instância, substituído ou, então, é o próprio Portugal um grande erro do sistema!...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

U2

2 de Outubro: O dia despertou e Coimbra espreguiçou-se, enquanto se aquecia com os reflexos dourados dos primeiros raios de sol.
3 de Outubro: A cidade acordou fustigada pelas  primeiras chuvadas de Outono que vieram saudar a Natureza.

Ronceiramente um movimento invulgar envolveu a cidade. A cadência das rotinas quotidianas foi quebrada e, de súbito, a urbe fervilhou, desperta pela turba, gente anónima, unida pela mesma paixão: a música.
A “minha” cidade abraçou, num gesto de ternura, todos os que vieram assistir ao concerto dos U2.
A vida, a luz e a cores que contagiaram a cidade, desde as primeiras horas do dia, tornaram-na ainda mais bela e sedutora.
Coimbra, enfeitada para os espectáculos, dançou e vibrou ao som dos acordes musicais que a embalaram. Extasiada, quedou-se, seduzida pelo ritmo e pelo som.
Por fim, desperta pela presença da madrugada, despediu-se da noite e aninhou-se nos braços protectores do Mondego, adormecendo, enfeitiçada pelos reflexos prateados das águas do rio.

domingo, 3 de outubro de 2010

Amor é síntese

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu…
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.


Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.


Mário Quintana

sábado, 2 de outubro de 2010

Há dias

Há dias em que sorrimos para a vida, brilhamos em reflexos de cores fortes, espelhamos a alegria que irradia de dentro.
Há dias em que as palavras tristeza e desânimo,só existem no dicionário.
Nesses dias, em que as emoções e os afectos se entregam na cumplicidade consentida, desejada, procurada, compreendemos a importância da presença e sentimos a saudade na ausência.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mera sugestão

Ainda a propósito do mesmo assunto, quando ouvia as notícias na TVI, a certa altura, o jornalista convidado, Nicolau Santos, do Expresso, comentava que" No próximo ano, todos os ministérios vão fazer praticamente de mortos" a propósito das medidas anunciadas e do objectivo a que se propunham.
Já agora e face ao rigor na contenção das despesas por parte do Estado, que implicará um poder de decisão nulo por parte dos outros ministérios, logo passarão a uma situação de existirem mas não servirem para nada, do género ministérios fantasmas, lanço o seguinte repto ao Senhor Primeiro-Ministro:
De fantasmas está o país farto, acabe-se então com eles todos, já que só existirão de corpo presente, porque impedidos de tomarem qualquer decisão e assim o erário público amealhava uns bons milhares de euros com menos ministros, subsecretários de estado, secretárias, moços de frete, carrões, futuras pensões chorudas, e toda a panóplia inerente à sua existência.
Diga lá senhor Primeiro-Ministro se não seria uma forma do governo dar o exemplo e tomar ele medidas que demonstrassem a todos os portugueses o quanto está interessado em contribuir para ajudar a suavizar a grave situação em que nos encontramos por culpa de Vossa Excelência e da equipa com que se rodeou.
Uma mera sugestão, senhor Primeiro-Ministro!

Responsabilidades

Inevitavelmente o assunto do post de hoje prende-se com a actualidade política portuguesa e com o anúncio feito pelo Primeiro-Ministro à saída da reunião do Conselho de Ministros.
Poderia redigir um texto que espelhasse todo o desânimo, desalento, raiva que me inunda face à inoperância de quem, nos últimos anos, nos tem governado e mal!
Para o desempenho de um cargo é necessário ter-se o perfil adequado, caso contrário corre-se o risco de se cometerem demasiados erros e comprometerem-se os objectivos que se pretendiam alcançar, com as nefastas implicações que o mau exercício do cargo acarreta.
A ideia de que na vida política a punição pelos desaires se paga no sentido de voto nas eleições seguintes, como solução para a responsabilização do mau desempenho dos maus profissionais já não chega!
Quando a economia de um país chega ao estado em que nos encontramos, após anos de medidas de contenção, a recaírem sempre sobre os mesmos por tomadas de decisão erradas, por dinheiros mal empregues, por políticas económicas desastrosas, não basta esperar pelas próximas eleições para demonstramos o nosso desagrado e pedirmos responsabilidades a quem de direito.
Na Irlanda o Estado meteu em tribunal o Primeiro-Ministro que exercia o cargo aquando da falência da sua economia.
Será que o Estado português não tem fibra suficiente para enfrentar os pseudo políticos que em cerca de 5 anos conseguiram piorar toda a estrutura de um país?
A paciência esgotou-se!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Emoções

Tal como o sol que coloriu o dia com os seus raios dourados em tons de Outono, assim o meu eu, emotivo, inspirado pelas tonalidades dos afectos, resplandeceu em raios de sentires.
Entre o espaço que separa um descanso quase a terminar, e o trabalho prestes a recomeçar, fundo-me com o tempo, abandono-me às recordações: é o momento da noite em que a noção temporal perde importância. O tempo abre-se num hiato em espiral onde os afectos e as emoções constituem as memórias mais importantes do dia que finda: olhares que se entendem, silêncios que comunicam, gestos que traduzem sensações.
No final deste hiato temporal, uma hipérbole de sentires toca-me o todo: sinto-me elevada a um plano superior, onde a serenidade e a tranquilidade invadem-me o ser e calmamente, prenhe de uma paz interior, abandono-me nos braços de Morfeu e entrego-me aos deleites do sono, vigiado pelas ninfas inspiradoras que o guardam pela noite dentro.
A serenidade invadiu-me, sinto-a percorrer cada bocadinho meu, enquanto, vencida pelo cansaço, abandono-me na inconsciência do sono.
Adormeço, repleta de um bem-estar interior, pacificador de mim!

domingo, 26 de setembro de 2010

Preservação do eu

Agora, no reencontro de mim própria, silencio os pensamentos que me assaltam, na preservação do ser que sou.
Por entre os sons da noite recuso partilhar, em forma de palavras, as ideias que insistentemente brotam do mais íntimo de mim, recuso desvendar os mais secretos pensamentos que me embalam na noite e me adoçam os sentires.
Na madrugada, num contraste entre o tudo e o nada, contra-sensos da vida, oculto um outro lado de mim: inacessível, desconhecido, conscientemente, resguardado do exterior - tentativa assumida de preservar a individualidade do que sou -.
No momento do dia mais propício à descoberta da minha identidade, tranco as portas da intimidade na defesa do que sou, quero e posso. Egoisticamente, fecho-me sobre mim própria, num diálogo interior.
Hoje e agora, a faceta intimista, que caracterizou algumas das minhas publicações anteriores, transformou-se numa recusa em desvendar-me, desnudar a alma, na perda da privacidade emocional, para poder continuar a ser eu própria.
Nenhum ser humano é completamente transparente, pois caso isso acontecesse a pessoa tornar-se-ia frágil e dependente dos outros.
Cada um de nós transporta em si mistérios indesvendáveis, não porque sejam eticamente incorrectos, mas porque são necessários assim continuarem para a sobrevivência da nossa própria personalidade, do Eu que somos!
Recuso desnudar os pensamentos que me acompanharam nesta noite tranquila!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Haja vergonha

Ao redigir este post transporto, para o papel virtual, a imensa perplexidade que sinto face a um conjunto de situações que, aparentemente, nada têm de comum, mas que me obrigam a reflectir e a concluir inevitabilidades sobre o carácter de quem detém e exerce o poder neste país. E isso entristece-me! Revolta-me!
Há já alguns anos que o poder central tem vindo, sucessivamente, a pedir aos portugueses - e com um maior enfoque à função pública - compreensão para um conjunto de medidas que, por causa da crise económica internacional, se viu obrigado a tomar: congelamento de progressão nas carreiras, aumentos abaixo do nível real da inflação, redução do número de pessoal, aumento da idade da reforma, aumento dos impostos, entre outras.
As últimas notícias sobre o estado da economia portuguesa falam do enorme montante da nossa dívida externa, da necessidade urgente de se tomarem medidas que travem a subida do deficit público, da coragem política em o fazerem e da probabilidade de intervenção do FMI para solucionar o grave problema que nos afecta.
No recente mega-agrupamento escolar a que pertenço, o número de auxiliares de acção educativa, no presente ano lectivo, sofreu uma redução significativa, apesar das exigências laborais terem aumentado.
Entretanto, a Câmara Municipal, responsável pela contratação destes funcionários, não renovou o contrato com um, o qual há alguns anos vinha a prestar um excelente serviço ao estabelecimento onde exercia a sua actividade, pois, para além de outras mais-valias, era uma pessoa multifacetada em termos da abrangência, género “chega a tudo”. Por outro lado, alguns dos restantes funcionários, com a abertura do novo Centro Educativo, foram recolocados de modo a suprirem as novas necessidades.
Nos últimos anos tem sido pedido aos portugueses uma enorme dose de compreensão para com: a grave crise económica que nos assola; as medidas que, como sempre, acabam por recair em cima dos mesmos; os despedimentos; a diminuição dos postos de trabalho (por motivos que não se prendem com a falta do mesmo); a não solução e o agravamento do problema não obstante as medidas já tomadas.
Face a este panorama calcule-se o espanto, acompanhado de revolta, ao ouvir, esta manhã, a notícia de que o Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, nomeou mais um assessor de imprensa, para o seu gabinete, e que irá trabalhar em parceria com os outros dois já existentes.
Com que autoridade moral pode um ministro pedir contenção, compreensão e anunciar novas medidas, quando o exemplo que dá contraria toda a prática subjacente ao seu discurso?
Haja vergonha!

domingo, 19 de setembro de 2010

Lição de democracia

A Câmara Municipal de Miranda do Corvo, a partir do próximo ano, passará a cobrar menos pelo Imposto Municipal sobre Imóveis.
Tal medida deve-se ao facto de, na última reunião da Assembleia Municipal, este órgão ter aprovado, por unanimidade, uma proposta no sentido de se procederem a alterações nos valores do IMI.
Consciente das dificuldades por que passam as famílias da região, a edilidade fez história ao tomar a decisão de diminuir o valor deste imposto municipal contribuindo, na medida das suas possibilidades, para suavizar os encargos financeiros dos seus munícipes.
Ao tomar esta decisão, a Câmara Municipal de Miranda do Corvo ensina, a todos os que ocupam cargos políticos, uma lição de Democracia no sentido mais puro do termo: o poder só se cumpre, só tem sentido, quando colocado ao serviço e pelos interesses de quem o delega.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

De ideia em ideia

A nossa mente é um dos mecanismos mais surpreendentes devido à perfeição e à precisão do seu funcionamento.
A maneira subtil de saltar e rodopiar de memórias em memórias, retratos temporais diversos, convergindo, num mesmo momento, ecos do passado despertos por pormenores do presente, delicia-me.
Hoje, quando abri a página principal do Google derreti-me com o desenho inserido na página inicial deste motor de busca que pretende homenagear o 120º aniversário da célebre escritora Agatha Christie. Ao ver as letrinhas “Google” retratando, com minúcia, personagens e cenários sobejamente conhecidas de todos os amantes deste género literário, sorri, maravilhada com a combinação da imaginação associada à perícia na fidelidade dos contextos em que a narração se desenrola.
E deliciada com as recordações que tal logótipo me despertou, recuei no tempo e viajei até à aldeia onde era habitual passar as férias grandes. Foram tempos que deixaram saudade e ficaram gravados no pensamento e no coração pela intensidade das vivências experienciadas, pelo convívio amigável, pela salutar amizade partilhada por um grupo de adolescentes ávidos de liberdade e de aprendizagens. Umas das nossas brincadeiras preferidas nas férias grandes, durante as noites cálidas e serenas de uma aldeia perdida nos confins de um Portugal rural, era o jogo do assassino.
Este jogo implicava, para além do divertimento em si, ter-se uma perícia na arte da dedução, de modo a que o jogador, incumbido do papel de detective, conseguisse, através de um intenso inquérito às personagens presentes na cena do crime, deslindar os trâmites do enredo e descobrir o terrível assassino.
Ao olhar para o logótipo do Google, as minhas memórias da época emergiram repentinamente e sorri, com muita saudade, relembrando, com carinho, aquele tempo em que a pureza e a simplicidade que nos caracterizava marcaram para sempre este período delicioso da minha juventude.
Felizmente este ano tive a grande alegria de poder rever, in loco, a aldeia e o casarão que ficarão para sempre como o sítio onde sei que fui feliz!
Resta a saudade, sempre!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Lenda pessoal

Naquelas noites em que o sono parece não ter pressa, aquieto-me, imóvel, desprendendo o fio do pensamento que se desenrola em sucessivas fiadas, enquanto o silêncio, prenhe de paz, me acompanha na madrugada.
No momento de maior quietude, a mente, contrariando o ambiente que a inspira, agita-se numa sucessão de imagens, formulando, conscientemente, reflexões de final de dia.
Algures, num recôndito canto do pensamento, um eu reflexivo e verdadeiro repassa, pelo crivo da consciência, todos os bocadinhos de tempo que foram vivenciados até ao momento: processo necessário para a veracidade imprescindivel à concretização da lenda pessoal.
É nessa altura que a verdade ganha força face às artimanhas manhosas com que o eu quotidiano e social insiste em utilizar.
No silêncio apaziguador da noite, os problemas do dia são questionados, as atitudes repensadas, os diálogos reinterpretados, os actores reavaliados, as opções ponderadas, as decisões tomadas.
É nesta catarse, simbiose da dualidade dos egos, que Eu me reavalio, reformulo, reconstruo.
É no silêncio pacificador da madrugada que me encontro e me conheço.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

(In) veritas

Hoje, enquanto “folheava” a edição on line do Público, a minha atenção direccionou-se para um curto vídeo relativo à entrevista que a senhora Ministra da Educação, professora Isabel Alçada, deu a este jornal diário, divulgando as Metas Educativas de cada Ciclo de Ensino.
Após ouvir atentamente as palavras de tão simpática senhora, passei à leitura, mais pormenorizada, quer do desenvolvimento de cada subtítulo quer dos comentários dos leitores.
No final, a ideia, (pré) concebida, de que, neste pequeno país, continua a haver quem seja mestre na arte da ilusão, das não verdades e prefira ver o que mais ninguém vê e interpretar, de um modo muito sui generis, o que mais ninguém interpreta, confirmou-se!
Mas o pior de tudo é quando tal sintomatologia atinge preferencialmente certa casta que ocupa lugares cimeiros e cujas decisões terão repercussões nas estruturas basilares da sociedade!
Tal como numa charge política de há uns anos atrás, também eu digo:” Sim, senhora ministra!”

Post-scriptum: Entre outras (in) veritas, gostei, em particular, da parte em que a senhora ministra afirma que não são 30 km, mas sim 15 km para cá e 15 para lá!
Hilariante!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Estado de espírito

Uma sensação de bem-estar pleno invade-me nesta noite calma e tranquila de um Setembro bem-disposto, queimado pelo Sol de Verão que, pausadamente, continua o seu percurso na elíptica do caminho a percorrer.
Lá fora, os elementos naturais, indiferentes ao tempo, soltam-se no espaço na cumplicidade da noite que os abraça.
Atraída pela brisa morna que me chama, olho a noite escura, enfeitada pelo cintilar prateado das estrelas do céu, fecho os olhos, inspiro o ar que me enleia e agradeço - Lhe a serenidade envolvente que me tranquiliza o espírito. Sinto-me transportada nos braços agitados do vento, que em tropelias marotas, desperta a ramagem sonolenta das árvores ancestrais: solto, bravio, livre.
Não sou mais que um microcosmo, uma minúscula partícula no conjunto do Universo, sou nada e sou tudo, sou a parte de um todo.
Nesta noite quente e calma, eu sou a aragem traquina, eu sou espírito, sou alma, sou afecto, sensações, sou murmúrios, sussurros de mim própria.
Nesta noite amena e tranquila quero ser o vento solto, a brisa morna, o fascínio da noite, o brilho das estrelas, a elíptica do Sol.
Eu quero perder-me para me encontrar e, na imensidão do Universo, descobrir o meu lugar.

domingo, 12 de setembro de 2010

Conto

A ironia da vida juntara-os num acaso do momento.
Passados tantos anos, ainda recorda, com a mesma intensidade de então, o dia em que a conheceu. Naquela fracção de segundos em que as mãos se apertam e os olhares se cruzam, pela primeira vez, sentiu uma doce e suave sensação percorrendo-o, enquanto estremecia por dentro.
Eram dois seres estranhos que cobardemente ousavam viver.
E aquele acaso transformou-se em rotina repetida vezes sem fim.
Ao longo do tempo foram-se construindo no dia-a-dia, num conhecimento partilhado a dois: sedimentou-os a amizade baseada na cumplicidade e na junção dos quereres.
Juntos iam edificando um futuro adiado na esperança do presente.
Eram vidas diferentes, personalidades opostas que a paixão ligara e o amor unira.
Por entre os dias de um tempo com tempo viviam convulsões, emoções, sentires bem despertos.
Os anos voaram e de novo a ironia da vida delineou-lhes o rumo da sua história: Ele, intenso no amor que lhe dedicara, sufocava-a de tanto querer, ela, sentindo-se aprisionada, perdia-se na tristeza da clausura, adormecendo o amor por que tanto lutara!
Partiram, flagelados pela dor que ambos sentiam.
E no momento da despedida ficaram retalhos despedaçados de vidas vividas: intensamente vividas, sofridas, amadas, ousadas, reinventadas em emoções despertas.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A verdade

Um destes dias, numa conversa informal, falava-se da verdade e da coragem em assumir, presencialmente, aspectos do outro que se consideram menos bons. Defendia que ouvir a verdade doía, isto quando a mesma se refere a aspectos negativos da personalidade ou a acções que possam ser criticadas por condutas menos próprias.
Por entre dissertações e explanações da ideia apresentada, um dos interlocutores lançou para a conversa uma outra ideia que inflamou a discussão, reacendendo o debate:"a verdade não dói" - afirmava ele - "as pessoas é que não estão preparadas para a ouvirem" - acrescentou em tom conclusivo.
De facto o que nos provoca a dor não é a verdade, (cada um de nós sabe-a no mais profundo de si mesmo) mas antes a sua verbalização, por alguém exterior a nós, provocando brechas na imagem que criamos e, acerrimamente, defendemos na nossa vida social.
E isso, meus caros, é que dói!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O silêncio

“Estão todos com medo. Todos eles vão mergulhar no silêncio, nas profundezas das suas próprias mentes e almas.”
In, “Comer, orar, amar”, Gilbert, Elizabeth

A frase citada foi retirada do livro que me tem feito companhia nos últimos tempos.
Ao chegar a esta parte da acção, decidi fazer uma pausa na leitura e reflectir na ideia veiculada pela personagem e que lhe está subjacente.
De facto o silêncio incomoda a maioria das pessoas. Não gostamos de o ouvir. Para isso, rodeamo-nos de tudo que consiga anular a sua acção. E por que razão evitamos momentos de silêncio puro? Talvez porque seja através do silêncio que escutamos o mais profundo de nós, que comungamos com o eu verdadeiro, amordaçado, aprisionado nas rotinas do quotidiano, na anulação do que verdadeiramente somos.
É fundamentalmente pelo silêncio que alcançamos o conhecimento de nós próprios, tomamos consciência do que somos, de como somos e nos abrimos à verdade. E porque somos humanos e imperfeitos, a descoberta dos defeitos, que nos formam e condicionam, amedronta-nos.
O barulho distrai o pensamento em manobras de diversão que impedem o diálogo interior.
O silêncio conduz à reflexão, ao conhecimento, à aceitação e à mudança.
Saibamos ouvir o silêncio do coração!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A brincar, a brincar...

Quando pensamos em rotinas substantivamo-las, quase de imediato, com aborrecimento, tédio. No entanto existem certos tipos de rotinas que de tédio nada têm, são pequeno oásis no deserto inóspito de outras rotinas diárias. Essas sim, aborrecidas, entediantes!
O momento do dia dedicado à leitura do Diário de Coimbra é sem dúvida uma fonte de água fresca que sacia a sede de notícias da região.
De vez em quando, para suavizar a seriedade dos assuntos noticiados, eis que surge uma ou outra notícia que, devido ao caricato do relatado, faz sorrir ou mesmo rir com vontade.
Na edição de hoje, logo na primeira página, um título a negrito destacava-se dos restantes: anunciava o repórter que o jogo amigável entre a Académica e o Feirense tinha terminado aos 80 minutos devido a uma estalada dada por um jogador da equipa visitante ao da Briosa.
Ao ler o sucedido não pude deixar de rir com gosto. O sentido de humor colocado na descrição do episódio e a imagem demonstrativa do sururu contribuíram para dar asas à imaginação: De imediato, consegui imaginar o ar atarantado de quem levou o tabefe e a estupefacção de quem assistia ao jogo.
E era um jogo amigável!
Ora se não o fosse...

domingo, 5 de setembro de 2010

Setembro

De todos os meses do ano, Setembro é o que mais me enternece: raiado de amarelos acastanhados e vermelhos alaranjados, embriaga-se com os vapores das uvas vindimadas e, estonteado pelo néctar dos deuses, aconchega-se na Natureza para um descanso reparador.
Setembro dos dias solarengos, do cheiro a terra seca, após as primeiras chuvadas passageiras, da brisa morna que se solta no espaço e nos abraça, acarinha e afaga, despedindo-se do Verão.
Setembro da minha meninice, das férias grandes, vivências adocicadas, dos aromas e dos sentires, embala-me nos teus braços, enfeitiça-me com os teus encantos, adormece-me na tranquilidade que brota de ti.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ao acaso

Escrevo!
E no acto assumido, desvirgino a alvura do ecrã, emprenhando-o de palavras geradas na fecundidade do pensamento.
Escrevo, em palavras pensadas, silêncios de mim!
Abro-me, desvendando ecos interiores.
Esculpo-me em palavras,
Dou-me!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Os Mega

Depois de reler o assunto explanado no post de ontem, resolvi proceder a algumas modificações, pois a ideia que pretendia transmitir ficou-se muito aquém do desejado(há alturas em que isso acontece). Assim, relendo o que escrevera, decidi alterar, acrescentar, suprimir, ideias transformadas em frases, de modo a que a ideia que formei sobre esta última medida do nosso mui iluminado Ministério da Educação ficasse bem explícita para todos os que fazem deste meu cantinho um ponto de paragem e leitura: a formação dos Mega-Agrupamentos.
Já de si a palavra pressupõe algo gigantesco, porque um mega, qualquer que seja o contexto em que se insira ou refira, mete sempre respeito, quanto mais não seja pela associação do significado/significante que o signo linguístico transmite.
Pela perspectiva do ambiente deste primeiro dia, as partes parecem ainda não terem conseguido alcançar o todo coeso, coerente, faltando acertar, limar aspectos simples, mas tão necessários a um bom arranque de mais um ano lectivo que agora se inicia.
Geralmente( a maturidade aliada à experiência de vida já o mostraram) tudo o que nasce de partos anti naturais, impostos, com objectivos meramente economicistas nunca resultou bem.
Com tantos megas, esperemos, desejamos, para o bem de todos e principalmente dos alunos, que os percalços, a existir nesta nova experiência ministerial, sejam apenas micros!
Nem sempre grandeza é sinónimo de bom desempenho!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Recomeçar

Na vida, a sucessão ininterrupta de ciclos que se renovam e refazem num vaivém do tempo, é uma constante.
O carácter cíclico da vida não deverá contudo ser entendido como mera repetição do passado. Se repetição houver ela reside no factor temporal em que os acontecimentos ocorrem, quanto ao resto tudo é diferente. Claro que há momentos em que as diferenças são menores, mais ténues, quase imperceptíveis, mal se dando por elas, criando a ilusão óptica de que nada se alterou.
A renovação anual das cerimónias cíclicas da vida implica, quase sempre, o começo de outras, de novas, de diferentes etapas, muitas delas decisivas nos percursos a traçar para o ciclo que começa.
Amanhã, ou melhor hoje, reinicia-se um ciclo que se repete há já bastantes anos. Aparentemente nada de novo: os mesmos rituais já decorados pela repetição de gestos automáticos.
Aparentemente tudo recomeça com os mesmos rituais de há um ano, dois, todos os que ficaram para trás e que deram início a um novo calendário escolar. Quanto muito pequenas nuances, mas a peça é a mesma, o enredo pouco se alterou e o final terminará sempre com um”The End”.
Aparentemente e só mesmo aparentemente….
Este ano, por uma conjugação de vários factores, intrínsecos e extrínsecos aos actores, e inexistentes em anos anteriores, nunca o carácter cíclico se diluiu tanto, dando lugar à expectativa dos próximos tempos.
No final o “The End” continuará a aparecer, independentemente dos enredos, das tramas a urdir.
Resta esperar, sempre com o espírito desperto e aberto para as mudanças que se aguardam.
Para o bem de todos que seja um de “The End” sereno, tranquilo, feliz e, que no final do percurso, se alcancem "megas", não dos obrigatórios,não dos institucionais,não dos nascidos de partos políticos e baseados em permissas economicistas, mas antes dos conquistados pela força da entrega, do trabalho, do esforço e do interesse de todos os que trabalham e vêem a Escola como um investimento no futuro, com vista ao objectivo primordial de quem se empenha no seu estudo: o sucesso efectivo, real que terá de passar pela entrega, pelo estudo, pela atenção, pelo querer de todos os intervenientes e principalmente dos alunos que são o Futuro deste país!
Neste e só neste contexto ergo a minha voz e digo com toda a convicção " Viva a Mega Escola"!

domingo, 22 de agosto de 2010

Frutificação

Desde a publicação do meu último post que já decorreu quase uma semana.
Uma semana de olhar insistentemente para tantas "Amoras"! Não é que não as ache deliciosas, principalmente se se converterem em doce, mas confesso que o excesso daquele fruto silvestre já me enjoa.
Quase uma semana, cerca de sete dias sucessivos de pausas, silêncios, de vazios de pensamento!
Umas férias da e na inspiração!
Tal como na vida, também na escrita ocorrem momentos de recolhimento, de pausa, de descanso necessários. São momentos excelentes para "podar" as ideias. E com o tempo a imaginação e a inspiração frutificarão!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As Amoras

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.


Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")

domingo, 15 de agosto de 2010

Ritual Cíclico ou Mais do Mesmo

Num ritual de carácter cíclico iniciou-se hoje mais uma época de futebol, Liga Zon Sagres 2010 / 2011.
Entre outras oito equipas, estreou-se a do meu Sporting que se deslocou a Paços de Ferreira para aí disputar o 1º jogo do calendário, infelizmente perdido.
Equipa “nova”, treinador novo, os mesmos dirigentes e acima de tudo a massa associativa e os adeptos, gente anónima que vibra com o verde da esperança, que nos distingue, e depositam nela a expectativa de um melhor desempenho e resultados favoráveis para a equipa que elegeram, no coração e na alma, como a sua!
Neste início de temporada, o desejo que o campeonato seja pautado por uma ética e uma conduta desportivas baseadas no respeito e fair play entre todos os intervenientes.
Que vença o melhor e que esse melhor se projecte em tons de verde!

sábado, 14 de agosto de 2010

Continuação...

Numa das minhas inúmeras navegações pela Net aportei num lugar aprazível, um arquipélago de informação, constituído por inúmeras ilhotas do saber.
Numa dessas ilhas deparei-me com uma proposta de desafio que me pareceu bastante aliciante sob várias perspectivas e decidi aceitá-la. Era um desafio relacionado com a escrita e a sua participação proporcionou-me agradáveis momentos de criação.
Apesar de à partida me ter mentalizado de que não iria alcançar o objectivo primordial, a tarefa que era proposta deu-me um imenso gozo interior realizá-la: foi como se, perante as desordenadas peças de um puzzle, me visse obrigada a dares-lhe forma, encaixando cada peça na sua correspondente de modo a produzir uma sequência, um esboço inacabado, pronto a ser retomado por mentes alheias. Mas o mais pitoresco deste puzzle é que a responsabilidade da construção e da escolha das peças a utilizar, de modo a moldarem-se umas nas outras, era exclusivamente minha. Bastaria ter encaixado as peças de um outro modo e o desenho final surgiria com outros contornos!
Gostei do desafio e porque sou uma pessoa persistente, decidi voltar a participar, pelo simples prazer que me proporciona o exercício da escrita aliado à imaginação.
Como diz o dito popular" Não há duas sem três."
Nunca se sabe!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Outros filmes

Cada ser humano, no tempo que lhe é concedido para o crescimento integral como pessoa, desempenha um papel no seu filme de vida, diferente de todos os outros filmes existentes e que não são mais do que curtas ou longas metragens de histórias individuais de vida. Por vezes quer actores quer figurantes acabam por participar em diferentes filmes ao mesmo tempo, alternando de papeis e contribuindo para o sucesso da história com graus de importância diferentes.
Estudar o papel que nos é atribuído, encarnar a personagem que nos foi destinada implica uma constante observação, atenção e muito conhecimento de si próprio. E são todas estas exigências que contribuem para o contínuo crescimento do ser humano. O crescimento interior que o acompanha até ao partir da fita, completamente distinto do físico. Um crescimento onde as constatações visíveis que o testemunham não existem, pelo menos no momento imediato.
O crescimento de que vos falo é aquele que leva o ser humano a percepcionar o mundo que o rodeia com um outro olhar, que o faz perspectivar as múltiplas vivências por que passa de uma outra maneira. É um crescimento que matura o espírito e advém sempre que o Homem for capaz de interpretar, " à la lettre", as legendas do filme da vida.
Às vezes não é fácil: confunde-se o sentido, baralha-se a ideia, erra-se a tradução. Outras vezes nem sequer se conseguem ler as legendas de tão rápido que passam e ficam apenas vagas ideias das imagens observadas. Mas o maior problema é quando, no decorrer desse filme e sem se esperar, o realizador resolve proceder a alterações no enredo, mudar as personagens, modificar os diálogos: a confusão total!
Nesta situação como fazer? O que fazer? Quando fazer?
Não existem respostas definidas e prontas a servir. Cada ser humano deverá descobrir, em si próprio, as respostas adequadas ao seu filme.
Dúvidas? Medos? Indecisões?
Inevitável! Indispensável para quebrar a monotonia monocórdica do enredo.
E uma certeza (pelo menos uma): independentemente do desempenho dos actores, o filme prossegue, a bobine continua o seu movimento rotativo enquanto a fita vai projectando, no ecrã, cada uma das imagens em si aprisionadas.
E haverá alguém que não aspire, como corolário da sua carreira na sétima arte da vida, à estatueta dourada?
And the winner is...
 Cada um de nós!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os larápios roedores II

Da janela, observava a cena atentamente, apercebendo-me que a presença destes dois “larápios” roedores fizera com que o meu pensamento destrancasse a arca da memória e despertasse lembranças adormecidas que se soltaram em imagens amarelecidas pelos anos.
Parada na quietude da madrugada e debruçada no parapeito da janela do tempo, a viagem ao passado levou-me à minha secundária (na época liceu) e relembrei a cena da chegada ao moinho e as primeiras impressões, tão bem descritas por Alphonse Daudet, no primeiro capítulo do livro “Lettres de Mon Moulin”, leitura obrigatória na disciplina de Francês.
O escritor, referindo-se ao que encontrara no interior do seu moinho descreve o primeiro contacto entre ele e os seus amigos: « Ce sont les lapins qui ont été étonnés !... Depuis si longtemps qu'ils voyaient la porte du moulin fermée, les murs et la plate-forme envahis par les herbes, ils avaient fini par croire que la race des meuniers était éteinte, et, trouvant la place bonne, ils en avaient fait quelque chose comme un quartier général, un centre d'opérations stratégiques : le moulin de Jemmapes des lapins... La nuit de mon arrivée, il y en avait bien, sans mentir, une vingtaine assis en rond sur la plate-forme, en train de se chauffer les pattes à un rayon de lune... Le temps d'entrouvrir une lucarne, frrt !voilà le bivouac en déroute, et tous ces petits derrières blancs qui détalent, la queue en l'air, dans le fourré.
J'espère bien qu'ils reviendront. »
Embalada nas asas da recordação apercebi-me, com admiração, de como, durante tantos anos, retivera, num canto escondido da memória, a vaga lembrança deste episódio, lido há muito tempo atrás, mas que por um qualquer motivo não esquecera.
E tal como Alphonse Daudet o desejou há dois séculos atrás, também eu, nessa madrugada, desejei que eles aparecessem de novo!
Assustados pelo roncar de um carro, embrenharam-se no meio da vegetação.
Desapareceram!
Refrescada pela junção da brisa da madrugada com a da lembrança, deslizei por entre os lençóis.
Adormeci!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Os larápios roedores I

Numa destas noites de intenso calor e temperaturas elevadíssimas, o sono sobressaltado, pelo desconforto sufocante do ambiente interior, levou-me a procurar, na janela completamente aberta, um pouco de "frescura" que amenizasse o ar abafado que se instalara.
Ao mesmo tempo que saboreava a brisa suave que fluía, olhava distraidamente para o escuro da paisagem, de mente vazia, apenas deixando que o corpo fosse invadido pela sensação de frescura .
De repente, o meu olhar foi desperto por um movimento rápido e ligeiro, quase imperceptível. Focalizando o local onde detectara a acção, descobri por entre as giestas, quase secas, o recorte de uma figura escura, pequena, mas muito ligeira nos avanços e recuos com que explorava o território. De orelhas sempre espetadas, vigiava, atento aos mínimos sinais que pudessem indiciar a existência de perigo, as movimentações em seu redor. Por entre a vegetação seca e amarelada, corria e parava, à procura de alimento e sempre de orelhitas espetadas, olhando para todos os lados. Sim, era um coelhito bravo, traquina que, numa cumplicidade com a madrugada, lutava pela sua sobrevivência, com o instinto sempre alerta.
Imóvel, sustive a respiração, receando que o mais pequeno ruído provocasse a fuga do solitário roedor (pensava eu).
 Eis que, de súbito, ainda mais célere que o “batedor”, surgiu uma segunda figura, mais pequena, mais nervosa nos movimentos, mas também de orelhas espetadas num vaivém instintivo de quem busca mantimentos. Afinal eram dois coelhos que, na calada da madrugada e encobertos pelo silêncio da noite, procuravam ervas frescas para se refrescarem do calor insuportável que assolara o dia.
(continua)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Relatividade Cultural I

A Mesquita de Lisboa é uma construção imponente mesmo no coração de uma das zonas nobres de Lisboa, situada em frente à escola básica 2º e 3º Ciclos da Marquesa da Alorna, (que saudade!!!).
A parte exterior do edifício sobressai das construções circundantes pela estrutura arquitectónica que a compõe e pelos “arabescos”, inscrições bem visíveis no frontal da entrada, em árabe.
Transposto o limite que separa o sagrado do profano, o puro do impuro, o visitante depara-se com um ambiente calmo, silencioso, pleno de tranquilidade, características necessárias para quem encontra naquele espaço as condições ideais destinadas ao exercício espiritual, reencontro interior do ser com o Criador.
O ser-se “estrangeiro” em território “inimigo” não implicou a não-aceitação, pelo contrário, sugerida a hipótese de uma visita às várias dependências que compunham o edifício, esta foi, imediatamente, permitida com toda a simpatia e disponibilidade por parte de quem se encarregava, entre outras coisas, das relações públicas do local do culto.
Com uma postura simples, mas ao mesmo tempo assertiva, informaram-nos de que poderíamos entrar na sala destinada à práctica do culto  sob duas condições: 1ª, teríamos de nos descalçar, 2ª, porque pertencíamos ao sexo feminino, seríamos obrigadas a ocultar o cabelo.
Aceitámos as regras estipuladas e preparámo-nos. A visita ia começar.
(continua)

Relatividade Cultural II

De lenços na cabeça (passavam a vida a escorregar e era mais o tempo em que se via o cabelo do que o que estava tapado) e descalças pudemos, enfim,  transpor o acesso que nos conduziu ao local sagrado.
Lá dentro imperava o silêncio e a paz, a hora e o dia não eram de muita afluência. Deliciámo-nos com a decoração do interior, com a disposição dos símbolos religiosos no espaço. Uma sala enorme, alta, decorada com uma extensa tapeçaria que cobria todo o chão, no tecto,  um grande lustre e rodeando a sala rectangular, umas inscrições alusivas a excertos do Alcorão com a respectiva tradução em português.
Numa sala contígua, o local de purificação do corpo feito através de abluções que seguem um ritual tão antigo como o início do Islamismo. Aí dois jovens tratavam dos procedimentos necessários para poderem ser considerados dignos de se dirigirem em oração ao seu deus, Alá.
Como todas as mesquitas, o interior estava enfeitado com formas geométricas sendo total a ausência de formas humanas, nem de cenas representativas de episódios do livro sagrado, apenas e só arabescos e desenhos geométricos.
Já à saída fomos interpeladas por um muçulmano, idoso, que travou diálogo connosco, movido pela curiosidade do que nos levara ali.
Após uns bons minutos de amena conversa, numa troca de impressões sobre o Islamismo versus Cristianismo, o ancião, guardador do templo, ao saber da profissão que eu exercia, não conseguiu deixar de rematar o diálogo proferindo com ar sério:” para se ensinar o islamismo é preciso sabê-lo, caso contrário arrisca-se a dar uma informação errada".
Quando lhe respondi  que, em relação ao assunto, apenas se ensinavam os princípios básicos dessa religião, o semblante serenou e despediu-se tranquilo.
A visita a este espaço, por breves momentos, originou uma intersecção cultural e inseriu-se no que em Antropologia se chama a “relatividade cultural”.
Que ambas as partes a saibam aceitar e respeitar!

domingo, 8 de agosto de 2010

Impressões II

Sem dúvida que sair da "província" e descer, em passeio, até à capital sabe bem, faz bem, é necessário:  alarga -se o conhecimento, renova-se o saber,enriquece-se o espírito, renasce-se!
Mas, após uns dias de "banho cultural", a saudade da pacatez ronceira da terra, que se fez nossa, começa a invadir cada bocadinho do ser e a vontade em regressar torna-se uma necessidade.
A capital permite uma abertura de espírito, uma visão diferente, um manancial de experiências sem igual, mas a "província", por outro lado, oferece vivências quotidianas mais calmas, com tempo para o tempo, onde os rostos ainda têm nomes e os nomes concretizam-se em acções, sentimentos, emoções, afectos, características que, nas grandes cidades, já quase foram esquecidas, senão mesmo perdidas. 
São as belas sem senão do século XXI!
É bom regressar ao aconchego reconfortante da província!

sábado, 7 de agosto de 2010

Quinta da Regaleira


Termino esta série de publicações, subordinadas ao mesmo assunto, com a referência a um dos locais que mais me fascinou e impressionou na visita que fiz à Quinta da Regaleira: refiro-me ao extenso parque que rodeia os edifícios da quinta.
A área ajardinada apresenta-se repleta de lugares imbuídos de magia e mistério. O traçado do jardim foi concretizado de modo a simbolizar o cosmos. Aliás todo ele é uma simbologia constante: o poço iniciático, as grutas, os subterrâneos, os corredores, simbolizam um mundo inferior que qualquer ser teria de percorrer para poder ascender ao paraíso, o exterior.


A entrada nesse mundo subterrâneo é feita através do poço iniciático que não é mais que uma torre invertida que se afunda cerca de 27 metros no interior da terra, por uma escadaria em espiral, remetendo todo o conjunto para rituais e simbologia maçónicos, herméticos e alquímicos.
Sem dúvida a procura da harmonia na relação entre a Terra e o Céu.
Recomendo, como um dos locais a visitar, pelo fascínio que transmite, pela beleza contagiante, pela tranquilidade envolvente.
Vista do poço do interior para o exterior

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Perspectiva histórica

As primeiras referências ao local, que é hoje a Quinta da Regaleira, datam do século XVII. Entre os anos de 1697 e 1817, muda várias vezes de proprietário e passa a designar-se por Quinta da Torre.
Em 1840 a baronesa da Regaleira adquire o espaço, composto por palacete, capela e jardim, como refúgio estival. Desde então passa a ser denominada de Quinta da Torre da Regaleira.
Nos finais do século XIX é vendida em haste pública e rematada por António Augusto de Carvalho Monteiro que lhe junta outras parcelas de terreno, tomando a forma actual.
Entre 1895 e 1911, a quinta é alvo de várias intervenções com o intuito de reformular e embelezar os interiores e construir o parque envolvente, sob a tutela do arquitecto-cenógrafo italiano Luigi Manini.
Em 1946 é comprada por Waldemar Jara d’Orey e permanece na família até ser vendida à empresa japonesa Aoki Corporation em 1987.
Finalmente em 1997, a Câmara Municipal de Sintra adquire a propriedade que passa a ser gerida, um ano depois, pela Fundação Cultursintra com o intuito de recuperar o património.
Em 27 de Junho de 1998, a Quinta da Regaleira abre ao público quer em visitas guiadas quer em visitas livres e constitui "um dos mais surpreendentes e enigmáticos monumentos da Paisagem Cultural de Sintra, situado no elegante percurso que ligava o Paço Real ao Palácio e Campo de Seteias."

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A rota do romantismo

A surpresa pelas maravilhas naturais desta localidade ganha outros contornos se aliarmos ao gosto pela descoberta o benefício que advém do contacto estrito com a Natureza. Em comunhão com a paisagem circundante, o visitante é envolvido pela fragrância da beleza natural com que a Serra o presenteia, como se esta o chamasse para lhe desvendar locais enigmáticos, de rara formosura, qual obra-prima da Natureza, carregados de um passado rico em acontecimentos mundanos e sociais.
O percurso pela “rota do romantismo” deverá ser feito a pé, por entre a estrada antiga, que serpenteia a serra. Entre curvas e contracurvas, repletas das mais variadíssimas espécies de árvores, sobressaem diferentes tonalidades de verde, num quadro policromático. As copas largas, frondosas, de uma densa vegetação, oferecem sombras apetecíveis para quem ousa percorrer, a pé, os caminhos que conduzem a locais paradisíacos, despercebidos a olhares menos atentos.
Continuando na senda do percurso romântico, a pouco mais que uns quinhentos metros da vila, incrustada na paisagem da encosta, é-se surpreendido por um conjunto paisagístico que constitui uma das mais belas e enigmáticas quintas que rodeiam a vila: a quinta da Regaleira. Um espaço de uma subtileza sem igual, a quinta, hoje património da Câmara Municipal, constitui um ex-líbris da região. O visitante é surpreendido pelo magnífico conjunto que a constitui, misto de natural com muita intervenção humana. A quinta na sua concepção foi, toda ela, pensada aos mais ínfimos pormenores, nada tendo sido descurado pelos mentores de tão audacioso projecto.
A Regaleira pode-se considerar um hino à Natureza, uma homenagem ao Romantismo de quem intuiu a importância subtil dos pequenos grandes pormenores que marcam a diferença do resto banal e déjà-vu.
Vale a pena incluir este espaço proporcionador de êxtase afectivo, inundado de calma, relaxe e muita tranquilidade em perfeita comunhão com a Natureza no roteiro turístico de umas próximas férias.
(continua)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sintra em imagens

No alto, à esquerda, o castelo dos mouros e, à direita, o palácio da Pena, em baixo a vila: O contraste entre o antigo e o novo.

As construções apalaçadas são realçadas pela exuberância da paisagem natural
Espectáculo de cor e harmonia, a encosta do castelo sobranceira ao sopé da vila
Ao longe, por entre a vegetação e o casario, o palácio da vila destaca-se na sua construção imponente.
Ao longe, lá no alto, o castelo dos mouros, sobranceiro à vila que se estende a seus pés. O antigo e o novo convivem num só espaço.

Sintra, a exuberância da Natureza


Nestas férias, um dos locais de passagem obrigatória foi a formosa vila de Sintra. A decisão de incluir a vila nos locais a visitar prendeu-se com um saudosismo, próprio da idade , de quem quis relembrar momentos de juventude, para sempre gravados na memória das emoções e dos afectos.
Revisitar Sintra é sempre recuar no tempo, numa viagem ao coração do Romantismo; é (re) descobrir locais magníficos e sumptuosos, repletos de cor e beleza; é ser-se surpreendido em cada recanto e curva pela exuberância que caracteriza todo o conjunto paisagístico onde a vila se implanta. É relembrar, com surpresa, que os cheiros, os sons, os silêncios da Natureza continuam entranhados nas memórias de momentos passados, jamais esquecidos!
Sintra, de Eça, que com a arte da escrita tão bem descreveu o que a Natureza fez brotar espontaneamente. Sintra, cenário de Carlos da Maia, de Ega e de um mistério por desvendar.
Sintra, testemunha silenciosa de tramas e enredos, amores e ódios.
Escondidas por entre o emaranhado da vegetação, as quintas e os palácios veraneiam o castelo altivo e sobranceiro que, no cume do monte, continua a vigiar a paisagem esplendorosa que se estende a seus pés.
Sintra é um hino à beleza, à paz, à harmonia: confluência, por excelência, entre a Natureza e o homem, entre a sabedoria e o sonho, entre a naturalidade espontânea e a força do querer.
Sintra local obrigatório a (re)visitar, sempre!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Descentralização(?!)

É sobejamente sabido que a capital está servida de infra-estruturas e serviços que possibilitam uma oferta cultural diferente da do resto do país.
Assim não é de estranhar a atracção e o fascínio que Lisboa exerce em todos os que procuram pólos culturais, catalisadores de conhecimentos e momentos nas mais variadíssimas áreas do saber e do lazer.
Lisboa e arredores concentram em si uma variadíssima gama de ofertas culturais, educativas e lúdicas, que apenas beneficia quem vive na grande metrópole ou quem tem hipótese de a ela se deslocar. O resto da população continua a sentir-se isolada culturalmente e a ser tratada como português de segunda.
A tão discutida descentralização parece não passar de teoria. Se dúvidas houver, perguntem a quem vive fora da capital o que pensa e o que sente sobre o assunto.
Como se questiona a minha filha (com ar desolado):”Oh mãe, mas porque é que tudo o que acontece é sempre em Lisboa?”
Resta pôr em prática o ditado que diz: "Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha ".
E viva a capital!